2019/04/06
2019/04/05
aquele que não ouvirás mais : poesia de Carlos Lopes Pires 2019
No dia 23 de Março de 2019, no auditório do Moinho do Papel em Leiria.
2019/03/31
Para a Graça e para o Sidónio
Em tempos de dor e luta no seio da família dos meus amigos Graça Sampaio e Sidónio Violante
(comentário que deixei no blog ´picosderoseirabrava` da Graça e que me permito transcrever aqui)
Graça-Sidónio
O rumo de cada vida,
pensamos alguns de nós,
já está determinado
antes mesmo de ser.
Ainda bem que nós
não temos o dom da antevisão.
Mesmo assim,
quando somos confrontados
com os momentos dolorosos
que nos tocam em todos os sentidos,
não há forma de fugirmos
à sensação terrível de impotência.
Ainda bem que temos,
apesar de tudo,
a força interior de aceitar,
em conformidade com a Lei Geral
e abstracta do Cosmos.
Ainda bem
que também temos
os nossos amigos
Presentes.
Mesmo que pela mera corrente contínua do pensamento…
AntónioNunes
Leiria, 31-03-2019
ps.:
O Sidónio morreu em paz hoje, soube poucas horas depois de ter escrito este texto.
Tinha 72 anos. Que repouse em Paz, como bem merece. Condolências sentidas
à família.
à família.
2019/03/30
A pretexto da apresentação do 26º livro de poesia de Carlos Lopes Pires: «aquele que não ouvirás mais»
No decorrer dum jantar com muitos e bons amigos, em Leiria, a pretexto (há que arranjar sempre um pretexto para se juntar os amigos à volta duma mesa a comer, a beber e a conversar) do lançamento do 26º livro de Carlos Lopes Pires, foi-me dada a oportunidade de dizer umas coisas para que ficasse registado o momento, que era de convívio e regozijo por mais um livro que foi dado à estampa pelo autor.
(Li vários fragmentos deste texto, penso que a partir de "Assim"...)
---
Palmilhar a luz
De há uns tempos a esta parte,
mais precisamente desde que nos conhecemos nos Serões Literários das Cortes,
que tenho dado comigo a constatar que a poesia de Carlos Lopes Pires é, também
para mim, algo de transcendente, que nos
transmite uma sensação complexa de simplicidade com que devemos encarar os
vários aspectos e momentos da nossa vida.
Ao lermos os seus poemas somos
transportados para uma dimensão que não julgava tão acessível ao comum dos
mortais.
Quando se fala de Poesia
poderemos, talvez, encará-la sob três aspectos:
1) O autor, acima de tudo,
escreve, observando regras quase matemáticas de métrica e rima;
2) O objectivo do que se
escreve é passar uma mensagem de eloquência e de cultura primorosa em todas as
áreas do saber e do estar, na literatura inclusive;
3) Um poema não tem de
obedecer a nenhuma forma específica nem abordar temas e questões concretas,
explicitando ao leitor o que se julga que ele deverá interpretar da linha de
pensamento do seu autor.
Parece-me cristalino que a
poesia de Carlos Lopes Pires só pode ser enquadrada no ponto 3 anterior, ainda
que ele não precise que lhe seja atribuído nenhum rótulo. A Poesia para Carlos
Pires é precisamente aquilo que nos tem deixado ao longo dos anos, e,
particularmente neste seu 26º livro publicado, “aquele que não ouvirás mais”.
Não quero nem me devo alongar
nesta minha singela intervenção, mas não podia deixar de referir aqui e agora
dois pormenores decisivos que poderão justificar o tempo que vos estou a tomar.
Assim:
Todos nós temos altos e baixos
no entusiasmo como encaramos a leitura e apreciação do que se vai escrevendo na
área da Poesia. Acontece até que frequentemente nos inquirimos sobre o que é de
facto a Poesia de que tanto se fala ultimamente. A verdade é que muito se está
a escrever a pretexto de que se trata de poesia e ficamos naquela indecisão de
sabermos se a poesia é ou poderá via a ser, algum dia, enquadrável num formato
dito literário. Devemos integrar a Poesia na Literatura, nos precisos termos em
que tradicionalmente esta se entrincheira?
É dos compêndios académicos e
da tradição clássica que a poesia é a mais antiga das formas literárias. No
entanto não será a Poesia muito mais que uma forma por que a Literatura se
manifesta? Não deveremos nós alargar a ideia de Poesia para além do mero uso da
palavra com que se constroem textos literários?
-
Está à vista de quem me
estiver a ouvir que eu não sou a pessoa indicada para dissecar esta temática.
