2012/05/03

Ana e António






Ana e António

A Ana e o António trabalhavam
na mesma empresa.
Agora foram ambos despedidos.
Lá em casa, o silêncio sentou-se
em todas as cadeiras
em volta da mesa vazia.

«Neo-Realismo» dirão os estetas
para quem ser despedido
é o preço do progresso.
Os estetas, esses, nunca
serão despedidos.

Ou julgam isso, ou julgam isso.

Mário Castrim
Poemas Maio
Trabalho, luta

@as-nunes 

2012/05/01

Como foi possível deixar que tão poucos tenham desgraçado a vida de tantos milhões?!...


Dia do TrabalhadorHoje, a Google, talvez a maior empresa multinacional de prestação de serviços da Internet e de efeitos multimedia, em fase de uma autêntica revolução nos moldes de funcionamento, abre a sua página, desta maneira. 
Quando o Dia do Trabalhador foi formalmente instituído, nem se sonhava sequer que algum dia a tecnologia das comunicações chegaria ao ponto atual, de que a Google é o expoente máximo, conjuntamente com o Windows/Microsoft como sistema operativo por excelência.
Pode-se dizer que a Google dá trabalho a muitos milhares de trabalhadores e que contribui para facilitar uma mais racional organização do trabalho, particularmente o científico e cultural.
Mas que, simultaneamente, obrigou a uma viva discussão sobre o melhor processo de evitar tantos despedimentos motivados pela revolução tecnológica atual e consequente substituição do homem pela máquina e processos automáticos de produção.
Uma verdade, porém, é incontestável.
A Humanidade é condição indissociável da natureza do próprio Homem. Logo, a tecnologia só é útil se contribuir para o bem estar do Homem.

DIA DO TRABALHADOR

Dia do Trabalhador, a mim, faz-me recordar os meus 27 anos, a comemorar o primeiro 1 de Maio em Liberdade, já lá vão 38 anos.
Uma festa indescritível, a rotunda do Marquês cheia de automóveis com bandeiras de Portugal, a circular em voltas sucessivas, buzinadelas, pessoas fora das janelas com o V da vitória, punhos cerrados, cravos vermelhos, canções revolucionárias, sorrisos de orelha a orelha, muita confraternização, afinal passámos a ser todos iguais, cheios de vida e entusiasmo, vivas e mais vivas,

Viva o 25 de Abril
Viva a Liberdade
Viva o 1º de Maio
Viva o MFA

Fascismo nunca mais

Hoje é o que se vê! 
Como foi possível deixar que tão poucos tenham desgraçado a vida de tantos milhões?!...

2012/04/29

Ao findar de Abril: "Poesia onde estás?"



Autocrítica do poeta (*)

É tão fácil dizer que saem dos olhos das mulheres andorinhas verdes
ou chamar à lua a caveira voada da flâmula dum navio pirata!

Mas a outra poesia - onde está?

A poesia que transforma de repente a música em lâmina
para romper a noite até à solidão dos archotes
que escurecem mais e mais
este abismo absurdo
sem astros de céu vivo
onde as pedras apodrecem
e as andorinhas verdes não saem dos olhos das mulheres?

Mas a outra poesia - onde está?

Esta esperança convicta
de teimar na certeza do nada
com explicações de papoilas
e esqueletos a abraçarem-se
no amor final já sem sentido de bandeiras?

Sim. Onde está?

Que palavras abre
para além da luz secreta
que os dedos dos mortos acendem no perfume das flores?

Sim. Onde estás?

- Poesia de rasgar pedras.
Poesia da solidão vencida.
Poesia das pombas assassinadas.
Poesia dos homens sem morte.

