Post Scriptum (7Maio2010):
Tenho andado a estudar Mário de Sá-Carneiro, um poeta complicado, amigo e confidente de Fernando Pessoa, que sobre ele escreveu: Mário de Sá-Carneiro não tem biografia, só génio.
Porquê, para quê, nesta altura da minha vida, deveria interrogar-me? Porque sim, porque não sou capaz de funcionar sem ser desta forma dispersiva...
Por isso é que vem a propósito. Virá?...
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Sentir tudo
de todas as maneiras,
Ter todas as opiniões,
Ser sincero
contradizendo-se
a cada minuto,
Desagradar a si-próprio
pela plena liberdade
de espírito,
E amar as coisas
como Deus.
Álvaro de Campos
in Passagem das Horas
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Porque o Benfica está prestes a ser Campeão de Futebol
Porque continuo a ocupar uma grande parte do meu tempo
A lidar com números adjectivados com o Euro
A contabilizar as colectas para o Fisco
A sentir que este trabalho é inglório
Que os Euros que se arrecadam
com os Impostos
Não têm servido senão para malabarismos
Porque o Presidente da República
Vai conversar com ex-Ministros das Finanças
que lhe vão relatar o que se deve fazer
esquecendo-se daquilo que não fizeram
enquanto passaram pelos Governos anteriores
Porque Manuel Alegre
Um grande poeta do PS
mas de que eu me habituei a ouvir
e a ler quer a sua poesia quer a sua prosa
abandonou a sua estratégia de miúdo
reguila e refilão
até se transformar no actual
que já não parece ser
o miúdo que pregava pregos numa tábua
Porque quer a todo o custo
ver se ainda consegue ser Presidente da República
Por tudo isto me tenho mantido
(ou já não o estou a conseguir?)
em actividade na blogosfera
com este meu "dispersamente..."
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Retomando o tema que haverá que realçar (mais lá para diante, talvez, já eu possa aqui escrever algo do que estou a aprender), vou permitir-me transcrever um excerto do Poema VI, "Dispersão" do único livro de poesia que publicou, com este preciso nome, "DISPERSÃO", preparado por si já em 1913, em tempo do início desta nossa República, cujo Centenário agora estamos a comemorar.
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Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...
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