https://dispersamente.blogspot.com/2013/09/acacio-de-paiva-lancamento-do-livro.html
Minhas Senhoras
Meus Senhores
Que mais poderei acrescentar
ao que já aqui foi dito com o maior brilhantismo pelos oradores que me
precederam?
Quer o Dr. Orlando Cardoso,
quer o Dr. Arménio Vasconcelos, conseguiram, como era expetctável, duma forma
clara e precisa, falar sobre o poeta,
jornalista e dramaturgo de mérito reconhecido mas pouco lembrado, que é o
ilustre leiriense, Acácio de Paiva.
Como autor do presente
trabalho, só me resta agradecer toda a disponibilidade e complacência com que
se referiram ao livro “Falando de Acácio de Paiva”
como se de uma obra-prima da literatura se tratasse. Bondade a vossa, caros
amigos, que para tão altos voos não tenho asas.
Esta minha intervenção visará, muito simplesmente, deixar aqui uns tópicos sobre as razões que me levaram a deitar mãos a este empreendimento.
Ocorre-me começar desta
forma:
«Quanto a glória… tanto se me dá…como se me deu deu!...»
Era assim que chegava a
exclamar Acácio de Paiva sempre que os seus amigos o aconselhavam a que
publicasse os seus escritos, a sua espontânea, prolífica e dispersa poesia, em
particular, lançados aos quatro ventos no efémero dos jornais e revistas.
Na verdade, o único livro que Acácio de Paiva publicou foi, como é sabido, “Fábulas e Historietas”, ilustradas por Vasco Lopes de Mendonça, em 1929.
(sobrinho de Rafael e Columbano Bordalo Pinheiro)
Poder-se-á, então, perguntar sobre a razão que me levou a mim, a aceitar o desafio de escrever um livro sobre Acácio de Paiva?
Pois bem.
Há muitos anos que, aqui e ali, muito especialmente com o advento da Internet, comecei a escrever notas soltas e transcrições dos seus poemas que, só meia dúzia de pessoas, as que tinham acesso ao livro, edição da Câmara Municipal de Leiria, 1988, Antologia de Poesia de Acácio de Paiva, conheciam da sua existência. Eu próprio só comecei a perceber da real qualidade e emoção da sua poesia por influência da minha mulher Zaida. Foram muitas as vezes em que a ouvi recitar os seus versos, muito especialmente, aquele soneto a Leiria, que começa assim:
Minha terra velhinha! Assim te quero,
(…)
Em diversas oportunidades, sempre que se falava de Acácio de Paiva e da falta que se sentia de mais informação sobre a sua vida e obra, na ausência de outros voluntários, lá me propunha eu, ciente, no entanto, de que a tarefa de coligir a informação que se sabia existir, mas que estava muito dispersa, requeria o máximo de dedicação e entusiasmo.
Bem posso garantir que o livro que agora é dado à estampa acaba por ser o corolário de imensas tentativas goradas até que, finalmente, no ensejo do 150º Aniversário do Nascimento de Acácio de Paiva, e por insistência da Junta de Freguesia de Leiria, se está a consumar a sua edição.
O real objetivo deste livro é precisamente dar a conhecer ao público em geral que o “Altíssimo Lírico” e o “Maior Humorista dos Poetas portugueses”, Acácio de Paiva, desenvolveu uma atividade literária muito mais abrangente do que a que é comummente divulgada.
Não foi só um poeta, um
grande poeta.
Demonstrou, outrossim, ser
um grande jornalista, seja como redator, cronista e crítico com colaborações
assíduas nos mais conceituados jornais e revistas da época, e numa vastidão de
jornais locais espalhados um pouco por todo o país, seja como diretor que foi
dos suplementos do Século, o Século Ilustrado e o Século Cómico,
initerruptamente durante três décadas, seja também a escrever como tradutor e
autor consagrado para o Teatro de Revista, tão em voga à época da sua vida
durante os primeiros lustros do século vinte.
Nunca será demais relevar
que esta publicação só foi possível, graças ao apoio editorial da Junta de
Freguesia de Leiria, cujo estímulo da sua Presidente, Laura Esperança, foi
determinante para o autor se impor a si próprio como que um dever e uma
obrigação moral de coligir toda a informação esparsa sobre a vida e obra de
Acácio de Paiva, de modo a que este trabalho pudesse ser tornado público ainda
no decorrer deste ano de 2013, precisamente o ano em que se comemoram os 150
anos do seu nascimento.
