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2015/02/06

Descoberta do caminho marítimo para a Índia - Poema escrito por Olavo Bilac em 1898

Descoberta do caminho marítimo para a Índia

Aqui se pode ver um pequeno vídeo com uma sinopse do que foi o Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia, em Abril de 1498.





Em 7 de Maio de 1898 publicou Olavo Bilac este livro/Poemeto.

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"Acreditavam os antigos celtas,
do Guadiana espalhados até
a costa, que, no templo circular
do Promontório Sacro, se reuniam
à noite os deuses, em misteriosas
conversas com esse mar cheio
de enganos e tentações."

OL. MARTINS. - Hist. de Portugal.


Sagres
"Acreditavam os antigos celtas,
do Guadiana espalhados até
a costa, que, no templo circular
do Promontório Sacro, se reuniam
à noite os deuses, em misteriosas
conversas com esse mar cheio
de enganos e tentações."

OL. MARTINS. - Hist. de Portugal.
Em Sagres. Ao tufão, que se desencadeia,
A água negra, em cachões, se precipita, a uivar;
Retorcem-se gemendo os zimbros sobre a areia.
E, impassível, opondo ao mar o vulto enorme,
Sob as trevas do céu, pelas trevas do mar,
Berço de um mundo novo, o promontório dorme.


Só, na trágica noite e no sítio medonho,
Inquieto como o mar sentindo o coração,
Mais largo do que o mar sentindo o próprio sonho,
- Só, aferrando os pés sobre um penhasco a pique,
Sorvendo a ventania e espiando a escuridão,
Queda, como um fantasma, o Infante Dom Henrique...


Casto, fugindo o amor, atravessa a existência
Imune de paixões, sem um grito sequer
Na carne adormecida em plena adolescência;
E nunca aproximou da face envelhecida
O nectário da flor, a boca da mulher,
Nada do que perfuma o deserto da vida.


Forte, em Ceuta, ao clamor dos pífanos de guerra,
Entre as mesnadas (quando a matança sem dó
Dizimava a moirama e estremecia a terra),
Viram-no levantar, imortal e brilhante,
Entre os raios do sol, entre as nuvens do pó,
A alma de Portugal no aceiro do montante.


Em Tanger, na jornada atroz do desbarato,
- Duro, ensopando os pés em sangue português,
Empedrado na teima e no orgulho insensato, 
Calmo, na confusão do horrendo desenlace,
- Vira partir o irmão para as prisões de Fez, 
Sem um tremor na voz, sem um tremor na face.


É que o Sonho lhe traz dentro de um pensamento
A alma toda cativa. A alma de um sonhador
Guarda em si mesma a terra, o mar, o firmamento,
E, cerrada de todo à inspiração de fora,
Vive como um vulcão, cujo fogo interior
A si mesmo imortal se nutre e se devora.


"Terras da Fantasia! Ilhas Afortunadas, 
Virgens, sob a meiguice e a limpidez do céu, 
Como ninfas, à flor das águas remansadas!
- Pondo o rumo das naus contra a noite horrorosa 
Quem sondara esse abismo e rompera esse véu, 
Ó sonho de Platão, Atlântida formosa!

Mar tenebroso! aqui recebes, porventura,
A síncope da vida, a agonia da luz?.
Começa o Caos aqui, na orla da praia escura?
E a mortalha do mundo a bruma que te veste?
Mas não! por trás da bruma, erguendo ao sol a Cruz,
Vós sorrides ao sol, Terras Cristãs do Preste!


Promontório Sagrado! Aos teus pés, amoroso, 
Chora o monstro... Aos teus pés, todo o grande poder,
Toda a força se esvai do oceano Tenebroso...
Que ansiedade lhe agita os flancos? Que segredo,
Que palavras confia essa boca, a gemer,
Entre beijos de espuma, à algidez do rochedo?


Que montanhas mordeu, no seu furor sagrado?
Que rios, através de selvas e areais,
Vieram nele encontrar um túmulo ignorado?
De onde vem ele? ao sol de que remotas plagas
Borbulhou e dormiu? que cidades reais
Embalou no regaço azul de suas vagas?


