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2012/04/29

Ao findar de Abril: "Poesia onde estás?"



Autocrítica do poeta (*)

É tão fácil dizer que saem dos olhos das mulheres andorinhas verdes
ou chamar à lua a caveira voada da flâmula dum navio pirata!

Mas a outra poesia - onde está?

A poesia que transforma de repente a música em lâmina
para romper a noite até à solidão dos archotes
que escurecem mais e mais
este abismo absurdo
sem astros de céu vivo
onde as pedras apodrecem
e as andorinhas verdes não saem dos olhos das mulheres?

Mas a outra poesia - onde está?

Esta esperança convicta
de teimar na certeza do nada
com explicações de papoilas
e esqueletos a abraçarem-se
no amor final já sem sentido de bandeiras?

Sim. Onde está?

Que palavras abre
para além da luz secreta
que os dedos dos mortos acendem no perfume das flores?

Sim. Onde estás?

- Poesia de rasgar pedras.
Poesia da solidão vencida.
Poesia das pombas assassinadas.
Poesia dos homens sem morte.

José Gomes Ferreira
Poesias III
Ed. Círculo de Leitores - 1971

(*) No original:
(Crítica à poesia das imagens aos cachos.
Como de costume, autocrítica.)
@as-nunes