José Gomes Ferreira
Poesias III
Ed. Círculo de Leitores - 1971

(*) No original:
(Crítica à poesia das imagens aos cachos.
Como de costume, autocrítica.)
@as-nunes 

2012/04/27

Os meus olhares da minha rua


Saí de casa, saco do lixo na mão, máquina fotográfica à bandoleira, recolhi estes apontamentos fotográficos, já de regresso a casa, num dia destes, de finais de Abril de 2012. 
Esta zona dos Lourais é uma espécie de fronteira entre duas freguesias: as flores (tremoço (*), as amarelas) da linha superior medram em terreno do lado das Cortes; as giestas e os dois aspetos da rua pertencem à minha freguesia, da Barreira.

A minha rua, neste dia, vi-a assim...
-
E...já que estamos em Abril... águas mil... versos mil:


A minha rua 
é a dos Lourais
que bem se vê dela a Lua
e vastas quintas senhoriais

E muitas aves
muitas flores
sons nas claves
vários odores

Deste lado é a Barreira
lá mais abaixo as Cortes
da minha varanda altaneira
posso sentir emoções fortes

Com força a água escorre
em dias de temporal
o Rio Lis ela socorre
e leva ao Litoral.


as-nunes

(*) Tremocilha-amarela Lupinus luteus L. (Fabacea) (ver aqui, por exemplo)
ou tremoceiro-amarelo (Lupinus luteus) (como se pode ver no http://dias-com-arvores.blogspot.pt/ )
Obrigado, Luís Coelho pela dica; se aqui voltares podes fazer o favor de deixar a identificação da flor roxa?REMRELA (LUPINUS LUTEUS)
@as-nunes 

2012/04/25

Já não há cravos vermelhos?


Esperanças loucas...

Ideias vividas
frente a oportunistas,
Lutas sofridas,
traidores e egoístas. 

Valeu a pena?
Tudo vale a pena
se a esperança não morrer.

Sigamos o sete-estrelo,
façamo-nos ao mar.
Não aos velhos do Restelo,
acomodados, a sofismar.

Financeiros sem ideais!
Mais parecendo
chacais!

Portugal não pode viver
remetido a oeste
sempre a temer,
como se fosse este,
- irremediavelmente -
o nosso Fado!...

Cravos encarnados,
onde estão?!
Espezinhados, 
pelo chão!...

NÃO!...
Os ideais de Abril
não podem acabar assim, 
Não podem, NÃO!...

também pode seguir o link dum meu comentário no blogue do Agostinho (aqui)
@as-nunes

2012/04/23

Todos os dias são dias mundiais do Livro!...

O Largo 5 de Outubro de 1910, em Leiria, hoje.
Livros e mais livros, uma pequena amostra dos livros cá de casa, juntos ao longo de várias décadas...

Neste dia, oficialmente consagrado ao Livro, chegou-me, pelo correio, uma embalagem com um livro que eu comprei num alfarrabista, por sinal até se chama Nunes, o Luís Nunes, já lhe comprei vários, via internet, normalmente de poesia ou da autoria de escritores de quem já é muito difícil obter edições comerciais de livraria.
Há dias celebrou-se o 170º aniversário da morte de Antero, daí a razão de eu me decidir a procurar algo mais sobre Antero de Quental. Estou à espera de mais dois, um só com sonetos. São livros relativamente baratos, tudo é relativo, mas andam - colocados em casa, via CTT - entre os 5€ e os 7 e tal euros, às vezes um pouquito mais, quando me entusiasmo por alguma edição em particular e consigo que o acréscimo de despesa tenha cabimento de verba no meu orçamento.

Este livro, cuja capa está reproduzida na composição acima, é uma edição da Secretaria Regional de Educação e Cultura (Açores), Angra do Heroísmo, 1987. Por coincidência, o tema da capa é uma colagem com pintura de Álamo Oliveira, um grande escritor Terceirense, que ainda há três ou quatro meses esteve no Encontro de Poetas do Grupo de Alcanena, de que muito me honra fazer parte 
(como aprendiz, eu sei, mas que me têm proporcionado ótimos motivos de inspiração para uma tardia renovação do meu amor pela Poesia). 