Se tudo é morte além, - em que deserto horrendo,
Em que ninho de treva os astros vão dormir?
Em que solidão o sol sepulta-se, morrendo?
Se tudo é morte além, por que, a sofrer sem calma,
Erguendo os braços no ar, havemos de sentir
Estas aspirações, como asas dentro da alma?"

...............................................................
E, torturado e só, sobre o penhasco a pique,
Com os olhos febris furando a escuridão,
Queda como um fantasma o Infante Dom Henrique...
Entre os zimbros e a névoa, entre o vento e a salsugem,
A voz incompreendida, a voz da Tentação
Canta ao surdo bater dos macaréus que rugem:


'Ao largo, Ousado! o segredo 
Espera, com ansiedade, 
Alguém privado de medo 
E provido de vontade...


Verás destes mares largos
Dissipar-se a cerração!
Aguça os teus olhos, Argos:
Tomará corpo a visão...

Sonha, afastado da guerra,
De tudo! - em tua fraqueza,
Tu, dessa ponta de terra,
Dominas a natureza!


Na escuridão que te cinge,
Édipo! com altivez,
No olhar da líquida esfinge
O olhar mergulhas, e lês...


Tu que, casto, entre os teus sábios,
Murchando a flor dos teus dias,
Sobre mapas e astrolábios
Encaneces e porfias;


Tu, buscando o oceano infindo,
Tu, apartado dos teus,
(Para, dos homens fugindo,
Ficar mais perto de Deus);


Tu, no agro templo de Sagres,
Ninho das naves esbeltas,
Reproduzes os milagres
Da idade escura dos celtas:


Vê como a noite está cheia
De vagas sombras... Aqui,
Deuses pisaram a areia,
Hoje pisada por ti.


E, como eles poderoso,
Tu, mortal, tu, pequenino,
Vences o mar Tenebroso,
Ficas senhor do Destino!


Já, enfunadas as velas,
Como asas a palpitar,
Espalham-se as caravelas
Aves tontas pelo mar...


Nessas tábuas oscilantes,
Sob essas asas abertas,
A alma dos teus navegantes
Povoa as águas desertas.

Já, do fundo mar vário,
Surgem as ilhas, assim
Como as contas de um rosário
Soltas nas águas sem fim.


Já, como cestas de flores,
Que o mar de leve balança,
Abrem-se ao sol os Açores
Verdes, da cor da esperança.


Vencida a ponta encantada
Do Bojador, teus heróis
Pisam a África, abrasada
Pela inclemência dos sóis.


Não basta! Avante!
Tu, morto 
Em breve, tu, recolhido 
Em calma, ao último porto,
- Porto da paz e do olvido,


Não verás, com o olhar em chama,
Abrir-se, no oceano azul,
O vôo das naus do Gama,
De rostros feitos ao sul...


Que importa? Vivo e ofegando
No ofego das velas soltas,
Teu sonho estará cantando
À flor das águas revoltas.


Vencido, o peito arquejante.
Levantado em furacões,
Cheia a boca e regougante
De escuma e de imprecações,


Rasgando, em fúria, às unhadas
O peito, e contra os escolhos
Golfando, em flamas iradas,
Os relâmpagos dos olhos,


Louco, ululante, e impotente
Como um verme, - Adamastor
Verá pela tua gente
Galgado o cabo do Horror!

Como o reflexo de um astro,
Cintila e a frota abençoa
No tope de cada mastro
O Santelmo de Lisboa.


E alta já, de Moçambique
A Calicut, a brilhar,
Olha, Infante Dom Henrique!
- Passou a Esfera Armilar...


Fartar! como um santuário
Zeloso de seu tesouro,
Que, ao toque de um temerário,
Largas abre as portas de ouro,


- Eis as terras feiticeiras 
Abertas... Da água através, 
Deslizem fustas ligeiras, 
Corram ávidas galés!


Aí vão, oprimindo o oceano,
Toda a prata que fascina,
Todo o marfim africano,
Todas as sedas da China...


Fartar!... Do seio fecundo
Do Oriente abrasado em luz,
Derramem-se sobre o mundo
As pedrarias de Ormuz!


Sonha, - afastado da guerra,
Infante!... Em tua fraqueza,
Tu, dessa ponta de terra,
Dominas a natureza!..."


