Hoje comemora-se o Centenário exacto do nascimento deste grande vulto das letras e da Cultura portuguesas do século XX.
É-me grato, em mais esta oportunidade, deixar aqui assinalado o facto de Miguel Torga ter vivido, embora por pouco tempo, em Leiria
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"Viveu em Leiria, na casa que existiu na Rua Comandante João Belo, que fazia esquina em frente à actual Casa Iglésias e onde exereceu a sua actividade médica." (conforme Boletim da Associação dos Antigos Alunos da Escola Domingos Sequeira - "Lucerna" e "Toponímia de Leiria" de Alda Sales, ed. da Junta de freguesia de Leiria).
Posso acrescentar que essa casa se situaria, em tangente com o Largo Marechal Gomes da Costa. Como curiosidade/coincidência, nessa mesma zona, está colocada uma estátua de Afonso Lopes Vieira, outro grande escritor/poeta, séc. XIX/XX, intimamente ligado a Leiria.
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"Estou a reportar-me ao primeiro volume do seu numeroso Diário, onde Torga registaria, uma semana após, a sua prisão deste modo:
Cadeia de Leiria, 30 de Novembro de 1939
Cadeia de Leiria, 30 de Novembro de 1939
EXORTAÇÃO
Meu irmão na distância, homem
Que nesta mesma cama hás-de sofrer:
Que nem a terra nem o céu te domem;
Nenhuma dor te impeça de viver!
A página seguinte do Diário – I já é escrita na cadeia do Aljube, em Lisboa, mas apenas a 6 de Dezembro. E, encarcerado pelo menos até 1 de Fevereiro de 1940, escreverá ainda cinco poemas (sempre poesia, é curioso, embora nos seus Diários predomine a prosa)."
(conforme Zé Oliveira (cartoonista do "Região de Leiria") aqui)-
«1939 …Edita “O Quarto Dia” d” A Criação do Mundo, um dos poucos testemunhos sobre a Guerra Civil de Espanha que em Portugal foram produzidos a partir de uma vivência in loco e publicados durante o conflito. A descrição crua de uma Espanha devastada pela luta fratricida e dominada pelo franquismo, e também uma Itália arrebatada pelos discursos de Mussolini, leva Miguel Torga às cadeias de Salazar. O livro é imediatamente apreendido, e o autor é preso em Leiria, e depois levado para o Aljube.... "
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A única evocação de Torga em Leiria consiste no nome duma rua, a Rua Miguel Torga, que vai da Rua da Fábrica do Papel à Avenida N. Sra. de Fátima, conforme deliberação da Câmara Municipal em 4 de Fevereiro de 1977.
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Duas notas dissonantes:
1) Não tive conhecimento de que em Leiria se tivesse evocado data tão significativa; afinal Torga, Dr. Adolfo Rocha, exerceu medicina, durante algum tempo, na cidade do Lis. Teria sido uma boa oportunidade para se dar relevo à sua ligação à cidade de Leiria. Um busto ao lado desta placa toponímica (requalificando este trecho da parede do prédio que se vê na foto), por exemplo, poderia ser uma boa forma de se homenagear tão emérito vulto da nossa história contemporânea.
2) Será que as cerimónias que tiveram lugar ontem, em Coimbra, a inauguração da Casa-Museu "Miguel Torga" e o memorial "Torga" na ponte de Santa Clara, precisamente no dia em que se completaram 100 anos sobre a data do nascimento do grande Torga, não mereciam maior atenção por parte do Governo de Portugal?
7 comentários:
Curiosa a coincidência de assuntos... pensava eu em pesquisar um pouco mais e escrever sobre uma época triste de nossa história brasileira, da qual pouquíssimo sei, mas que deixaram marcas profundas em muitos de meus ídolos da música, a ditadura.
Ontem depois de acordar com uma crise de bronquite na madrugada, liguei a TV e assisti boquiaberta um filme sobre este assunto e tão impressionada fiquei que não conseguia mais conciliar o sono, mesmo passada a crise e mesmo tendo que acordar as seis da manhã (já eram quatro). Neste filme, uma espanhola faz referência a perseguição sofrida pelos espanhóis na época de Franco, e menciona de leve que tudo seria a mesma coisa, (a perseguição lá e aqui no Brasil pelos getulistas)...
Breve e feliz resenha da vida de Miguel Torga, nomeadamente em Coimbra.
Nem Leiria nem o Governo, de facto, merecem boa nota no que se refere à comemoração do dia do centenário do nascimento do grande prosador e poeta.
Um abraço e bom feriado.
http://afontenova.blogspot.com
digo: nomeadamente em Leiria.
Um grande poeta e escritor, vertical como o sao os grandes homens das nossas serra, e duro como o granito que nelas habita.
Parabens pelo centenario, que ja nao viu em vida, e tambem a si por no-lo lembrar.
Um abraco amigo do d'Algodres.
Sou de Leiria, vivo em Matosinhos e vejo aqui a oportunidade de re-conhecer a minha cidade natal.
Bem haja pela iniciativa.
Carla
Os Blogues GeoLeiria e AstroLeiria, entre outros em que eu escrevo, comemoraram a data. É pena que tão grande poeta, que viveu na nossa cidade de Leiria, não fosse recordado por outros, nomeadamente as autoridades municipais...
Embora um tanto fora de tempo, venho deixar, amigo Nunes, um abraço de solidariedade pelo esforçado exemplo de cidadania que vem demonstrando com o seu trabalho de divulgação, que está diametralmente oposto àquele mínimo esforço que, por obrigação (paga com salário de oito horas/dia)os/as tartufos/as da nossa política local deviam dispender e não dispendem. É ignóbil (direi: pornográfica) a ignorância deles (ou, em vez de ignorância, será "simples" maldade?)
Abraço, outro
Zé
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