2019/04/27

É noite e está dia



é noite e está dia

lá fora a noite está escura
cá dentro clara como a lua
porque se sente a amizade

há um amigo que nos abraça
e nos acena 
dizendo-nos coisas de pensar

o companheirismo é
sem dúvida uma dádiva
que nos é colocada
no coração
e nos faz mover
rumo ao indizível
porque nem é preciso
estarmos presentes

basta sabermos

o abraço
pode ser dito
e está dado

basta o tempo
nos demonstrar
que a amizade existe

não precisa de ser apregoada
mas faz bem sabermos dela

a d´almeida nunes
1h da manhã, 27-04-2019

2019/04/26

Moçambique terra de saudades, de emoções, de nostalgia dos anos 70


Para mais tarde memorar (ou não fosse este meu blogue, também o meu auxiliar de memória):



Às Belas e nostálgicas terras de MOÇAMBIQUE. 

Em tempos de aflição com os Ciclones terríveis com que os moçambicanos têm sido massacrados nestes últimos dias/semanas!
***


A minha filha INÊS, que nasceu em Moçambique, em 1969.

Apresentou-se:
Não me lembro dela, mas sinto um carinho especial por esta que é a terra que me viu nascer! Um dia hei de ir lá!

Eu comentei:
À minha filha Inês.
Tinha 22 anos e mobilizaram-me para a guerra em Moçambique. A tua mãe estava grávida de 7 meses quando partiu para Moçambique para viver a aventura do desconhecido. Ficaríamos em Lourenço Marques (hoje, Maputo)? Talvez... Não pudemos ficar mais que um mês. E lá fomos mandados para Nampula em aviões a hélice. Lembro-me de que se chamavam "Friendship" alguns desses aviões. Percorremos a África de Norte a Sul, de Oeste para Este; de Este Sul para Este Norte.Muitos milhares de kilómetros. Anos 60, 1969/71. Não te podes lembrar, não, mas chegámos a estar numa esplanada na Ilha de Moçambique e tu a comeres camarão. Tinhas menos de dois anos de vida. Estávamos com o cap. Trindade e ´avó`Gi ... os barcos à vela a chegarem à praia junto ao forte, os passageiros muçulmanos a virem às cavalitas para terra... o Oceano Índico, a Ilha cantada por Camões nos Lusíadas... 500 e tal km de picada de Nampula à Ilha... e volta. Seriam mais?

-----  COMENTÁRIOS NO Fmeu FB de hoje ----


Comentários

  • Rui Pascoal Quando pensar ir até lá avise.
    1
  • José Rocio Crespo Pois foram minutos, horas, dias, momentos, muitos momentos. Maus, bons, diferentes no dia todos dias. Conhecida a cidade e conhecido o interior do mato e capim, os dias vertiginosos eram lentos, muito lentos. Foi o passar agarrado aos pensamentos e expectativas do amanhã. Foi, foi tudo isso e muito mais. Mas estamos. Estamos não agarrados a um passado mas sempre com a presença desse passado. Abraço
    1
  • António DAlmeida Nunes Agarrados, sim, às vezes até às lágrimas, como bem deves saber, Zé. 🙂
  • Maria Padrão Palavras sentidas e com muita sabedoria de alguém que deixou uma parte de si naquelas terras , povos que os acolheram com todo o carinho. Como todos povos africanos sabem fazer. Felicidades António DAlmeida Nunes e Zaida Paiva NunesInes Paivapessoas lindas no seu ❤️❤️❤️ Sou grata por conhecer estas pessoas , lindas e de um grande ❤️ considero a minha Família do ❤️

2019/04/25

25 de Abril de 2019




Hoje
25 de Abril de 2019

Os melros mantêm-se de atalaia
chove em regime de aguaceiros
o vento que passa incerto
embala as nuvens
ora em tons mais sombrios
ora mais brilhantes e vistosas.