Permitam-me, no entanto,
evocar algumas reflexões que o nosso querido amigo e poeta Carlos Pires já
deixou escritas e à nossa disposição.
Diz Carlos Pires num seu texto
de 2017 acerca de Poesia, começando pelo título: «Poesia: a revelação iluminada.»
Prosseguindo: “A poesia diz o
que não pode ser dito, revela o segredo e, embora este escape, a poesia deixa no Mundo e no Outro a marca desse
segredo e desse mistério.”
…
“Por ser um olhar de espanto
iluminado ele é e traduz no poeta esse estado de encantamento, talvez de
epifania ou simplesmente de revelação iluminada. É por isso que toda a poesia
tende para o misticismo (ou religiosidade ou transcendência). Em grande medida
creio que a poesia pode ser entendida como um diálogo, uma ligação com o
Universo.”
Há que ler com atenção este
texto.
Tenho que o dizer agora, não
me considero um poeta na acepção tradicional/convencional do termo, mas estou a
dar comigo a ensaiar a escrita de poesia – pretenciosamente, talvez – sentindo
que a mensagem de Carlos Lopes Pires me está a cativar sobremaneira.
O seu estilo e forma de
encarar o Homem/Natureza integrado no
todo Universal estão a conseguir ser, para mim, como que uma trave mestra do
edifício poético que eu imagino.
Por isso mesmo já me habituei
a admitir a sua dimensão de Mestre e a minha qualidade de mero discípulo
aprendiz.
Era só isto que eu queria
dizer, que me sinto como que a palmilhar a luz rumo ao indefinido e com a
intenção de aproveitar os anos que me poderão restar de ser terrestre para
continuar com os meus ensaios poéticos nas abertas do tempo e do espaço em que
me for possível situar.
Obrigado, Carlos, pela
Mensagem que nos estás a conseguir transmitir duma forma decidida e contundente
sob o rótulo da complexa e aparente brevidade do teu discurso poético.
Leiria, Museu do Papel e/ou
Casa do Zé Manuel (S. Romão), em 23 de Março de 2019
António dAlmeida Nunes
2019/03/29
quem seríamos nós
Enquanto o tempo voa
ao ritmo dos pássaros
ao sabor das ondas
[sob o olhar penetrante dos peixes
no movimento imperceptível
[da Areia Branca da praia
e na força incrível
[que advirá da fusão
[dos átomos da rocha
ao ritmo dos pássaros
ao sabor das ondas
[sob o olhar penetrante dos peixes
no movimento imperceptível
[da Areia Branca da praia
e na força incrível
[que advirá da fusão
[dos átomos da rocha
extasiamo-nos
até ao azul do horizonte
com o que conseguimos
ver
até ao azul do horizonte
com o que conseguimos
ver
quem seríamos nós
se víssemos para além
do que vemos ¿
se víssemos para além
do que vemos ¿
aDa-28mar19
Areia Branca-Lourinhã
(com o pensamento também na família Vasconcelos)
Areia Branca-Lourinhã
(com o pensamento também na família Vasconcelos)
2019/03/26
Tenho o privilégio supremo de ter um quintal que também é jardim
Em Julho de 2017 escrevi este poema, penso que para ser dito no decorrer do «Poetry Slam - Leiria» que se realizou cá em casa.
Não o encontrei publicado neste meu blogue, no verbete "Poesia(ensaios)".
-
Tenho o privilégio supremo
de ter um quintal
que também é jardim
nele vivemos com
muitas flores e árvores
envoltas em cheirinhos
de jasmim
flores de laranjeira
alecrim
risos de quatro gerações
e muitos pássaros
alguns que acabam
nas garras e dentes dos gatos
estes dias têm sido de pintassilgos
todos os anos fazem ninho
em sítios diferentes
ora no aloé grande
ora na fiteira a poente
só pode ser obra tua ó Deus
Deus queira que
aguentes tanta canseira
... para todo o sempre!...
