2007/10/30

Escrever para comunicar

Já atingi a idade que me outorga a qualidade de sexagenário. Parece-me impossível, mas deve ser verdade, a avaliar pela data de nascimento que consta do meu Bilhete de Identidade.
Talvez por me ter tornado radioamador em 1980 e porque sou um observador impenitente, desde que me conheço que me esforço, com entusiasmo, por acompanhar a evolução das novas tecnologias, sempre que possível, fazendo as minhas próprias experiências. É certo que começo a sentir que cada dia que passa vou perdendo o ritmo necessário para acompanhar a velocidade estonteante com que estas ditas TI´s evoluem, em acrobacias quase esotéricas.
Vem tudo isto a propósito dum artigo de opinião, ou talvez não só por isso, em que o “micro-empresário” Paulo Marques escreve no “Jornal de Leiria” de 2 de Agosto de 2007: “Se escrever é um acto íntimo de cada um, então por que é que as pessoas mostram aos outros?”. Li este artigo de fio a pavio e engracei com o estilo.
É que me sinto nitidamente enquadrado nesse papel, a escrever “só porque sim”… e pronto! Claro que se conseguir prestar o meu contributo para a sensibilização dos problemas sociais que nos poderão afligir, tanto melhor. Reconheço, no entanto, que para se poder chegar às pessoas pela escrita, é preciso imprimir o estilo literário mais apropriado, no meu caso talvez mais sofisticado, mais “trabalhado”. Paciência. É assim e pronto!
Já ando a escrever umas coisitas na Internet e na imprensa há muitos anos. Na Internet, pelo menos desde 1998. Duma forma intermitente, algumas publicadas, outras não, outras nem por isso. Nem por isso? Pois, aquelas coisas que vamos “postando” nos “blogs”. Postar? Bloggar? Cá por mim, já comecei a aportuguesar estas expressões: postando, blogue. Como devem estar a perceber ando por aí, pelos blogues. Mas não sou dos que pensam que a informação/notícia escrita em papel vai passar rapidamente à História. Haverá lá forma de substituir os jornais e livros em papel sem que isso não nos venha a afectar psicologicamente? Afinal, o Homem não é nenhuma máquina sem sentidos. Dos quais não poderemos nunca prescindir: gostar, olhar, cheirar, tocar, ouvir…Já alguém nos demonstrou que aquilo que vemos no computador se pode cheirar e tocar?
Isto mesmo antes de referir um aspecto que é do desconhecimento da maior parte das pessoas. Os radioamadores terão sido os primeiros utilizadores/experimentadores da troca de mensagens digitais duma forma mais ou menos organizada a nível mundial. Os sinais binários eram emitidos e recebidos via rádio, modelados/demodelados através de computadores (desde os tempos dos micro 48k com cassetes de bobine magnética, passando pelos 8088 e por aí fora), nas bandas de amador. A questão é que se começar aqui a falar de RTTY, SSTV, “Packet-radio”, SSB, Nodes, etc. muito poucas pessoas entenderão do que se estará a falar. Tudo isto aconteceu antes do advento da Internet de utilização popular.
E pronto, era só esta gatafunhada que vos queria aqui mostrar. Claro, aproveitei o ensejo para falar do hobby da minha vida e de mais alguns milhares a nível nacional, o radioamadorismo, de cujas performances me servi, durante mais de 25 anos a esta parte, para contactar em fonia e por escrito (em papel e por via digital) milhares de correspondentes em todo o Mundo. É que nós, os sexagenários – particularizando os que ainda por cima são radioamadores, internautas e com ganas de escritores - já não iremos durar muito mais tempo, como é natural!…E mais. Podemos gabar-nos de sermos a geração do pontapé de saída das novas Tecnologias. Para o bem e para o mal. Espero bem que os nossos continuadores acabem por conseguir que essa ferramenta e/ou arma vital possa vir a ser utilizada em defesa da qualidade de vida da Humanidade.

(António Nunes - Publicado no "Jornal de Leiria" em Agosto de 2007) - A foto não consta do texto publicado, mas como podia eu falar em formas de comunicar sem fazer referência à fotografia, uma das minhas formas preferidas? Estávamos em meados de Setembro de 2007, o rio Lis aí seguia, espelhando as margens enamoradas pelo seu correr de mansinho em direcção ao mar, a pouco mais de 20 km, a Oeste...

7 comentários:

eddy disse...

O acto de escrever é, quanto a mim, um acto social, demasiado social. É interessante observar cada palavra escrita sobre um determinado papel (agora generalizado ao LCD), sobre uma pedra, sobre uma árvore, sobre a pele, etc. A simbólica deste mundo codificado é fascinante.
Sempre achei o hobby de radioamador um estranho mundo fantástico!

Um abraço raiano

Anónimo disse...

Escrever assim e não tranmitir aos outros essas ideias e esses sentimentos é que seria uma perda.Seja qual for o suporte da escrita é sempre através dele que os homens se conhecem e transmitem o que de belo dizem.Não deixes que as palavras te fujam e continua a divulgar e a transmitir o que de melhor a tua geração sabe.Um grande abraço

O Chaparro disse...

passei p desejar bom resto de semana. abraço

Alda M. Maia disse...

Um grande aplauso de mistura com um grande abraço para toda a Família.
Alda

A Professorinha disse...

Para mim escrever não é bem um acto íntimo, é mesmo um acto público... Eu escrevo algumas coisas para mim, e as outras, que quero partilhar, escrevo para mostrar.


Fica bem

Anónimo disse...

ASN,

Certamente algumas tarefas e lições somente podem ser ensinadas e aprendidas com o passar do tempo.

Entetanto, o tempo, como disse Berlioz, é o nosso melhor professor. Pena que mata seus alunos.

Cabe a cada ser humano saber aproveitar os meios possiveis e disponíveis para passar adiante as lições que julga necessarias para as outras pessoas.

Para mim, isso pode ter como plataforma de divulgação a existencia dos blogues.

O seu é um belo exemplo.

Abraços, Guilherme.

a d´almeida nunes disse...

Caríssimos amigos

Nãopodia deixar em branco este sítio de comentários ao actual post sem vos agradecer, do fundo do meu coração, as vossas palavras amigas e prenhes de incentivos.
Quero confessar-vos que a minha actividade profissional da maior parte da minha vida activa se relaciona com números (aliás, já o devo ter dito algures, noutra oportunidade...) mas isso não me tem inibido de, sempre que considere oportuno e para tal esteja orientado, escreva sobre o que me vai ocorrendo.
Sempre com a ideia de que poderei estar a apresentar algum tema ou opinião que seja de alguma utilidade. Nem que seja somente para olhar o Belo da Natureza, o princípio e o fim de todas as coisas. Sob a batuta de DEUS!...
Um grande e fraterno abraço.
António Nunes