Uma papoila vermelha esfumada.

Os cravos vermelhos
no meu quintal
estão atrasados.


Mas a minha memória
mantém vivos e presentes
os tempos de extrema emoção
e de esperança infinita
no Movimento iniciado
em 25 de Abril de 1974.


Um caminho cheio de 
mudanças de linha!

a d´almeida nunes
25abr2019

2019/04/19

O homem gafanhoto


O homem gafanhoto
emocionalmente
não se cansa de invocar Deus
sem saber quem Ele é

Que sabes tu
homem de fé subconsciente
acaso já falaste com esse Deus?


Pensa um pouco
não foste tu que O inventaste
para justificar os teus medos?

Olha à tua volta
observa o que te envolve
repara bem nas coisas
tudo se move não vês?

Deus é o movimento
desde o interior do átomo
até ao infinito dos mundos


a d´almeida nunes
17Abr19

---
ps.: ah lembrei-me deste link https://dispersamente.blogspot.com/search?q=homem+gafanhoto (as coisas que nos passam pela cabeça e se nos postam à frente dos olhos; às vezes vemo-las como nós somos...) (publicado e apagado do meu FB-27-11-2020)

2019/04/17

São duas horas da madrugada




não sei bem 
o que pretendo
com estes ensaios
pretensiosamente poéticos
talvez

o que me está a motivar a escrever
neste preciso momento?

senti uma necessidade premente
de falar comigo
mesmo assim à janela do mundo

o que gostaria de dizer
antes de me deitar e dormir
seria tão só isto:

apeteceu-me escrever
e deixar este momento 
aqui afixado

qual instantâneo apalavrado
captado neste amontoado de palavras


(à falta duma fotografia)
a d´almeida nunes
17-07-2019





2019/04/15

Por terras do Bouro, Minho e Santiado de Compostela


Upload directo via blogger
Vale a pena ver em écran gigante


O que é viver senão
uma sucessão de momentos
quantas vezes imprevisíveis
mesmo que previstos
pela mente do homem?

Monção pedra e vinho
verde tinto tinto
rio Minho 
e Miño logo ali
na outra margem.

Recontramo-nos
nos passadiços de Sistelo
ao longo do rio Vez
águas correntes 
límpidas
por entre seixos de todos os tamanhos
sons em chilreante sinfonia 

pássaros pássaros. 

Terras do Bouro
abocanhadas pelas serras
e a imensidão alcantilada
estradas serpenteantes
nas alturas da Peneda
do Soajo, do Gerês

abismando-se até ao fundo
da Furna de Vilarinho
voltando a encabritar serra acima
para logo a seguir afunilar
rumo ao Gerês 
e à imensidão azul da sua Lagoa.

Depois
é subir subir
fragas com águas em queda livre
afundando-se lado a lado 
com a vegetação luxuriante 
da Portela do Homem.

Retoma-se o rumo Norte
via Braga Valença Vigo

a caminho de Santiago
de Compostela 

uma estrela
de fé e força hercúlea dos homens
gentes vindas de todo o lado.

Deambulatório desgastado pelos passos
de milhões de peregrinos 
que há séculos tocam em Santiago
em sinal de promessa cumprida.

Sentem-se os pés doridos na Terra
os olhos nas alturas das cúpulas
a tentar descobrir os mistérios
do Infinito...

O corpo dorido 
inclinado sobre o bordão...