Jul17
an
2019/03/23
Oração à luz ao rio e aos peixes
Oração à luz ao rio e aos
peixes
Ó água do rio
Tu que és movida
pela força da gravidade
e pelo movimento
dos peixes
Tu que digeres
toda a imundice que há
até mesmo os plásticos
imperecíveis
e de todas as origens
ainda que as mais nobres
Tu que tanto te esforças
com os peixes em alvoroço
por entre montes e
canaviais
Tu que és a casa mãe
de todos os pássaros
e de todos os peixes
mesmo os do mar
de toda a sabedoria enfim
Tu que és capaz de rolar
e esmerilar a pedra mais
dura
Faz com que:
da noite do obscurantismo
se faça dia
da sombra das tuas
profundezas
se faça luz
os peixes possam respirar
fora de ti
e assim consigam ouvir
as nossas pregações
Não há outra via
do mundo de todos os
mundos
ser salvo
Só assim
a luz nos poderá
Iluminar o caminho
que temos que palmilhar
seguindo o farol
dos ensinamentos vertidos
em todos os versículos
e outros textos
literários
do Grande Livro da Sabedoria
Assim seja para todo o
sempre
e até mesmo
depois de chegares ao Mar
Ó Rio-Mar
Leiria, no Museu do Papel
e no Zé-Pato
em 23 de Março de 2019
António dAlmeida Nunes
2019/03/16
O meu pai Daniel aos 95 anos feitos em 13 março de 2019
Olá meu pai
95 anos são passados
desde que chegaste (...)
àquela memorável e mítica
terra do Casal de Ribafeita
95 anos são passados
desde que chegaste (...)
àquela memorável e mítica
terra do Casal de Ribafeita
a casa da avó tua mãe
ficará para sempre
envolta naquela bruma
de saudade e nostalgia
que o tempo não dissipa
ficará para sempre
envolta naquela bruma
de saudade e nostalgia
que o tempo não dissipa
para sempre tu serás lembrado
recordas-te daqueles tempos
das nossas idas ao Casal
eu uma criança de olhos azuis
cabelo ligeiramente ondulado
ao jeito da mãe, talvez?
das nossas idas ao Casal
eu uma criança de olhos azuis
cabelo ligeiramente ondulado
ao jeito da mãe, talvez?
- ó Daniel é o teu filho?
- está crescido o rapaz!
- está crescido o rapaz!
tantas recordações:
aquela ida à Carvalha
pedras graníticas monumentais
a serra logo acima
aquela ida à Carvalha
pedras graníticas monumentais
a serra logo acima
e aquele ataque de vespas
na portela
zangadas por lhes tocarmos na oliveira?
tu a defenderes-me como se
estivéssemos a ser bombardeados
a II guerra ainda na mente
na portela
zangadas por lhes tocarmos na oliveira?
tu a defenderes-me como se
estivéssemos a ser bombardeados
a II guerra ainda na mente
e a rua central do seixo
no Porto
os montes caulinos ao longe
uma brancura esfumada no horizonte?
no Porto
os montes caulinos ao longe
uma brancura esfumada no horizonte?
e o instituto na rua de entreparedes
o exame de cálculo financeiro
o humanismo impagável do director
a fé da mãe ... ?
o exame de cálculo financeiro
o humanismo impagável do director
a fé da mãe ... ?
a Fundação Calouste Gulbenkian
e a avó Caria
que esperou pelo meu regresso
de Moçambique
para morrer?
que esperou pelo meu regresso
de Moçambique
para morrer?
os meus irmãos...
...
antónio d´almeida nunes
13 de março de 2019
13 de março de 2019
a tentar perceber
a tentar perceber
a razão de tanto movimento
de abelhas
no meu quintal
Deus lá se dignou
enviar-me um mensageiro-apicultor
invectivando-me
pela minha Santa ignorância:
- então tu meu safardana
septagenário do planeta Terra
ainda não sabes
que o tempo dos enxameamentos
é chegado?!
- ganha lá juízo
e trata-me bem desses deuses
imprescindíveis ao vosso sustento
abre-me esses olhos
respondi com um simples olhar para o azul
ada
13mar2019
2019/03/14
Primavera em 2019 ainda antes do calendário
A dificuldade de escolher e conciliar tanta fotografia com a poesia de Carlos Lopes Pires e a música de Pedro Jordão.
14-03-2019
após uma pequena sessão fotográfica num jardim dos Lourais - Leiria-Portugal numa tarde esplendorosa de luz, cor, sol....
