Este vídeo foi inspirado e complementa a minha crónica que irá ser publicada no Diário de Leiria, na próxima segunda feira, dia 31 de Outubro de 2016.
Fica aqui, desde já, o espaço para a sua reprodução...
Ei-la:
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Ei-la:
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Dentro de ti, ó Leiria.
Balada do
Encantamento
Letra e música de
D. José Paes de Almeida e Silva
Falemos,
agora, de duas das canções/baladas que mais simbolizam a cidade de Leiria, a
sua mística histórica, poética e artística em geral, e as suas gentes. Na minha
opinião, claro está, aquelas que mais contribuem para o badalar de Leiria pela
via da música, entretanto já muito divulgadas através de vídeos, serenatas de
estudantes e pelo Orfeão de Leiria, são:
A
“Canção do Porvir” e “Dentro de ti, ó Leiria”.
Vou
deixar para uma nova crónica, a história de “A Canção do Porvir”. Não é porque
para com ela tenha menos deferência, muito pelo contrário, mas porque hoje me
apetece ´ouvir` a “Balada do Encantamento”. Com certeza que me acompanharão neste gosto.
Quem
não conhece a sua letra? Pelo sim pelo não aqui fica:
Dentro de ti, ó
Leiria
Vive uma moira
encantada,
Não sabes, é
minha amada
E tem por nome
Maria.
Leiria foste um
ladrão
Leiria do rio
Lis.
Roubaste-me o
coração
E, vê lá tu, sou
feliz.
É
sempre com incontida emoção que ouço esta belíssima canção, que me habituei a saborear,
encantado, desde que cheguei a Leiria em 1966. Esta balada cantada ao modo do
fado de Coimbra acabou por se transformar num meio de consagração da histórica
- sempre bela e romântica - cidade de Leiria, que aprendi a amar como se a
minha terra natal fosse.
Conheço
duas interpretações vocais desta balada, as duas excelentes: Uma, de Janita
Salomé e outra do mesmo nível, de Manuel
Branquinho, esta gravada há 41 anos. Uma e outra versão podem ser ouvidas com
facilidade por consulta direta na internet através do motor de busca da Google.
“Dentro
de ti, ó Leiria” é uma das canções/baladas mais belas, significativas e
simbolicamente ligadas a Leiria. A sua letra e música enraizaram-se rapidamente
nas emoções de ser Leiriense e, mais tarde, adotada como balada indicativo das
serenatas da Sé de Leiria vividas pelos estudantes Universitários da cidade do
Lis… e do seu Castelo… e de Rodrigues Lobo… e do Eça, que por aí anda no Largo
da Sé… e pelo lídimo poeta Leiriense Acácio de Paiva, que nasceu na casa de
azulejos azuis “viúva lamego” em 1863… e onde se iniciou a família dos Teles e
Paiva, … etc. Foram muitas estas serenatas, no mês de Maio de cada ano, que eu
ouvi enquanto trabalhava no meu escritório no primeiro andar da casa de
família, a “Pharmácia Paiva”, naquele Largo. Foram muitos anos. Até que, por
volta do ano 2008, nos mudámos para a Barreira. Aquela balada, porém, ficou-me
nos ouvidos. Talvez para sempre…
O
seu autor, 1899-1968, D. José Paes de Almeida e Silva, nasceu em Vagos, mas a
sua ligação a Leiria ficou indelevelmente gravada no som da letra e da música
desta extraordinária balada/fado. Foi
eleito pela Academia de Coimbra como o seu filho dileto na música através de
Baladas, Canções, Operetas, Música Coral, Música Instrumental, que acabou por
ser tocada na sua Tuna, da qual chegou a ser Regente entre 1929 e 1931. Em simultâneo, sempre que necessário, foi o Maestro
do Orfeão Académico de Coimbra, o que lhe proporcionou excelentes relações de
amizade com os nomes mais sonantes do fado e da guitarra Coimbrã. O período de
1920-1930 passou para a história como a “Década de oiro da academia de Coimbra”
(Dr. Afonso de Sousa, que chegou a tocar a música de D. José à guitarra com
Artur Paredes, enquanto estudante nesta cidade).
Em
1929 a Tuna Académica de Coimbra deslocou-se a Leiria onde foi acolhida em
apoteose. Nesta altura, D. José Paes de Almeida e Silva, com a ajuda preciosa
do Dr. Américo Cortez Pinto (outro vulto Leiriense a não deixar que se perca
nas brumas da memória) conheceu D. Maria Isabel Sousa Charters de Azevedo,
daqui natural, e com ela acabou por casar.
Foi
esta ligação sentimental que o inspirou a escrever e musicar “Dentro de ti, ó
Leiria”, que ficaria celebrizada para todo o sempre como a “Balada do Encantamento”
de Leiria.
Esta
balada foi tornada pública no dia seguinte ao da sua chegada a Leiria pela voz
de encantar do célebre Edmundo Bettencourt, um dos seus amigos de boémia e
tertúlia Coimbrã. Logo a seguir voltou a ser cantada nos Paços do Concelho de
Leiria por um cantor conhecido de nome Vicente. E assim Leiria do rio Lis se rendeu
aos encantos da moura encantada que dentro dela vivia... e continuará a viver. Ad eternun…
D.
José acabou, mais tarde, por alturas de 1943, por se mudar para Leiria, onde a
família Charters de Azevedo tinha casa e propriedades nas Cortes.
A
sua paixão pela Música manteve-se inalterada e chegou a ser Maestro do Orfeão
de Leiria, que regeu, pela primeira vez em 7 de dezembro de 1948, no Teatro da
cidade, o magnífico e infamemente já demolido, Teatro D. Maria Pia.
Ler
mais no livro “D. José Paes de Almeida e Silva – Vida e Obra Musical” de Adélio
Amaro, ed. Folheto, 2015, com o apoio de Teatro Nacional de São Carlos e
Fundação Caixa Agrícola de Leiria.
Até
à próxima.