12/3/4 Abr 2019
ZAPI(=) a d´almeida nunes


2019/04/10

Por vezes tento



por vezes tento


acompanhar o pensamento
tarefa insana já se vê

numa das paragens forçadas
fiquei a cismar
no depois da minha morte

o que fazer então
tenho-me perguntado
cada vez com mais insistência

começa a tomar forma
o que testamentarei
acerca do meu corpo

enterrarem-no no carvalhal 
não sinto que seja o melhor

que a transformação em pó
se faça com o fogo 

que os seus átomos voltem a ser luz


aDa
Leiria, 10abr19

2019/04/07

obrigado, amigo



a um amigo que vocês sabem

obrigado amigo
pelos teus poemas
por aquilo que escreves
e por aquilo que 
nos sugeres

por nos induzires
à reflexão
à ânsia de tentar perceber
que somos capazes de falar com Deus

Aquele 

quem quer que seja 
onde quer que esteja

basta sermos nós
tentarmos perceber
que afinal somos capazes
de ir muito mais além

basta sentirmos que estamos

a d´almeida nunes
7abr19

(um comentário no blog de Carlos Lopes Pires)

2019/04/06

As minhas queridas árvores de Leiria



as árvores de Leiria

tempo de olaias
e de freixos
há tanto tempo
que nos revemos
por esta altura
que nem sei se não estarei a perder a conta
mas é bom sentir este vosso olhar
minhas queridas árvores de Leiria
sei que não me esquecerão
enquanto eu for
seremos

aDa-2abr19

2019/04/05

aquele que não ouvirás mais : poesia de Carlos Lopes Pires 2019






Carlos Lopes Pires a dizer da sua poesia e do seu novo livro, o 26º.
No dia 23 de Março de 2019, no auditório do Moinho do Papel em Leiria.


Uma das excelentes gravuras de Fulvio Capurso insertas no livro de Carlos Lopes Pires


2019/03/31

Para a Graça e para o Sidónio


Em tempos de dor e luta no seio da família dos meus amigos Graça Sampaio e Sidónio Violante
(comentário que deixei no blog ´picosderoseirabrava` da Graça e que me permito transcrever aqui) 



Graça-Sidónio

O rumo de cada vida,
pensamos alguns de nós,
já está determinado
antes mesmo de ser.

Ainda bem que nós 
não temos o dom da antevisão.

Mesmo assim,
quando somos confrontados
com os momentos dolorosos
que nos tocam em todos os sentidos,
não há forma de fugirmos
à sensação terrível de impotência.

Ainda bem que temos,
apesar de tudo,
a força interior de aceitar,
em conformidade com a Lei Geral
e abstracta do Cosmos.

Ainda bem 
que também temos
os nossos amigos 
Presentes. 

Mesmo que pela mera corrente contínua do pensamento…


AntónioNunes
Leiria, 31-03-2019


ps.: 
O Sidónio morreu em paz hoje, soube poucas horas depois de ter escrito este texto.
Tinha 72 anos. Que repouse em Paz, como bem merece. Condolências sentidas
 à família.

2019/03/30

A pretexto da apresentação do 26º livro de poesia de Carlos Lopes Pires: «aquele que não ouvirás mais»


No decorrer dum jantar com muitos e bons amigos, em Leiria, a pretexto (há que arranjar sempre um pretexto para se juntar os amigos à volta duma mesa a comer, a beber e a conversar) do lançamento do 26º livro de Carlos Lopes Pires, foi-me dada a oportunidade de dizer umas coisas para que ficasse registado o momento, que era de convívio e regozijo por mais um livro que foi dado à estampa pelo autor.
(Li vários fragmentos deste texto, penso que a partir de "Assim"...)
---


