2010/08/04

FOTOGRAFIA: modos de olhar, ver e sentir...

Olá! Muito provavelmente sou descendente dum gato de D.Afonso Henriques...
vivo aqui no sopé do monte do Castelo de Leiria!... 
Olhem o meu olhar!... Que me dizem?


Há quase 50 anos a fotografar...
Hobby
Reportagem
Poesia
Crónica
História
Ensaio
Companhia de uma vida!...
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O FOTOGRAFO

Dificil fotografar o silêncio
Entretanto tentei .Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho,ninguem passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Por fim eu enxerguei a nuvem da calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski - seu criador.
Fotografei a nuvem na calça e o poeta.
Nenhum outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.

Manoel de Barros,2000.

in http://forum.brfoto.com.br/index.php?showtopic=8883
Posted by Picasa

4 comentários:

Anónimo disse...

Tudo lindo! Mas o olhar do gato...
maravilhoso!
Beijo.
isa.

Manuela Freitas disse...

Excelente Nunes! As fotografias e o poema, o fotógrafo sempre naquela inquietação de fotografar o impossível!...
Quanto ao gato, muito nobreza!...


Ode ao Gato
Tu e eu temos de permeio
a rebeldia que desassossega,
a matéria compulsiva dos sentidos.
Que ninguém nos dome,
que ninguém tente
reduzir-nos ao silêncio branco da cinza,
pois nós temos fôlegos largos
de vento e de névoa
para de novo nos erguermos
e, sobre o desconsolo dos escombros,
formarmos o salto
que leva à glória ou à morte,
conforme a harmonia dos astros
e a regra elementar do destino.

José Jorge Letria, in "Animália Odes aos Bichos"

Um grande abraço,
Manuela

Unknown disse...

O olhar do gato não me diz nada. Os meus só falam comigo quando querem comida.

Fotografar o silêncio da madrugada foi uma escolha acertada.
É um bonito poema com mensagens vivas. É preciso estar atento para captar essas imagens que são únicas.

Graça Sampaio disse...

Hum! Que gato! De olhos amarelos! Nunca tive um desses malhados de amarelo e preto. Imponente, o gato!