Como é meu hábito, leio um ou os dois semanários de Leiria. Que vêm a lume, um à Quinta outro à Sexta-Feira. O último que li foi o “Jornal de Leiria”, que acompanho desde o seu primeiro número,muito franzino, há 25 anos atrás. Nessa altura, a cidade de Leiria ainda não conhecia o vírus dos grandes Centros Comerciais, hoje designados por “Shopping”, que é uma expressão mais à inglesa como parece ser do gosto do Povo e da ânsia do lucro global, que passou a reger implacavelmente as nossas vidas.
Este semanário tem uma paginação muito bem conseguida e, basicamente, divide-se em várias áreas distintas:
Sociedade,Fórum,Educação,Segurança,Política,Opinião(Destacando-se neste particular, Henrique Neto, na sua qualidade de empresário e comentador de política e estratégia económica), Entrevista (nesta semana o entrevistado é Fernando Nobre, candidato a Presidente da República), Economia (Fica-se a saber que o Primeiro Ministro de Portugal, Engº José Sócrates, vai ser o orador principal no próximo Jantar-Conferência, no dia 14 de Abril de 2010, promovido pela Liga de Amigos da Casa-Museu João Soares, Cortes – Leiria, abordando o candente tema “Nova energia, nova economia”), Suplemento Arte e Cultura, “VIVER” que contém um conjunto de informações interessantes e uma rubrica, que esta semana, eu classificaria em primeiríssimo lugar no ranking das abordagens do “Jornal de Leiria”. Trata-se do “Advogado do Diabo”.
Aqui, Jorge Estrela, director da Casa-Museu João Soares, não se cansa e eu apoio-o incondicionalmente, de se referir às implicações em termos ambientais, culturais, paisagísticos e de planeamento urbanístico, que já se estão a constatar, em relação à descaracterização duma cidade como Leiria, em resultado da forma como aqui foi instalado o chamado “LeiriaShopping”.
Bem gostaria (mas não me devo alongar em demasia) de, neste ensejo, reproduzir integralmente o seu texto, muito oportuno e que poderia perfeitamente servir como mote inspirador em debates sérios, empenhados e participados, sobre o que realmente queremos que venha a ser a nossa vida, presente e a dos nossos filhos e netos. O país está a ser inundado de “Shoppings”, “Fóruns”, etc. copiados uns dos outros. De tal forma que, quando entramos nestas áreas comerciais e de lazer, corremos o risco de nos confundirmos e nem sabermos em que cidade estamos naquele preciso momento.Leiria, Lisboa, Porto, Coimbra, Viseu, sei lá que mais!
Ainda assim permito-me transcrever, com a devida vénia do Jornal e do seu autor:
“Numa altura em que se constata o esvaziamento do centro histórico, que perdeu um quarto dos habitantes em poucos anos, Leiria é dotada do equipamento que menos lhe interessa, ou seja, um chamariz para os não visitantes, em que a cidade é que paga a factura.
O engenheiro Belmiro de Azevedo erige-se a si próprio como paradigma do sucesso económico exortando o Estado a seguir-lhe o exemplo, ou seja, a fazer aquilo que ele quer, vê-se à custa de quê, da paisagem, das populações, do ambiente e das cidades. A boa economia é aquela em que se levantam rampas e canalizam pessoas para as portas escancaradas por onde vai esvaziando a sua quinquilharia.”