Longa e cálida, assim, fala a voz da Sereia... 
Longe, um roxo clarão rompe o noturno véu.
Doce agora, ameigando os zimbros sobre a areia,
Passa o vento. Sorri palidamente o dia...
E súbito, como um tabernáculo, o céu
Entre faixas de prata e púrpura irradia...


Tênue, a Princípio, sobre as pérolas da espuma, 
Dança torvelinhando a chuva de ouro. Além,
Invadida do fogo, arde e palpita a bruma,
Numa cintilação de nácar e ametistas...
E o olhar do Infante vê, na água que vai e vem,
Desenrolar-se vivo o drama das Conquistas.


Todo o oceano referve, incendido em diamantes,
Desmanchado em rubis. Galeões descomunais,
Crespas selvas sem fim de mastros deslumbrantes,
Continentes de fogo, ilhas resplandecendo,
Costas de âmbar, parcéis de aljofres e corais,
- Surgem, redemoinhando e desaparecendo...


É o dia! - A bruma foge. Iluminam-se as grutas.
Dissipam-se as visões... O Infante, a meditar,
Como um fantasma, segue entre as rochas abruptas.
E impassível, opondo ao mar o vulto enorme,
Fim de um mundo sondando o deserto do mar,
- Berço de um mundo novo - o promontório dorme.


SAGRES,

Olavo Bilac
Rio de Janeiro, MDCCCXVIII

TYP. DO ´JORNAL DO COMMÉRCIO´DE RODRIGUES & C.
---
Nota:
Será interessante conseguir acompanhar a explanação elaborada por José Eduardo da Fonseca (UFMG) tentando demonstrar que "A Mensagem" de Fernando Pessoa poderá ter sido inspirada por leituras interessadas que o próprio terá feito  do Poema de Olavo Bilac que acima se reproduz.
Talvez seguindo o link:
https://attachment.fbsbx.com/file_download.php?id=1537419149873489&eid=ASu0Q_jt4Kai_3qjeIBEYvAMSlxgK1i946uX8Vk9o2Ovq-FlPl6WEp8t0HC1L_hiwFo&inline=1&ext=1423252323&hash=ASuHM1qZtKRZz-cq

2013/10/21

Exposição Foto Literária de Marta Moita - (ENTRE)LAÇOS LITERÁRIOS

A autora a justificar-se... 
Fernando Pessoa e José Saramago não podem, de forma alguma, sentirem-se menorizados por esta excelente visão que Marta Moita nos proporciona com estes maravilhosos (ENTRE)LAÇOS LITERÁRIOS...  

Marta Moita na sua Nota Introdutória. Aqui um fragmento...
Esta fotografia revela um momento espontâneo do "ator" (Carlos Carepo) que encarnou a figura de Ricardo Reis e que se prestou a andar por Lisboa, nos lugares referidos (e outros...) por Saramago, no seu livro, "O Ano da Morte de Ricardo Reis". Pela ligação íntima que, por via deste livro, se estabelece entre Fernando Pessoa e o seu heterónimo, Ricardo Reis, por um lado, e este mesmo e José Saramago, por outro, se justifica plenamente este instantâneo original e único!... Pelos vistos, aquele momento foi capturado em fotografia por imensos turistas que se passeavam, na altura, pelo Chiado!... 
Qual não deve ter sido o seu espanto! ...
Zaida Nunes e Marta Moita: uma coligação imparável ...
José Cunha - Presidente da União das Freguesias de Leiria, Pousos, Barreira, Cortes no decorrer da sessão de apresentação da exposição, em ambiente romântico do Solar e do seu jardim...

Exposição patente ao público durante o período de 20 a 27 de Outubro de 2013, no Solar do Visconde da Barreira - Leiria. Nada como observar in loco este trabalho, com o qual Marta Moita pretende levar o visitante a interessar-se pela leitura de uma das melhores obras do nosso Nobel da Literatura, José Saramago.
Sem nunca esquecer o grande, o inconfundível Fernando Pessoa.
O ponto comum - RICARDO REIS.


