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2010/03/17

LEIRIA - Rua Christiano Cruz

Esta rua localiza-se na área da antiga Azinhaga da Encosta do Castelo de Leiria, junto ao seu Portão Norte. Nesta zona da cidade quase não circula vivalma. A Rua Christiano Cruz é praticamente invisível aos visitantes e mesmo muito dos locais não sabem sequer da sua existência. E é pena porque se reporta a um personagem aqui nascido e cuja biografia é digna de realce e merecia maior destaque na história de Leiria.
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De facto,

Christiano Cruz
 Senhoras à mesa do café, 1919, pintura a óleo sobre cartão, Centro de Arte Moderna, FCG
 Catálogo /Retrospectiva (1892-1951) - Maria Raquel Florentino
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Christiano CRUZ (1892-1951)

Christiano Alfredo Sheppard Cruz nasce em 1892, em Leiria. Morre em 1951, na cidade de Silva Porto, em Angola. 

Autodidacta, o seu único guia artístico era o desenho da imprensa, e contou com um ambiente pró-republicano no seio familiar, que o preparou para a sátira anti-monárquica e para a crítica social. Posteriormente, distancia-se dela operando uma verdadeira ruptura estética dentro da caricatura.

Ficou conhecido como um “romancista do traço”. Colocava as suas faculdades ao serviço da Ideia e criou aquela que ficou designada como “caricatura impessoal”. Esta pretendia afastar-se da ênfase meramente política, usando o humor como filosofia e atacando os costumes de uma identidade social portuguesa, que conhecia como mesquinha, provinciana e castradora. Sentia uma verdadeira obrigação de educar o povo através da arte, sabendo que a resolução da crise não se situava meramente na esfera política mas numa questão de filosofia existencial, de mentalidades. Dentro da caricatura política, tinha admiração apenas por Rafael Bordalo Pinheiro, fazendo os possíveis para se distanciar e criticar todos os seguidores do mestre. “Não façamos crítica, façamos Arte!”, ficou conhecida como uma das grandes máximas, assim como a sua guerra aos “bota-de-elástico”.

Estes pressupostos correspondem à sua primeira fase, que vai de 1909 até cerca de 1913, considerada como a fase de estilização, em que se liberta dos barroquismos iniciais e desenvolve um traço por vezes quase abstracto. Um novo código de humor só podia ser servido por um novo código plástico e pela criação de uma nova forma de percepção que fosse mais rápida. Era nesta lógica que construía as suas personagens ultra-sintéticas, que se aproximam do moderno cartoon. Neste período, é considerado um verdadeiro “mago da ironia”, e defende que a melhor forma de atingir os seus objectivos é não atacar os indivíduos mas as situações, articulando de uma forma coerente título e legenda.

Em 1910, muda-se para Lisboa, onde irá prosseguir estudos em Medicina Veterinária, juntando-se a Stuart de Carvalhais, Jorge Barradas, Pacheko, António Soares e Almada Negreiros, com quem funda a Sociedade dos Humoristas Portugueses.

Na segunda fase, a partir de 1913, o traço evolui para um certo expressionismo, próximo da corrente austríaca do mesmo período, nomeadamente Schiele e Kokoschka. Afasta-se dos humoristas, embora continue a apresentar-se nas exposições dos modernistas.

Na terceira fase, afasta-se da caricatura e envereda pela pintura. Senhoras à Mesa de Café, de 1919, revela a face de um mundanismo que criticava, num jogo de sedução e crueldade. A violência do tratamento do suporte, a definição brutal dos contornos das figuras e o cinismo que transmitem entram em consonância com as cores frias aplicadas no vestuário, que, por sua vez, contrasta com o vermelho dos lábios, concedendo-nos a ilusão da vida nocturna e de todos os seus cenários de engano. As regras da representação tornam-se instáveis nos ângulos agudos e oblíquos, como se verifica na mesa e nos elegantes copos. Retoma aqui o tema mítico do eterno feminino cruel, nas poses refinadas destas mulheres, com frios objectos de ourivesaria, em atitudes de conspiração e intriga. A mão de uma das personagens assemelha-se a uma pistola, tornando-a cúmplice de crimes premeditados, que se festejam com sorrisos maliciosos. Esta pintura é uma das últimas que realizará.

Em 1916 é incorporado no exército e, no ano seguinte, no Corpo Expedicionário Português, para combater na Primeira Guerra Mundial. Neste período, até à altura do Armistício, em 1918, quando regressa a Portugal, realiza uma série de croquis que relatam cenas de guerra(*), tratados com uma espontaneidade instantânea, como se fossem feitos por um repórter de guerra.

Em 1919, inicia-se uma outra fase: parte para Lourenço Marques, Moçambique, começa aí a sua retirada do meio artístico e exerce a sua profissão de médico veterinário. Este abandono definitivo da carreira artística, que ficou de certa forma mitificado, revela uma atitude que não deixará de se revestir de uma consciência moderna, de um desencantado niilismo.
CARLA MENDES
In
http://www.camjap.gulbenkian.pt/l1/ar%7BD2B27546-03B0-4185-A5F8-0B5ACC3E203C%7D/c%7B342aa3de-ff90-4fdc-9aa3-0f1d507b3275%7D/m1/T1.aspx
(*) Ver: Rodrigues, António, 1956-2008-  Christiano Cruz - Cenas de Guerra
» Consultar também, Gonçalves, Alda - Toponímia de Leiria - 2005, JFL (pág. 141)

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