Fragmento duma foto da "Revista do Expresso" de Março de 2015
Para amanhã, está acordado que se vai falar de Herberto Helder.
Sabe-se como Herberto Helder é um poeta difícil. Pela sua personalidade e pela sua obra.
De modo que me lembrei de deixar aqui algumas notas, soltas e dispersas, só para minha reflexão e aprendizagem. Ao mesmo tempo fica a partilha com os leitores que por aqui aportarem.
Os meios de consulta bio-bibliográfica que tenho à mão são:
- A Revista do Expresso - nº 2213 - 28/Março/2015
Herberto Helder 1930-2015;
- Um vídeo no Youtube https://www.youtube.com/watch?t=2237&v=-p0CnJ-FW_E;
- Ofício Cantante (poesia completa) - ed. Assírio & Alvim, 2009;
- O Bebedor Nocturno - poemas mudados para português, ed. Assírio & Alvim, 2ª ed. 2013.
- Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa - M.Alberta Menéres e E.M. de Melo e Cstro, Ed. Livraria Moares Editora, 1971;
- Iniciação na Literatura Portuguesa - António José Saraiva - Ed. Público/Gradiva 1996.
É notóreo que Herberto Helder era avesso a entrevistas, chegando mesmo a pedir aos seus amigos que não respondessem a perguntas que lhes fossem endereçadas para efeitos de reportagens.
De qualquer modo, no vídeo acima referido, consegue-se um trabalho elucidativo sobre a vida e obra de Herberto. Vi esse vídeo várias vezes e fiquei bastante esclarecido sobre as inúmeras interrogações que tinha sobre quem foi Herberto Helder.
Um dos seus primeiros poemas, escrito na parede da república ("Real República ´Palácio da Loucura´") onde viveu em Coimbra, por volta dos 20 anos:
História
O senhor do monóculo
usava uma boca desdenhosa
e na botoeira, a insolência
duma rosa.
Era o poeta.
Quando passava
– figura sutil e correcta,
toda a gente dizia
que era o poeta.
– Era, portanto, o poeta...
Mas um dia
o senhor do monóculo
quebrou o monóculo,
guardou a boca desdenhosa
e esqueceu na mesa de cabeceira
a flor que punha na botoeira,
a insolente rosa...
Entrou na taberna e bebeu,
cingiu o corpo das prostitutas,
jogou aos dados e perdeu,
deu a mãos aos operários,
beijou todos os calvários
– e aprendeu.
E o mundo
que o chamava poeta,
esqueceu;
e quando o via passar
limitava-se a exclamar:
– O vagabundo!
Mas o senhor do antigo monóculo,
da antiga figura subtil e correcta,
sentia vozes dentro de si,
vozes de júbilo que diziam:
– É o Poeta! É o Poeta!...
Herberto Helder
a última estrofe do poema acima, tal como se encontra na parede da "república".
(continua?)...