 Sobre a cadeira, a bata, o estetoscópio e a mala ... do médico Ricardo Reis ... 
Marta Moita e a sua amiga Manuela, que tão bem disse Ricardo Reis (Fernando Pessoa)


José Cunha, depois de entregar a medalha da Junta de Freguesia da Barreira - Leiria a Marta Moita

2013/10/16

Poemas de Ricardo Reis e exposição na Barreira

(No próximo Domingo, 20 de Outubro de 2013, no Solar do Visconde da Barreira, será inaugurada uma exposição de Marta Moita, sob o título (ENTRE)LAÇOS LITERÁRIOS)




Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
 (Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
 Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
 E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
 E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
 Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
 Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
 Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,


 Pagã triste e com flores no regaço.


Poemas de Ricardo Reis
Mais poemas aqui
Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa)
---

RICARDO REIS

“Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular (não no estilo Álvaro de Campos, mas num estilo de meia regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (tinha nascido, sem que o soubesse, o Ricardo Reis).”
Diz Fernando Pessoa na carta, de 13 de Janeiro de 1935, a Adolfo Casais Monteiro, que Ricardo Reis nasceu em 1887 (embora não se recorde do dia e mês), no Porto. Descreve-o como sendo um pouco mais baixo, mais forte e seco que Caeiro e usando a cara rapada. Fora educado num colégio de jesuítas, era médico e vivia no Brasil, desde 1919, para onde se tinha expatriado voluntariamente por ser monárquico. Tinha formação latinista e semi-helenista.
Fernando Pessoa atribui a este heterónimo um purismo que considera exagerado e  refere que escreve em nome de Ricardo Reis, “depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode”.

Fonte: Carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, de 13 de Janeiro de 1935, inCorrespondência 1923-1935, ed. Manuela Parreira da Silva, Lisboa, Assírio & Alvim, 1999.

2013/03/05

Portugal...


MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa
@as-nunes

2012/12/19

É Natal?!...


(...)


Doze signos do céu o Sol percorre,
E, renovando o curso, nasce e morre
Nos horizontes do que contemplamos.
Tudo em nós é o ponto de onde estamos.

Ficções da nossa mesma consciência,
Jazemos o instinto e a ciência.
E o sol parado nunca percorreu
Os doze signos que não há no céu.

Fernando Pessoa
Glosas, in “Cancioneiro”, 14-8-1925
@as-nunes

2012/12/02

É outono, quase inverno, e pronto








Em Leiria, junto à ponte do Arrabalde...
-
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples,
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte,
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.

A. Campos

Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.

A. Campos
@as-nunes

2012/11/30

Os dias que correm e Fernando Pessoa


Em 18.1.1985 Al Berto escrevia no seu Diário:
[...]
(uma das maneiras possíveis de compreender este país é reler Pessoa. Atentamente. Devotadamente. Todos os dias. Alguma luz se fará, por entre a teia magnífica dos heterónimos. Por vezes, penso que este país é o heterónimo dum outro país que sobreviveu ao seu próprio criador. Assim, já não possuindo o motor que o faz pensar, criar, imaginar, mover-se, acabou por se afundar no orgulho do seu próprio esterco.)

Hoje escreveria da mesma forma, com toda a certeza!
Onde está a tão apregoada mudança do rumo deste país?!
(para bem dos portugueses em geral ... e não, só das elites.)
@as-nunes

2012/10/01

Outono refulgente neste país descontente ...


Na «Quinta das Lágrimas», em Coimbra, um dia destes ...

OUTONO

Largo silêncio amadurece o Outono.
O coração das folhas em letargo.
De alcantilado bosque cai no sono
O parque. Modorra a luz do lago.
E a natureza ali rendida à calma
Escuta, toda ouvidos num nenúfar,
Rumores da Eternidade que a sua alma
Antiga toca numa cana-de-açúcar.

Natália Correia

-
Creio que poderá ser útil ler-se, nos tempos que correm, "não percas a rosa - diário e algo mais (25 de Abril de 1974 - 20 de Dezembro de 1975)".
Como Natália questiona as manobras dúbias do MFA, Otelo, PCP (assembleias populares de braço no ar, comités variados, SUV, saneamentos selvagens, ocupação da terra)  e nos remete para o "O Encoberto" da "Mensagem" ! 

