2006/08/04

II – O Judaísmo e a Palestina

A zona do Médio Oriente que com o decorrer dos séculos passou a chamar-se Palestina, foi, no princípio do segundo milénio antes de Cristo habitada por diversas etnias sedentárias designadas por cananeus. Mais a Norte, na Mesopotâmia (actual Iraque), na Síria e no Líbano, viviam, entretanto, povos semitas de variadas origens (Arameus, Amoritas, Caldeus).
No séc. XV a.C. tribos aramaicas instalam-se na região de Canaã (a Palestina) e dão vida à cidade que hoje se chama Naplusa. Esses povos passam a designar-se por “Ibrim(1).
Segundo narra a Bíblia (capítulo XII do Génesis) este acontecimento está directamente relacionado com o aparecimento de Abraão, vindo da cidade de Ur.
Muitos destes Hebreus prosseguem na caminhada até ao Egipto onde se sedentarizam em terras oferecidas pelos faraós e onde se cruzam com outros povos.
Por volta do ano de 1250 a.C. uma nova dinastia sobe ao poder no Egipto que acaba por reduzir os Hebreus à escravidão até que, no séc. XI a.C., dirigidos por Moisés, os Hebreus conseguem evadir-se, atravessam o Sinai, sobem os montes Moabe, na Transjordânia (actual Jordânia). Segundo a Bíblia, é desta época a revelação divina, através da qual se firma uma aliança entre Deus, o Único, Jeová, e o seu povo eleito, os Hebreus. Moisés, ainda segundo a Bíblia, recebe a tábua dos Dez Mandamentos, directamente de Jeová.
A partir daqui os Hebreus tomam Canaã, depois de destruírem Jericó, sob o comando de Josué. Para o efeito tiveram de franquear o rio Jordão.
Por volta de 1.200 a.C. chegam à Palestina os Filisteus (2), que se cruzaram com a gente de Canaã, por sua vez já uma mistura de povos completamente mestiçada com os Hebreus, e organizam numa confederação de Povos para entrar em disputa com os Hebreus vindos do Egipto.
Depois de muitas lutas, David, considerado o primeiro Rei dos Hebreus (1066-996 a.C.), vence os Filisteus e impôs um império hebreu que se estendia do Eufrates ao Nilo (3). No seu reinado foi tomada a cidade de Jebus (dos Jebuseus), que passou a ser designada por Jerusalém e a ser a capital dos Hebreus.
Salomão, filho de David, que lhe sucedeu como rei dos Hebreus, transformou Jerusalém na metrópole religiosa do Judaísmo (4)
Após a morte de Salomão há uma cisão entre as tribos deste enorme reino dos Hebreus que se cinde em dois: Judá e Benjamim que constituem o reino de Judá, que detém o poder sobre Jerusalém; as tribos de ISRAEL que formam o reino de Samária, entre 926 a 722 a.C. com a capital política em Sicheme (actual Naplusa).
As tribos de Israel lutam ferozmente entre si e acabam por ser deportadas para a Babilónia, depois de os Assírios e os Babilónios os atacarem e submeterem.(5)
O reino de Judá teve uma duração de 925 a 587 a.C. mas teve o mesmo destino que os de Israel, depois de duas revoltas a segunda das quais é esmagada por Nabucodonosor e durante a qual mandou arrasar o templo de Jerusalém.(6)
Depois dos Persas terem conquistado a Babilónia, em 539 a.C. o rei Ciro liberta os judeus e estes reentram na Palestina. O templo é reconstruído a suas expensas.
Depois de todas estas vicissitudes, o povo Hebreu, começa a afrontar-se por três tendências: integração, assimilação e racismo teocrático(7).
No decorrer dos 3 séculos imediatamente antecedentes a Cristo os Judeus conseguiram reconstituir praticamente todo o antigo império de David e houve inúmeros povos da zona que se converteram ao Judaísmo.
Os Romanos invadem a Palestina em 63 a.C. e ocupam Jerusalém. O célebre Herodes o Grande é quem reina no tempo em que surge Jesus.
Jesus é, então, identificado como “um certo palestiniano de fé judaica”.
Segundo algumas opiniões, só em 49 d.C. é que surgiu definitivamente o princípio da segunda religião monoteísta do Mundo: o Cristianismo. A partir duma cisão do Judaísmo.
-
(1) Os que vêm da outra margem do rio já que eles transpuseram o Eufrates para se instalarem em Canaã. Do termo “ibrim” acabou por resultar no nome “HEBREUS”.
(2) Povos vindos de Creta e que fundaram as cidades de Gaza, Ascalon, Ecron e Gad ( a Pentápole). Formaram uma confederação com outros povos vindos das Ilhas do Mar Egeu a que se passou a chamar “a liga do mar”.
(3) Esta razão histórica fundamentou a teoria dos sionistas judeus que, a partir do séc. XIX, começaram a reivindicar um Estado que abrangesse toda aquela área.
(4) A primeira religião monoteísta do Mundo.
(5) Os babilónios povoaram então a Samária (reino de Israel), e mestiçaram-se com os hebreus. Estes povos, os Samaritanos, ainda têm descendentes a viver em Naplusa.
(6) O Antigo Testamento foi escrito no decorrer deste exílio.
(7) É nesta altura que se destacam dois sacerdotes que escrevem as chamadas “Crónicas”. São eles Esdras e Nehemias. É nessa data que é formulada a “Lei” que até hoje regula a vida dos judeus e do Estado de Israel: interdição do casamento misto, vida quotidiana pautada pela Lei, que os judeus são obrigados a conhecer, interpretar, explicar. Estes livros integram a “Bíblia2000” – publicações Alfa.
-
(continua)

5 comentários:

carlos ponte disse...

Louvável trabalho este a que meteu mãos! Continuarei a segui-lo atentamente.
Um abraço,
Carlos Ponte

Moura disse...

Jesus nasceu judeu, daí o ter sido levado ao templo onde lhe foi feita a circuncizão. A questão que se coloca aos judeus é a seguinte: é ele o Messias que tanto anseiam? Por isso uns seguem-no e outros querem-no riscado do mapa...porque segundo eles o Messias não se apresentaria de modo tão simples e humilde. O fim todos sabem: a cruz! E os judeus lá continuaram a esperar pelo seu Messias, enquanto que outros passaram a ter na "Boa Nova" um novo ensinamento de vida assente num DEUS AMOR e não num DEUS CASTIGADOR. São as duas faces de um Mesmo DEUS que nos aparece no ANTIGO TESTAMENTO e no NOVO TESTAMENTO. Por isso, Jesus está sempre junto daqueles que são marginalizados pela sociedade da época, porque segundo eles seriam assim por serem os "castigados por Deus".
É um tema interessante que ajuda a entender os conflitos actuais. Mas cuidado, é bom separar o lado espiritual do lado temporal (leia-se político!).

Citadino Kane disse...

António,
Ótimo o histórico sobre o Oriente Médio...
Virei mais vezes visitá-lo.
Um forte abraço,
Pedro Nelito

a d´almeida nunes disse...

Muito obrigado, caros amigos, pelas vossas palavras. Considero-as um incentivo para continuar a partilhar a informação sobre este tema tão Antigo e tão actual, que estou a recolher e a sintetizar.
Um grande abraço para cada um e para cada qual.
António

Tozé Franco disse...

Excelente trabalho!
Parabéns