2019/03/12
Começar com abelhas
Há dias assim
Acorda-se num limbo
De cores inquisidoras
Tendentes para tons cinza
Começa-se com abelhas
Sem se saber que o são
Fica-se logo com a ideia
Dum enxame de coisas
insolúveis
Tenta-se falar com o mundo
A pedir respostas sábias
Afinal o enxame
É mesmo de abelhas
Elas próprias a precisarem de ajuda
Talvez que o apicultor
Consiga convencer a rainha
ada - 12mar19
2019/03/09
2019/03/06
2019/03/03
Um pessegueiro encantado por um canário
(fundo preto: alcatrão da minha rua. Foto tirada de cima do telhado da casa)
sou aquele
pessegueiro
que num quintal mora
nos Lourais
nos Lourais
até agora
só pouso de pardais
a
doença e a melancolia
que me têm apoquentado
desde que aqui fui plantado
longos anos já passados
não me têm permitido
criar pêssegos
como está determinado
que assim deva suceder
que me têm apoquentado
desde que aqui fui plantado
longos anos já passados
não me têm permitido
criar pêssegos
como está determinado
que assim deva suceder
e
pergunto
se há algo de errado
comigo
se há algo de errado
comigo
reparem
na minha floração
será
que este ano
eu vou
dar pêssegos ?
aDa
pp do pessegueiro
2019/03/01
2019/02/25
Ao meu mestre
Comentário que deixei no blogue de Carlos Lopes Pires
à espera
que o cansaço
me vencesse…
adalmeidanunes
24fev2019
Hoje é domingo
consegui dormir
até ser acordado
primeiro pelo sol
logo depois pelo meu gato
os gatos são
talvez
os maiores psicólogos do universo
por isso hoje
o meu gato
deixou-me dormir até ao sol
durante o dia
foi ter comigo ao quintal
algumas vezes
e olhou-me no suor
voltou para casa
silencioso e dolente
enroscou-se ao calor do sol...
consegui dormir
até ser acordado
primeiro pelo sol
logo depois pelo meu gato
os gatos são
talvez
os maiores psicólogos do universo
por isso hoje
o meu gato
deixou-me dormir até ao sol
durante o dia
foi ter comigo ao quintal
algumas vezes
e olhou-me no suor
voltou para casa
silencioso e dolente
enroscou-se ao calor do sol...
à espera
que o cansaço
me vencesse…
adalmeidanunes
24fev2019
2019/02/17
Olhai e ouçam
Por alturas da publicação dum vídeo com pinturas, poema e música
de Salanga, Carlos Lopes Pires e Pedro Jordão. (*)
Olhai e ouçam
ouçam a música de piano
que da inspiração do mundo
e da inteligência
dum monge da nossa irmandade
surtiu com tanto esplendor
e a poesia de outro irmão
tudo junto e harmonizado
louvemos o resultado
de todo este labor irmanado
sem esquecer outro irmão
que não sendo monge
da nossa congregação
reparem que da sua mão
também brota santidade
olhai os fragmentos do átomo
e o resultado do seu movimento
perpétuo...
a DA
11fev19-Lourais-Barreira
(*) https://www.facebook.com/613447628761736/videos/2277315232591224/?t=13
ou https://youtu.be/S5Ww_wDYSXY
Mais um treze de fevereiro
Mais um treze de fevereiro
parece-me estar
numa roleta russa
numa roleta russa
o pensamento flui
num rio incerto
ora envolto em nevoeiro
ora serpenteando
ao sabor da orografia do terreno
num rio incerto
ora envolto em nevoeiro
ora serpenteando
ao sabor da orografia do terreno
inevitavelmente
com o mar na mira
mas nunca como alvo final
com o mar na mira
mas nunca como alvo final
e o tempo vai e vem
com o pensamento
a tentar driblar a memória
com o pensamento
a tentar driblar a memória
sem sucesso
mais um 13 de fevereiro começa
e já são muitos muitos
mas podem vir mais
.............................
e já são muitos muitos
mas podem vir mais
.............................
a DA
13Fev19
A janela daquele quarto
a janela do meu quarto
corriam os anos sessenta
já do século próximo passado
corriam os anos sessenta
já do século próximo passado
hoje reparei nela
ei-la que está em recuperação
tão inanimada que estava
tão inanimada que estava
meio século.
sobreviventes daqueles anos
mágicos
míticos
mágicos
míticos
esta passagem do tempo
mais ou menos longa
tudo nos vai subtrair
mais ou menos longa
tudo nos vai subtrair
há que usufruir da vida
livrar a mente do medo
livrar a mente do medo
aDA
16fev19-Leiria
16fev19-Leiria
2019/02/06
n+1 o dia nasceu cheio
O dia nasceu cheio
de cor e sombras
muitas sombras
culpa do sol
as poli-oliveiras
do meu vizinho
lá estão
expectantes
seguindo sem descanso
o movimento
do sol da chuva do vento
e dos pássaros
enquanto isso
os cientistas
espantam-se
a nossa galáxia
está diferente
coisa incrível e nunca vista
oh e nós
confusos
perplexos
em constantes
cá se vai indo
a DA
6jan19
Subscrever:
Mensagens (Atom)