Já muitos de nós nos interrogamos se será inevitável o aparecimento de um salvador que leve ao ressurgimento da nação. 
Até me assusto ao dar comigo a tentar seguir este prenúncio de Fernando Pessoa no seu "Encoberto"!

É que estamos a ficar sem alternativas! ... 
(os partidos ditos de esquerda/esquerda não se conseguem libertar do estigma de totalitários, que granjearam no decorrer do chamado PREC e é pena que a sua prática histórica os não favoreça de modo a poderem constituir-se em alternativa, tão fartos andamos do bloco PS, PSD, cds/PP).

Eu andei na rua a lutar por um país livre, próspero e democrático.  
Tanta luta contra extremismos! ...
Tanta ilusão, utopias até!
Valeu a pena?  
Quero acreditar que sim! ...
Mas a alma de quem nos tem governado não tem sido grande!

Como foi possível a Constituição saída do 25 de Abril de 1974 ter permitido que, sob a sua capa protetora, se tivessem cometido crimes infames de lesa pátria, que nos enlamearam ao ponto a que chegámos?! ... 

@as-nunes

2012/08/11

Nazaré: Ronda Literária Feira do Livro 2012

Na sua terceira edição, esta iniciativa procura conjugar o prazer da tertúlia literária e gastronómica com a descoberta de espaços particulares que abrem as portas aos visitantes, permitindo-lhes um momento único de confraternização e descoberta.(biblioteca da Nazaré)
 No 1º ponto de encontro, num café-bar junto à capitania do porto da Nazaré e à Igreja da paróquia.
 No 2º ponto fomos surpreendidos pela presença de Fernando Pessoa, numa casa particular, onde se disse muita poesia.
 Ainda no 2º ponto da Ronda.
 Já no 3º ponto, noutra casa particular, o Diretor da Biblioteca, Alexandre Isaac, no controlo das operações e grande animador desta iniciativa. Aqui foi projetado um excelente vídeo amador, montagem do próprio Alexandre, em que se interligam belas imagens da Nazaré com muita poesia dita com classe e sentimento.
A Zaida a dizer um poema de Jorge de Sena:

... um Portugal que permanece o mesmo


2º de dois poemas:

De cada vez que um governo necessita de segredos,
por segurança do Estado
ou para melhor êxito
nas negociações internacionais,
é o mesmo que negar,
como negaram sempre desde que o mundo é mundo,
a liberdade.

Sempre que um povo aceita que o seu governo,
ainda que eleito com quantas tricas já se sabe,
invoque a lei e a ordem para calar alguém,
como fizeram sempre desde que o mundo é mundo,
nega-se
a liberdade.

Porque, se há algum segredo na vida pública
que todos não podem saber
é porque alguém, sem saber,
é o preço do negócio feito.
E se há uma ordem e uma lei que não inclua
mesmo que seja o último dos asnos e dos pulhas
e o seu direito a ser como nasceu ou o fizeram,
a liberdade
é uma farsa,
a segurança
é uma farsa,
a ordem é uma farsa,
não há nada que não seja uma farsa,
a mesma farsa representada sempre
desde que o mundo é mundo,
por aqueles que se arrogam ser
empresários dos outros
e nem pagam decentemente
senão aos maus actores.
-
@as-nunes 

2012/07/17

Lisboa e Tejo e tudo...



«Outra vez te revejo – Lisboa e Tejo e tudo -,
 Transeunte inútil e de mim,
 Estrangeiro aqui como em toda a parte,
 Casual na vida como na alma,
 Fantasma a errar em salas de recordações,
 Ao ruído dos ratos e das tábuas que a rangem
 No castelo maldito de ter que viver…»

Álvaro de Campos

@as-nunes

Fernando Pessoa e Lisboa e o desassossego de ser Português...




«Porque eu sou do tamanho do que vejo
   E não do tamanho da minha altura…»
                                                               Alberto Caeiro


E constatarmos nós que há "tipos" que só pensam e só agem com números e siglas monetárias como mote inspirador da sua vida!...

2012/06/14

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.