Convém que conste, muito sinceramente o digo, que os inevitáveis caprichos do Tempo e «de espaço», poderão ter aqui o seu quinhão de responsabilidade por algumas lacunas que possam vir a ser encontradas. De qualquer modo, o autor, assume-se, desde já, em qualquer circunstância, o único responsável pela escolha do método de abordagem da estrutura do presente livro e do seu conteúdo, por muito incompleto que ele se possa apresentar.
Não me vou alongar em mais considerações já que, na Introdução, escrevo o quanto baste para se entenderem os objetivos que se pretendem alcançar e que, reiteradamente, aqui e agora voltam a ser referidos.
Uma coisa é certa.
Não se espere que este livro
seja um tratado académico de História Literária.
Na sua generalidade, os textos (enquanto reflexos dos pressupostos críticos e biográficos de quem os escreveu) e fragmentos de jornais e revistas aqui coligidos pretendem, muito simplesmente, contribuir para se compreender a «atmosfera» em que decorreu a vida literária de Acácio de Paiva, nas suas múltiplas facetas; como poeta lírico e humorista, jornalista, cronista, crítico literário e dramaturgo.
Se conseguir que Acácio de Paiva passe a ser objeto de mais atenção por parte dos críticos literários encartados e, dessa forma, a sua obra se torne mais acessível ao grande público, leiriense e não só, dar-me-ei por muito feliz e compensado pelo trabalho despendido.
Não posso terminar sem deixar aqui o penhor dos meus agradecimentos a várias pessoas, sem cujo apoio não teria conseguido levar a cabo esta extraordinária missão que foi escrever o livro que agora se apresenta à vossa consideração:
1) à minha mulher, Zaida
Manuela, que, sobretudo durante estes últimos nove meses, dias e noites com
poucas pausas para descanso, me aturou com toda a paciência deste mundo, sempre
“falando de Acácio de Paiva”;
2) à sra. Presidente da
Junta de Leiria, Dra. Laura Esperança, pela sua persistência e espírito de
missão que demonstrou ao conseguir motivar-me para este trabalho;
3) à hemeroteca digital da
Câmara Municipal de Lisboa;
4) aos serviços da Biblioteca
Afonso Lopes Vieira, em Leiria;
5) aos Arquivos Distritais
de Leiria e do Porto;
6) aos meus amigos, que tão
bem deram voz a alguns poemas de Acácio de Paiva: a Isabel Soares; o José Vaz;
o Paulo Costa;
7) à minha neta Mafalda que
compôs a capa/contracapa deste trabalho;
8) aos meus amigos da
tertúlia de poetas da Biblioteca Municipal de Alcanena e dos Serões Literários
das Cortes;
9) aos meus amigos da
blogosfera, particularmente, do blogue “ColipoLeiria”, de Ofélia Pereira, pela
qualidade e oportunidade de
variadíssimas informações que tem vindo a coligir e a partilhar na
internet;
10) ao Luis Camilo Alves,
bisneto de Acácio de Paiva, pelas informações importantíssimas que me
proporcionou e pela sua disponibilidade em colaborar comigo no decorrer deste
trabalho;
11) e, claro, à boa
compreensão das netas de Acácio de Paiva, que muito me ajudou a conseguir o
equilíbrio do texto concernente a alguns dados mais intimamente familiares, que
doutro modo, poderiam resultar em eventuais imprecisões que, como é de esperar,
num trabalho deste género, serão de evitar a todo o transe. Bem bastam as
gralhas que, inadvertidamente, conseguem, ainda assim, escapar à malha densa
que terão de ultrapassar…
É com enorme comoção que consagro as páginas deste livro à memória de Acácio Sampaio de Teles e Paiva (Leiria, 1863 – Olival, 1944).
Para terminar - muito agradecendo o favor da vossa paciência e atenção - gostaria de o fazer dizendo um soneto que Acácio de Paiva dedicou, enternecidamente, à sua neta Constança… aqui presente e que, desta forma, também saúdo…
Leiria, 6 de Setembro de
2013
António
Almeida Santos Nunes
A MINHA NETA
Tens
um mês de nascida – e eu tantos, tantos
Que
nem posso contar! Endoidecia!
Quantos
mais te verei, minha Maria
Constança,
filha do meu filho? Quantos?
Chegarás
tu a conhecer-me um dia?
Terás
paciência para ler os cantos
(Teu
pai que os mostre aos teus olhitos santos…)
Onde
eu tentava uns longes de poesia?
No
berço ainda, não me compreendes…
Viverei
até ver-te mulherzinha?
Até
que fales? Brinques? Deus o sabe!
Com
teus dedos, no entanto, já me prendes
E
na palma, que é nada ao pé da minha
Meu
coração já largamente cabe!
Acácio de Paiva
p.
133 “Acácio de Paiva – Poemas”, ed. CML 1988
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