Mostrar mensagens com a etiqueta maomé. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta maomé. Mostrar todas as mensagens

2006/08/10

IV - Maomé e o Islão

Em 476 d.C. o imperador do Ocidente Rómulo Augusto é deposto e termina o Império Romano do Ocidente.
Em 484 após peripécias várias consuma-se a ruptura entre as igrejas do Oriente e Ocidente que teve por ponto de partida oficial o edital de união o Henotikòn, que foi rejeitado por ambas as partes em conflito.
Mudemos a fasquia do tempo e situemo-nos entre 567 e 573, provavelmente em 570. Em Meca (Makka) nasce de Abd Allah e de Amina, Maomé (Muhammad) do clã Hashim da tribo dos Quaraysh.
Neste tempo, os Árabes tinham uma fé muito simples. Tal como os antigos Babilónios, adoravam as estrelas e também uma pedra que acreditavam ter caído do céu, que estava (e lá continua…) num santuário, o Santuário de Caaba, na cidade do oásis de Meca. Ainda hoje, os Árabes de todo o mundo, fazem peregrinações para irem lá rezar.
Desde muito novo que Maomé, a quem apelidavam de “Confiável”, mostrava muito interesse pelas religiões e gostava de conversar, não só com os peregrinos árabes que vinham ao santuário de Meca, mas também com cristãos que vinham da Abissínia, e Judeus, que viviam em grande número nas cidades dos oásis da Arábia. Nessas conversas o que realmente o impressionava era que todos esses peregrinos falavam dum Deus único, invisível e todo-poderoso. Em consequência, também ouvia falar de Abraão e José, de Jesus Cristo e de Maria.
Por volta do ano de 582, diz a tradição, Maomé, é preanunciado por um frade de nome Bahira como o Profeta que se avizinha.
No ano 610 d.C. Maomé recebe a inspiração divina para a primeira fase do alcorão. À terceira visão do arcanjo Gabriel, Maomé ficou a saber que ele era o Profeta através de quem Deus – Alá em árabe - ia dar a conhecer os seus desejos para a humanidade.
A nova religião que Maomé começa a pregar entre os Árabes é o Islão, que significa “abandono à vontade divina”. Os líderes tribais que guardavam o santuário começaram a ver em Maomé um adversário perigoso, razão pela qual, o Profeta acabou por se refugiar numa cidade noutro oásis, que mais tarde se haveria de chamar Medina, “a Cidade do Profeta”. Esta fuga ficou conhecida como Emigração – “Hégira” em árabe e aconteceu no dia 16 de Julho de 622 (calendário cristão). Os seguidores de Maomé passaram a contar os anos a partir desta data, começando assim a era muçulmana. (**)
Em Medina, Maomé explicou aos seus seguidores como Deus se revelou a Abraão e Moisés, como falou aos homens através da boca de Cristo e como o tinha escolhido a ele, Maomé, para ser seu profeta.
Deus único – Alá, revelado aos homens pelo Profeta Maomé, recompensa eterna para os justos, castigo eterno para os descrentes e maus e guerra santa contra os infiéis (jihad em árabe) constituem os fundamentos básicos desta religião, passados a escrito para um livro, que agora se chama Alcorão (ou Corão).
A descrição do Paraíso prometido aos seguidores da doutrina de Maomé é, de facto, uma maravilha irresistível para os crentes: (*)Maomé com as suas pregações ganhou enorme poder e prestígio, o que lhe permitiu organizar um exército com o qual derrotou e conquistou a cidade de Meca, da qual havia sido expulso.
Antes de morrer Maomé exortou os seus seguidores a rezar cinco vezes por dia, virados para Meca, a não beber vinho e a serem corajosos.
Maomé morreu em 632.
Os futuros representantes de Maomé eram os designados “califas”, os primeiros dos quais foram Abu Bakr e Omar, que se lançaram numa ofensiva vertiginosa em todas as direcções a partir de Meca. O zelo religioso era tal que os guerreiros árabes em pouco mais de 10 anos já tinham conquistado a Palestina, a Pérsia e o Egipto (que ainda fazia parte do Império Romano do Oriente, embora já muito enfraquecido). Este fogo religioso e militar avançou rapidamente da Pérsia até à Índia, do Egipto para todo o Norte de África.
A partir de 670, os exércitos árabes tentaram mas não conseguiram tomar Constantinopla, a antiga capital do Império Romano do Oriente. É nessa época que os Árabes conquistam as ilhas de Chipre e da Sicília, a partir de bases em África. De seguida, atravessaram para a Península Ibérica, que conquistaram aos Visigodos. O objectivo seguinte era tomar as terras onde hoje se situam a França e a Alemanha, que não foi atingido porque Carlos Martel, rei dos Francos, venceu duas decisivas batalhas, estávamos em 732, em Tours e em Poitiers. Se tal tivesse acontecido provavelmente hoje, na Europa, poderíamos ser todos muçulmanos.
Entretanto, este ímpeto expansionista Árabe, acalmou. A história continuou a seguir o curso dos séculos.