(...)
Tentemos pois com abandono assíduo
Entregar nosso esforço à Natureza
E não querer mais vida
Que a das árvores verdes.
(...)
Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.
(...)
Odes de Ricardo Reis
Ontem. dia 13, nasceu, no ano de 1888, Fernando Pessoa
(Lembrança recolhida no picosderoseirabra) e no DN.)


Muito mais prosaicamente, recolhi algumas folhas de tília para fazer um chá, para o meu estar físico, em vez de me preocupar em excesso com o metafísico, causa e consequência deste modo de encarar a vida. 
Mas, o que é a vida?!...
(gosto de futebol; aquele jogo com a Dinamarca ia-me "matando"...um chá de tília vinha mesmo a preceito para me ajudar a recuperar de tanta emoção!)
@as-nunes

2010/12/01

Falta cumprir-se Portugal!



Fernando Pessoa, nasceu em Lisboa em 13 de Junho de 1888 e faleceu em 30 de Novembro de 1935.
75 anos volvidos após a sua morte, a sua "Mensagem" permanece, cada vez mais presente.
Hoje, 1 de Dezembro de 2010, o dia amanheceu cheio de luz e frio...e comemoramos, sem brilho nem brio, este mesmo dia do ano de 1640!
Nessa data, Portugal voltou a ser Portugal e não mais uma Província Espanhola! 
Terá valido a pena? Perguntarão alguns, agora que já nem sabemos se somos, de facto, uma Nação independente, se uma parte de uma federação de Estados da Europa, mas em que uns são filhos e outros enteados.
Falta cumprir-se Portugal?
Seremos capazes de cumprir Portugal?! Nestes tempos modernos e conturbados?
-


Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse. já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,


E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.


Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!


Fernando Pessoa
in Mensagem

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2010/11/18

Almada Negreiros e a actualidade

Sempre desejou que a produção artística se orientasse pela linha de renovação dos países já animados do espírito europeu - o que pode explicar a tendência provocatória de alguns dos seus manifestos (com destaque para o conhecido Manifesto Anti-Dantas) e o ter participado e fomentado muitas das manifestações culturais realizadas no seu tempo em Portugal.(*)
(Ouvir aqui na voz do grande Mário Viegas)

Sou um ouvinte compulsivo da Antena Um. Vinha eu de regresso de Monte Redondo para Leiria, via A17, claro, a ouvir aquela estação de Rádio.
Eis senão quando começo a ouvir uma gravação do célebre "Manifesto Anti-Dantas". Ampliado pela voz excelente do diseur, relembrei aquele extraordinário texto, a veemência dum Manifesto autêntico, escrito por uma das figuras mais importantes da cultura portuguesa do século XX. Tinha, Almada, 23 anos. 
No Verão passado comprei em Monte Gordo, numa feira das Velharias, um livro antigo em que se faz a apologia da vida e da obra de Júlio Dantas. Ou seja, sem dúvida, que Júlio Dantas foi um escritor controverso e alvo de muitas críticas dos seus contemporâneos.

Precisamente hoje comprei o livro nº 11 da colecção "Pintores Portugueses", edição da Quidnovi em colaboração com o HH - Instituto de História da Arte e o jornal "Público" que está a promover a sua distribuição semanal, à Terça-Feira. Decidido a rever e actualizar informação sobre a Pintura Portuguesa ao longo dos tempos, assinei em tempo toda esta colecção. Esta semana deu à estampa o livro, cuja capa se reproduz acima. O seu autor é André Silveira, doutorando em teoria da Arte pela faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Almada Negreiros viveu entre 1893 e 1970.

O percurso da sua carreira multi-facetada multiplicou-se entre a caricatura, o desenho, a poesia, a prosa, a dança, a cenografia, a coreografia e a pintura.

