2013/05/27

retrato à pena de uma mulher sentada


desenho de jorge pinheiro

na minha mesa está pousado este
retrato à pena de uma mulher sentada.
a sua face rural e melancólica
debruça-se equânime como a fitar por dentro

as figuras de sombra no côncavo das vagas,
ou, citereia de trazer por casa,
sabe de mim, medita intimamente
as coisas certas sobre o meu trabalho.

não pergunto do olhar, nem do sorriso, nem da
serenidade. sei que é tudo inferior e devaneia
por artes da memória e de sibila, fixando uma ou outra
passagem dos sonhos e do indizível,

junto à janela quando escuta
as ressonâncias que chegam justamente ao
tampo da mesa e entram ou não entram
inquietas no papel.

Vasco Graça Moura
50 anos de atividade literária
(Não ao NAO, diz
Sim, mas, digo eu...)

@as-nunes

3 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Não conhecia este poema, mas agradou-me bastante.
Obrigada pela partilha.
Um abraço e uma boa semana

Graça Sampaio disse...

Excelente poeta VGM. Só é pena que seja politicamente tão ínvio e desonesto!

Não conhecia este poema. Nem o quadro que é acabrunhante...

a d´almeida nunes disse...

Minhas amigas

Não é que VGM o tenha dito expressamente (eu,pelo menos, não o ouvi nem li a esse respeito) mas. seguindo as recomendações do Dr. Google, cheguei a este desenho. Ajusta-se perfeitamente ao poema.

Uma semana repleta de boas notícias ;)