Sem dúvida que, em jeito de balanço sintético e apesar de todas as lutas sangrentas em que se envolveram em nome do Islão, muito do que é a civilização actual se deve à capacidade de síntese que os Árabes acabaram por demonstrar, fazendo o aproveitamento científico e cultural do que de melhor existia entre os povos que iam subjugando.
Resumidamente:
1) Os chamados arabescos resultaram do uso de belos padrões intrincados e entrelaçados de linhas de muitas cores, com os quais decoravam os seus palácios e mesquitas, já que a sua religião lhes proibia a reprodução de pessoas ou animais;
2) Com os Gregos aprenderam a coleccionar e a ler livros em vez de os queimarem. Traduziram para Árabe, os escritos de Aristóteles e, desta maneira, iniciaram uma autêntica revolução nas ciências; os nomes de muitas das ciências têm origem Árabe como a química e a álgebra;
3) Com os Chineses aprenderam a fabricar papel;
4) Durante séculos os Árabes contavam histórias de maravilha para transmitirem os seus conhecimentos e os factos e tradições da vida das suas Nações e tribos. Mais tarde passaram-nas por escrito. Quem não recorda a leitura das histórias de espantar do livro “As Mil e Uma Noites”?;
5) O sistema de numeração decimal que hoje usamos, em vez do sistema Romano (por exº 112 em vez de CXII) e que tantos benefícios trouxe ao cálculo matemático, devemo-lo aos Árabes que, por seu turno, o recolheram dos Indianos.

O rumo da história da humanidade levou a que os Árabes tivessem sido derrotados antes de conseguirem entrar na Europa Central, Oriental e parte da Ásia, mesmo assim conseguiram, através das suas conquistas que as ideias e os conhecimentos dos Persas, Gregos, Indianos e Chineses (através de prisioneiros de guerra) se reunissem numa cultura geral que muito veio beneficiar o homem.
Moral da história. Os conquistadores não conseguem governar para sempre mesmo em nome de Deus!


(*) Os Fiéis descansarão em grandes almofadas, reclinados e virados uns para os outros. Entre eles andarão mancebos imortais com taças e cântaros cheios de um néctar puro, que não produzirá nem dor de cabeça nem embriaguez. Lá haverá de todos os frutos, e carne de todas as aves, tanta quanta desejarem, e donzelas com olhos de corça tão belas como uma pérola oculta. Debaixo de árvores de lótus sem espinhos e bananeiras carregadas de frutos, a sombra prolonga-se e a água corre, e os Abençoados descansam. Os frutos estão a seu alcance e as taças de prata andam sempre a circular. Sobre si usam vestes de rica seda verde e brocados, adornadas com fivelas de prata.
(**) A era Cristã começou com o nascimento de Jesus Cristo.
---
(continua: – O Médio Oriente no séc. XX e XXI)

@as-nunes