Palmilhar a luz

De há uns tempos a esta parte, mais precisamente desde que nos conhecemos nos Serões Literários das Cortes, que tenho dado comigo a constatar que a poesia de Carlos Lopes Pires é, também para mim,  algo de transcendente, que nos transmite uma sensação complexa de simplicidade com que devemos encarar os vários aspectos e momentos da nossa vida.
Ao lermos os seus poemas somos transportados para uma dimensão que não julgava tão acessível ao comum dos mortais.
Quando se fala de Poesia poderemos, talvez, encará-la sob três aspectos:
1) O autor, acima de tudo, escreve, observando regras quase matemáticas de métrica e rima;
2) O objectivo do que se escreve é passar uma mensagem de eloquência e de cultura primorosa em todas as áreas do saber e do estar, na literatura inclusive;
3) Um poema não tem de obedecer a nenhuma forma específica nem abordar temas e questões concretas, explicitando ao leitor o que se julga que ele deverá interpretar da linha de pensamento do seu autor.
Parece-me cristalino que a poesia de Carlos Lopes Pires só pode ser enquadrada no ponto 3 anterior, ainda que ele não precise que lhe seja atribuído nenhum rótulo. A Poesia para Carlos Pires é precisamente aquilo que nos tem deixado ao longo dos anos, e, particularmente neste seu 26º livro publicado, “aquele que não ouvirás mais”.
Não quero nem me devo alongar nesta minha singela intervenção, mas não podia deixar de referir aqui e agora dois pormenores decisivos que poderão justificar o tempo que vos estou a tomar.
Assim:
Todos nós temos altos e baixos no entusiasmo como encaramos a leitura e apreciação do que se vai escrevendo na área da Poesia. Acontece até que frequentemente nos inquirimos sobre o que é de facto a Poesia de que tanto se fala ultimamente. A verdade é que muito se está a escrever a pretexto de que se trata de poesia e ficamos naquela indecisão de sabermos se a poesia é ou poderá via a ser, algum dia, enquadrável num formato dito literário. Devemos integrar a Poesia na Literatura, nos precisos termos em que tradicionalmente esta se entrincheira?
É dos compêndios académicos e da tradição clássica que a poesia é a mais antiga das formas literárias. No entanto não será a Poesia muito mais que uma forma por que a Literatura se manifesta? Não deveremos nós alargar a ideia de Poesia para além do mero uso da palavra com que se constroem textos literários?
-
Está à vista de quem me estiver a ouvir que eu não sou a pessoa indicada para dissecar esta temática.
Permitam-me, no entanto, evocar algumas reflexões que o nosso querido amigo e poeta Carlos Pires já deixou escritas e à nossa disposição.
Diz Carlos Pires num seu texto de 2017 acerca de Poesia, começando pelo título: «Poesia: a revelação iluminada.»
Prosseguindo: “A poesia diz o que não pode ser dito, revela o segredo e, embora este escape, a poesia  deixa no Mundo e no Outro a marca desse segredo e desse mistério.”
“Por ser um olhar de espanto iluminado ele é e traduz no poeta esse estado de encantamento, talvez de epifania ou simplesmente de revelação iluminada. É por isso que toda a poesia tende para o misticismo (ou religiosidade ou transcendência). Em grande medida creio que a poesia pode ser entendida como um diálogo, uma ligação com o Universo.”

Há que ler com atenção este texto.

Tenho que o dizer agora, não me considero um poeta na acepção tradicional/convencional do termo, mas estou a dar comigo a ensaiar a escrita de poesia – pretenciosamente, talvez – sentindo que a mensagem de Carlos Lopes Pires me está a cativar sobremaneira.
O seu estilo e forma de encarar o Homem/Natureza  integrado no todo Universal estão a conseguir ser, para mim, como que uma trave mestra do edifício poético que eu imagino.
Por isso mesmo já me habituei a admitir a sua dimensão de Mestre e a minha qualidade de mero discípulo aprendiz.

Era só isto que eu queria dizer, que me sinto como que a palmilhar a luz rumo ao indefinido e com a intenção de aproveitar os anos que me poderão restar de ser terrestre para continuar com os meus ensaios poéticos nas abertas do tempo e do espaço em que me for possível situar.

Obrigado, Carlos, pela Mensagem que nos estás a conseguir transmitir duma forma decidida e contundente sob o rótulo da complexa e aparente brevidade do teu discurso poético.

Leiria, Museu do Papel e/ou Casa do Zé Manuel (S. Romão), em 23 de Março de 2019
António dAlmeida Nunes