Muito se devia saber sobre a vida e obra de Almada Negreiros, até pela necessidade que todos nós, portugueses, temos de tentar perceber como nos posicionarmos, nos tempos que correm, quer em termos nacionais quer até em relação à própria Europa, como um caminho para o nosso Futuro. Simplesmente, Almada Negreiros como Fernando Pessoa (os dois participaram em conjunto no muito estudado fenómeno da pubicação das revistas Orpheu e Portugal Futurista) como tantos outros vultos da nossa história literária, artística, criativa enfim, requerem que os estudemos na devida profundidade para que daí possamos retirar as sínteses necessárias.
Como dizia Fernando Pessoa: "Creio na Síntese, sempre"

Almada Negreiros escreveu, em dada altura da sua vida:

"A História da Humanidade

começa exactamente por um fracasso,
o fracasso da primeira colaboração
entre pessoas"


Fica-se a cismar!...
-
(*) Texto retirado daqui
Posted by Picasa

2010/09/22

Outono com Fernando Pessoa

Trabalho original em

CANÇÃO DE
..... OUTONO

No entardecer da terra,
O sopro do longo outono
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num sono,
Na lívida solidão.


Soergue as folhas, e pousa
As folhas volve e revolve
Esvai-se ainda outra vez.
Mas a folha não repousa
E o vento lívido volve
E expira na lividez.


Eu já não sou quem era;
O que eu sonhei, morri-o;
E mesmo o que hoje sou
Amanhã direi: quem dera
Volver a sê-lo! mais frio.
O vento vago voltou.

1910
Fernando Pessoa (1888-1935)
Poema publicado em 1922
no Semanário "Ilustração Portuguesa"
nº 833
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(Neste Outono de 2010,  ano do 75º aniversário da  sua morte...)

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2010/05/05

DISPERSAMENTE... República, Benfica, Poesia


Post Scriptum (7Maio2010):
Esta foto já é de 2006. Continuo a ser Benfiquista. Penso que não sou um fanático pelos lampiões, mas que querem? Fui sempre encarnado! Mas respeito e atribuo o maior mérito a todos os outros clubes. 
Olá Braga, o vosso clube tem feito uma prova digna de campeões, que já o são, mesmo que não fiquem em 1º lugar. 
Sigo a divisa do SLB: "um por todos e todos por um" quando é preciso defender uma causa. Só é pena é que haja tanto oportunismo à mistura com este desporto fabuloso, que é o Futebol!
Porto(anto)... (complemento esta ideia basicamente irracional na zona de comentários)
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Tenho andado a estudar Mário de Sá-Carneiro, um poeta complicado, amigo e confidente de Fernando Pessoa, que sobre ele escreveu: Mário de Sá-Carneiro não tem biografia, só génio.

Porquê, para quê, nesta altura da minha vida, deveria interrogar-me? Porque sim, porque não sou capaz de funcionar sem ser desta forma dispersiva...

Por isso é que vem a propósito. Virá?...
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Sentir tudo
de todas as maneiras,
Ter todas as opiniões,
Ser sincero
contradizendo-se
a cada minuto,
Desagradar a si-próprio
pela plena liberdade
de espírito,
E amar as coisas
como Deus.

Álvaro de Campos
in Passagem das Horas
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Porque o Benfica está prestes a ser Campeão de Futebol
Porque continuo a ocupar uma grande parte do meu tempo
A lidar com números adjectivados com o Euro
A contabilizar as colectas para o Fisco
A sentir que este trabalho é inglório
Que os Euros que se arrecadam
com os Impostos
Não têm servido senão para malabarismos

Porque o Presidente da República
Vai conversar com ex-Ministros das Finanças
que lhe vão relatar o que se deve fazer
esquecendo-se daquilo que não fizeram
enquanto passaram pelos Governos anteriores

Porque Manuel Alegre
Um grande poeta do PS
mas de que eu me habituei a ouvir
e a ler quer a sua poesia quer a sua prosa
abandonou a sua estratégia de miúdo
reguila e refilão
até se transformar no actual
que já não parece ser
o miúdo que pregava pregos numa tábua

Porque quer a todo o custo
ver se ainda consegue ser Presidente da República

Por tudo isto me tenho mantido
(ou já não o estou a conseguir?)
em actividade na blogosfera
com este meu "dispersamente..."

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Retomando o tema que haverá que realçar (mais lá para diante, talvez, já eu possa aqui escrever algo do que estou a aprender), vou permitir-me transcrever um excerto do Poema VI, "Dispersão" do único livro de poesia que publicou, com este preciso nome, "DISPERSÃO", preparado por si já em 1913, em tempo do início  desta nossa República, cujo Centenário agora estamos a comemorar.

... ...
Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...
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