Quando em 1966 cheguei a Leiria, um dos primeiros locais que visitei foi, inevitavelmente, o Castelo de Leiria.
E lá estava o Snr. Basílio, carinhosamente tratado pelo alcaide do Castelo. E assim ficou para a posteridade: o último "alcaide" do Castelo de Leiria.
Não podia deixar passar este infausto evento sem uma referência, singela que seja, neste meu blogue.
O snr. Basíllio foi um homem de sete ofícios. Um dos que eu posso comprovar foi o de mecânico de cofres. Uma ocasião, por volta do ano de 1979, era eu o responsável do Departamento Financeiro da firma, já extinta, Carvalho & Catarro, Lda. no Alto Vieiro, Leiria. Precisava de resolver uns assuntos inadiáveis (estávamos aliás na altura do pagamento dos ordenados do pessoal, já nessa época as finanças estavam muito periclitantes para a empresa e para os trabalhadores) e tinha absoluta necessidade de aceder ao cofre. Intento gorado. O sistema de abertura não funcionava. Chamou-se o Snr. Basílio. Depois de umas quantas tentativas lá se conseguiu resolver o problema e o cofre foi aberto, graças à sua persistência e engenho.
Basílio Artur Pereira nasceu a 17 de Agosto de 1913 no "Bairro dos Anjos", Leiria e foi, durante toda a sua vida, um dos mais típicos e considerados personagens da cidade de Leiria.
Em 1952, Basílio Artur Pereira, aceitou o convite que lhe foi endereçado pelo célebre Arquitecto Ernesto Korrodi (*), para trabalhar como guarda permanente do Castelo de Leiria, daí lhe advindo o cognome de "alcaide" do Castelo. Esta tarefa não tinha segredos para o novo "alcaide" pois já o seu avô e o seu pai tinham desempenhado funções idênticas naquele castelo.
Nas duas últimas décadas da sua longa vida dedicou-se a colaborar com os jornais e rádios locais sempre com muita vivacidade e uma capacidade de memória fantásticas. Uma parte das muitas histórias que sabia acerca do castelo, das personalidades que por lá passaram e da cidade em geral, escreveu-as num livro "As minhas lembranças". Bem tentei comprá-lo, recentemente. Já está esgotado há uns anos. Não admira. As histórias que nos conta nesse seu livro são de uma sinceridade a toda a prova. Um autêntico manancial de informação viva que perpassou por Leiria, as suas gentes, o seu Castelo, durante quase todo o século XX.
O último "alcaide" do Castelo de Leiria também era poeta:
Alguns versos soltos... à guiza de preito de saudade e homenagem:
“Qual dia qual hora
Que os homens em fraterno
Se abraçarão
Em amizade nos dêem
A certeza
Que em cada lar
Nunca falta pão.”
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"Porque não um mundo mais feliz?"
Sublinha o "Diário de Leiria" de hoje, na sua segunda página, toda dedicada a esta figura que agora partiu desta vida, talvez descontente, ao contrário do que sempre mostrou no contacto com os amigos, que eram praticamente todos os Leirienses!
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(*) Leia-se a obra ímpar "Introdução à história do Castelo de Leiria", Ed. da CMLeiria, Prof. Dr. Saul António Gomes, a que já aqui se fez a devida e merecida referência. O arquitecto Korrodi foi o grande impulsionador das obras de restauro do Castelo de Leiria, na primeira metade do séc. XX e um dos autores dos projectos de obras de vulto, ainda hoje das mais admiradas em Leiria, pelo seu estilo característico e robustez das construções.