Na sequência dos ´posts` anteriores escrevi a crónica que reproduzo a seguir. O "Diário de Leiria" de 24/07/2017 publicou na sua p. 8 uma parte...
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Em modo DISPERSO… (XLII)
No Centenário do Nascimento de Manuel Ferreira (1917-1992)
Mais um ilustre leiriense que urge (re)descobrir
No último serão literário das
Cortes, no 2º sábado de Junho, o Engº Carlos Fernandes, um dos mentores deste
grupo desde a primeira hora, fez a devida menção ao “Sarau Literário Manuel
Ferreira (1917-2017)” organizado pela Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira
(bibl. Dra. Ângelo Salgueiro Pereira) na
prossecução das comemorações do Centenário do Nascimento deste ilustre
leiriense . O evento teve lugar no passado dia 18 no auditório da biblioteca de
Leiria com a sala completamente lotada.
Pelo que se pôde
confirmar, a ignorânica acerca de quem
foi Manuel Ferreira é muito grande. Tendo em vista obviar a esta lamentável
circunstância temos a boa nova que é saber-se que o professor do IPL, Dr. João
Bonifácio Serra, tem vindo a investir
muito do seu tempo e disponibilidade na investigação e consulta dos vários
arquivos nacionais do exército e da Torre do Tombo a par com o espólio familiar
e que lhe estão a permitir coligir muita e aliciante informação biográfica de
Manuel Ferreira. Com a sua exposição, no decorrer do Sarau, o Dr João Serra
conseguiu transmitir-nos, magistralmente, uma imagem, ao mesmo tempo íntima e
biográfica literária e social.
Mas, afinal, quem foi Manuel
Ferreira? A Biblioteca Municipal de Leiria tem vindo a sintetizar a seguinte
resenha biográfica: «A obra ensaística e
literária de Manuel Ferreira está profundamente marcada pela sua vivência
africana. Através dela, expressa a repressão do colonialismo e do regime nas
comunidades onde marcou presença.
O seu estudo e pensamento sobre a literatura africana é hoje
incontornável para a investigação nesta área.
Natural de Gândara dos Olivais, Leiria, onde nasceu no dia 18 julho de
1917, estreou-se como escritor em 1944 com a publicação do romance Grei,
seguindo-se a Casa dos Motas (1956). Ambas as obras integram-se claramente na
corrente neorrealista que despontava na época.
Seguiram-se os seus romances de inspiração africana. Em meados dos anos
70 do século XX, já em Portugal, criou na Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa uma cátedra dedicada à Literatura Africana de Expressão Portuguesa.
Na sua atividade de escritor colaborou e fundou diversas revistas
literárias, nomeadamente, África – Literatura, Arte e Cultura. Publicou vários
livros de literatura para a infância.
Recebeu ainda diversos prémios, com “Morabeza”, em 1958, o Prémio
Fernão Mendes Pinto, com “Hora Di Bai”, em 1968, o Prémio Ricardo Malheiros e,
em 1967, o Prémio da Imprensa Cultural para «A Aventura Crioula». Em 1991, foi
distinguido com o título de cidadão honorário da cidade de Mindelo (Cabo Verde)
pelo seu papel de divulgador e estudioso das literaturas dos PALOP.»
Foram ditos vários poemas
escritos por Cabo-verdianos magistralmente interpretados por David Teles,
Helena Santo, Isabel Soares, José Pires
e José Vaz. O “Poema de Amanhã” (1945) dito por José Vaz é da autoria de
António Nunes, que nasceu também em 1917 na cidade da Praia, Cabo Verde. Ficou
para a história da Literatura como o primeiro neo-realista Cabo-verdiano e este
seu poema foi originalmente publicado na Revista “Certeza”.
Cristina Nobre presenteou-nos
com o seu estilo peculiar e maravilhado/oso na leitura do conto infantil que
Manuel Ferreira publicou em 1971, “Quem pode parar o vento?”.
O momento musical acabou por
ser do agrado geral e ficou a cargo do Grupo CV com Martinho Nunes, na voz e na
guitarra acústica e JudePina na guitarra acústica a acompanhar.
Esta sessão, muito pedagógica
e altamente elucidativa, acerca do ilustre leiriense justamente celebrado,
encerrou com a morna, interpretada
por Martinho Nunes (Cabo-verdiano) e a assistência emocionada, que, sem dúvida,
constitui um autêntico hino a Cabo Verde: “Sodade
Di Nha Terra S. Nicolau”…
Ficamos à espera do livro que
ficou ali mesmo ´apalavrado`, na presença da Vereadora da Educação e Bibliotecas
da Câmara Municipal de Leiria, Dra. Anabela Graça, que há-de ser compilado pelo
Dr. João Bonifácio Serra. Seria uma
imprudência inadmissível que o trabalho profundo e de qualidade de João Serra,
que nos ficou perfeitamente percetível já estar disponível, não viesse a ser dado a lume.
Manuel Ferreira merece essa
Homenagem e Leiria também…
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