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2012/07/27

Um pôr do sol à Florbela Espanca (?!)


Seguíamos, eu e a Zaida, de carro, Avenida das Comunidades (Leiria) abaixo, sem grande pressa, tínhamos encontro marcado com Florbela Espanca, na Nazaré, no Centro Cultural, uma conversa sobre a sua vida e a sua obra, os nossos amigos e companheiros de tantas tertúlias de poesia, o casal Soares Duarte, já lá estão, sempre na primeira fila, nestas ocasiões...

Sei que já me tornei maçador com esta mania da fotografia. Mas que hei-de fazer?! Foi Deus quem me fez assim, quando me afeiçoo a um hobby, são anos e anos de dedicação, diria mesmo de paixão!...

Ante que o Sol se escondesse atrás das nuvens, na direção do mar, parei o carro (em segurança, quatro piscas ligados) e guardei na minha Nikon D50 com objetiva Sigma 70-300 mm, este pôr do sol.
Mais um, dirão!
Único, digo eu!...

Já Florbela Espanca escrevia...
-
Sol poente


Tardinha... «Ave, Maria, Mãe de Deus ...»
E reza a voz dos sinos e das noras ...
O sol que morre tem clarões de auroras,
Águia que bate as asas pelos céus !


Horas que têm a cor dos olhos teus ...
Horas evocadoras de outras horas ...
Lembranças de fantásticas outroras,
De sonhos que não tenho e que eram meus !


Horas em que as saudades plas estradas
Inclinam as cabeças mart´rizadas
E ficam pensativas ... meditando ...


Morrem verbenas silenciosamente ...
E o rubro sol da tua boca ardente
Vai-me a pálida boca desfolhando ...

pp 107 «sonetos» de Florbela Espanca
Estudo Crítico de
José Régio
Ed. Livraria Bertrand, 1981
@as-nunes

2012/06/06

Lembranças de Florbela Espanca





                                 Lembrança

Fui Essa que nas ruas esmolou
E fui a que habitou Paços Reais;
No mármore de curvas ogivais
Fui Essa que as mãos pálidas pousou …

E tanto poeta em versos me cantou !
Fiei o linho à porta dos casais …
Fui descobrir a Índia e nunca mais
Voltei ! fui essa nau que não voltou …

Tenho o perfil moreno, lusitano,
E os olhos verdes, cor de verde Oceano,
Sereia que nasceu de navegantes …

Tudo em cinzentas brumas se dilui …
Ah ! quem me dera ser «Essas» que eu fui,
«As» que me lembro de ter sido … dantes ! …

Florbela Espanca

nota:
Estas ruas e travessas estão localizadas num espaço de poucas dezenas de metros. Alguém, naquela zona, apreciava ao extremo a poesia desta grande poetisa portuguesa!...
@as-nunes

2012/03/31

Olaias rubras em Leiria, digo, Cerejeira do Japão (errata em 31-3-2014)




A tempo:
Devo ressalvar a informação de que se trata de uma olaia; de facto, a Av. N. Sra. de Fátima, em Leiria, tem muitas olaias, mas esta é uma cerejeira do Japão e não uma Olaia. (11Abr2012)
Na Av. N. Sra. de Fátima, em Leiria, no dia 24 de Março de 2012.
Estas serão as flores de olaias, as mais lindas que eu já vi em dias da minha vida...


Horas Rubras

Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos rubros e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas…

Oiço olaias em flor às gargalhadas…
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p’las estradas…

Os meus lábios são brancos como lagos…
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras…

Sou chama e neve e branca e mist’riosa…
E sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!

(Soneto “Horas Rubras”, Florbela Espanca. 
In: Livro de Sóror Saudade. 
Edição da autora, 1923, p. 196. 
@as-nunes