e os Mentirosos/Aldrabões que nos complicam a vida, autênticos predadores implacáveis...
(um parêntesis só para que não os deixemos fugir do anzol)
Hoje, depois de mais de um ano sem ir ao Pedrógão, cá vim matar saudades da praia e do mar. Ao passear pela marginal dei com esta pasteleira estacionada. Velhinha, enferrujada pela maresia...
Sentei-me numa esplanada e ali estava o MAR. E alguns pescadores à linha. Mas não pescaram nada, enquanto os observei.
- Por certo que não se vai aborrecer, que é pessoa com veia poética (também não quer que se saiba).
Assim, a propósito, aqui vai um poema de Manuel Alegre que li na "Senhora das Tempestades" - Publicações Dom Quixote - 1998:
-
Décimo Poema do Pescador
.
Nem sempre o robalo vem
nem sempre ele traz aquele inexplicável e fundo
mistério de pulsar como o coração de alguém
ou talvez como o próprio coração do mundo.
.
Nem sempre me toca a graça e nem sempre está
o vento de feição. E no entanto procuro
incansavelmente procuro o não sei quê que já
muitas vezes me trouxe um coração no escuro.
.
Não há senão esse buscar. Esse incessante
navegar pelo sonho essa viagem
de Ulisses sem regresso. Como alma errante
não mais que um viajante de passagem
.
um intruso no mar um algo a mais
pela noite adiante obsessivamente procuro
na página nos astros nos canais
um verso um peixe um coração no escuro.
.
Eu pescador Ulisses alma errante
navegador da noite procuro nem sei bem
uma luz um robalo um breve instante.
O coração do mundo. Ou de ninguém. Ou de quem.
.
.............. Lisboa, 28.12.96
- "robalo" a negrito; ousadia do autor do blogue.
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