A pp 196 do citado livro, pode ler-se este fragmento do Discurso de 7 de Março da Liga Patriótica do Norte:
(...)
" A vida actual, para ser autónoma e independente, tem de ser remodelada. A nação tem de emendar erros profundos e numerosos, acumulados durante muitos anos de imprevidência, de egoísmo, de maus governos e de corrompidos costumes públicos. Esta situação é tanto mais grave, quanto gradualmente se foi estabelecendo entre a nação e os governantes um verdadeiro divórcio, divórcio há muito latente e que a crise actual veio apenas patentear em toda a sua cruel realidade. Os governos, em Portugal, deixaram há muito de representar genuinamente os interesses e o sentir da nação. "
(...)
Estávamos na segunda metade do século XIX.

Parece impossível que hoje, 150 anos depois, ainda se possa considerar este discurso atual!...

@as-nunes

2012/04/22

Naquele tempo PPC dizia...



descobri esta obra-prima no conversa avinagrada
  • Não matemos o doente com a cura...
  • Não basta a austeridade e cortar...
  • Nós precisamos de valorizar cada vez mais a palavra...
  • O IVA não é para subir...
  • Eu não quero ser Primeiro-ministro para dar empregos ao PSD...
  • bla bla bla...bla bla bla...
-
Pacheco Pereira que me perdõe esta replicação, mas nem todos vamos ao "abrupto":
-
"temporário", 
"restituição intensa", 
"ajustamento estrutural excepcional"

Todos os dias novas palavras e expressões revelam como Orwell foi um verdadeiro precursor em perceber como o poder usa as palavras para mandar. Entre as novas aquisições da “novilíngua” encontra-se o “temporário” que passou a significar definitivo e o “ajustamento estrutural excepcional”, signé Vitor Gaspar, uma contradição nos seus termos porque se é “estrutural” não pode ser “excepcional”. Outra é a “restituição intensa” dos subsídios de Natal e férias, expressão utilizada pelo Primeiro-ministro. “Intensa” é o quê? Metade, três quartos, nada? Presume-se que signifique que em vez de ser “gradual”, passe a ser pouco “intensa”. Iluda-se quem pense que isto são jogos florais. Bem pelo contrário, são jogos do poder, destinados a não dizer nada, dizendo, ou a dizer tudo, não dizendo.
-
Cá está, há que valorizar a palavra!...
@as-nunes

2012/04/21

Abril traído



Abril sofisticado traído

Que mundo de Abril é este
Ilude-nos com desilusões
Abril tanta esperança trouxeste
Chagas agora nossos corações

Dias de chuva nos olhares
Silêncios interrogações
Terríveis estes esgares
Difusas confusas  emoções

Ao longe mais um milhafre
Impante nas suas  visões
Insuportável odor a enxofre
Sabor amargo a traições

Vergados sob tropelias mil
Leis e Decretos de maldições
Não deixemos que Abril
Se resuma a meros chavões

Leiria, 21 de Abril de 2012
António S Nunes

nota
no original usei a palavra "sofisticado" mas parece-me bem que não segui os conselhos dum dos meus mestres, Miguel Torga. Ele bem deixou escrito que a palavra tem que ser usada com a máxima preocupação e precaução também. Daí eu ter riscado uma e substituí-la por outra, mais direta ao assunto, para quê tantos sofismas e rodeios, não é, Rogério? 
@as-nunes

2012/04/20

Pilriteiro em flor...mais uma alvorada da Natureza


É só para vos lembrar 
que eu existo
todos os anos
por esta altura
cá estou
algures por aí
na borda de um caminho
a branquear o tempo
a pavonear estes brincos
alvos brilhantes 
alvoradas da Primavera
desta vez encontraram-me 
na estrada     junto
à casa episcopal
em Leiria, ao seminário.

Sou o pilriteiro!
Não se lembram?!...

@as-nunes