
Mas como gosto de recordar o "nosso" Gil Vicente, fundador do teatro nacional; e de como adorei, com os meus 15 anos, o "Auto de Mofina Mendes"!
E D. João da Câmara, grande poeta e dramaturgo português. Foi há mais de 40 anos que vi, pela primeira vez, representada a sua peça "Os Velhos". Inesquecível! Tive então a honra de ver trabalhar grandes Senhoras e Senhores do nosso teatro: Amélia Rey Colaço, Josefina Silva, Canto e Castro, Raul de Carvalho e outros igualmente grandes.
Mas este é o Teatro "Arte". Porque, afinal, não será o Mundo um enorme teatro? E os homens, fabulosos actores? É só olharmos à volta! Os ricos fingem que, coitados deles, estão na miséria; e, pior ainda, os pobres, fingem-se ricos e endividam-se cada vez mais!
Os parvos a fingirem-se de espertos; os espertos fingindo-se de parvos...
Os incultos a fingirem-se cultos, os maus fingindo-se de bons, os políticos fingindo-se de sérios...E há os que se fingem de loucos, os que se fingem de filantropos, os que se fingem de doentes...
Estou a lembrar-me do grande Molière, do seu "Doente Imaginário", de "Le Bourgeois Gentilhomme"...
E daquele "personagem" tão presente por esse mundo fora:
LAMBE BOTAS
Lambe-botas é criatura
Que existe por todo o lado
Por fora pelo macio
Mas com ferrão afiado.
Com muitos salamaleques
Voz meiga e algo melosa
Vai convencendo meio-mundo
De boa e prestimosa.
Mas por trás, oh meus amigos,
Cuidado com o Lambe-botas!
Se isso lhe convier
Espeta-vos o ferrão nas costas.
Mas mesmo assim, podem crer,
Muitos o valorizam bem
Porque só o Lambe-botas
Os fazem sentir alguém.
Zaida
Texto e poema
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Esta colaboração acaba por se apresentar como uma oportuna deixa para vos falar dum Teatro que houve em Leiria, o Teatro D. Maria Pia. Demoliram-no em 1956. Uma brutalidade que nem sei como é que está tão esquecida da memória dos Leirienses.
Aliás, é inadmissível que, até hoje, nada tenha sido feito pelas autoridades administrativas deste concelho para perpetuar a memória da existência e o que foi a excelente acção daquele Teatro em Leiria. Parece-me a mim que haverá memórias que incomodam ainda hoje e que tudo se tem feito no sentido de as riscar da história.
Insensatos! A história não se apaga administrativamente!...
Em próxima entrada voltarei para falar com mais pormenor sobre este episódio rocambolesco da história da cidade de Leiria.