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2012/10/30

Maria Lucília Moita: em Alcanena, uma justa homenagem a uma pintora de mérito





Aspetos de pormenor da sala da biblioteca municipal de Alcanena onde está exposto diverso material (outubro-novembro de 2012) que nos pretende ajudar a entrar no ambiente criado à volta da vida e obra da pintora e escritora Maria Lucília Moita

Aqui deixo, em jeito de registo para a memória deste blogue, e como singelo contributo para a divulgação do seu trabalho artístico e literário, este apontamento fotográfico captado no passado sábado, antes de mais uma sessão de tertúlia de poesia, no decorrer da qual de reviu o trabalho e a obra de Natália Correia.
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A pintora Maria Lucília Moita, considerada uma das últimas herdeiras dos grandes pintores naturalistas portugueses como Silva Porto e Henrique Pousão, morreu em 22 de Agosto de 2011, aos 82 anos em Abrantes, onde residia. 

Lucília Moita nasceu em Alcanena em 1928 mas, embora longe dos grandes centros artísticos e culturais, não deixou de fortalecer uma carreira, tornando-se numa personalidade cultural contemporânea e uma das pintoras mais conhecidas e premiadas da região.

Abrantes foi a sua terra de acolhimento, ali residindo desde 1954.

Há alguns anos que na sua própria casa abria as portas do seu atelier a visitas de grupos escolares, num gesto de serviço à comunidade local. «A pintura para mim não é um passatempo, é uma exigência», costumava dizer.

A sua arte está representada em colecções particulares nacionais e estrangeiras e ainda em museus como o do Chiado, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Museu José Malhoa, Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Museu de Setúbal e outros.

Em comunicado, por alturas do seu falecimento, a Câmara Municipal de Abrantes «lamenta com pesar o desaparecimento de uma figura ímpar da cultura local e nacional, recordando a vasta obra artística e o seu carácter humanista».

Maria Lucília Moita cedeu uma grande parte do seu espólio ao município de Abrantes, do qual fazem parte quadros a óleo, um vasto conjunto de desenhos e diversa documentação que enquadra a sua vida e obra, peças e material que integrarão o núcleo de pintura com o seu nome, a instalar no futuro Museu Ibérico de Arqueologia e Arte.

(texto retirado da internet; mais e melhor informação se pode obter consultando a biblioteca municipal de Alcanena)

2012/10/26

Invocando Natália Correia, tão fartos que estamos desta guerrilha permanente em tempos de austeridade febril e agoirenta!

 Quem, no outono de 2012, sai da Marinha Grande a caminho de S. Pedro de Moel...
Quem está na rotunda antes de subir para o Sítio da Nazaré e olha, num fim de tarde de outono, para o mar...


ODE À PAZ

Pela verdade, pelo riso, pela luz, e pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre  as portas da História,
……………………………….. Deixa passar a Vida!

Natália Correia
1989
(Vai-se dizer poesia
e falar da poetisa,
na biblioteca municipal
de Alcanena, 
sábado que vem)

2012/10/07

Portugal e o mundo


Assim vai o mundo

Do cimo da alta montanha
Eu vi o mundo a passar,
E vi tanta coisa estranha
Que não dá p´ra explicar.

Vi guerras por ambição,
Vi violência e cobardia,
Vi tanta corrupção,
Vi famintos em agonia.

Tanta gente sem trabalho
Buscando a esmola do pão,
P´ra matar a fome aos filhos,
Mas que grande humilhação!

O meu grito de revolta!
Foi um grito magoado!
O bom senso não tem volta
Num mundo tão conturbado.

Há tantos ladrões à solta,
Grandes senhores do condado,
Não há crime nem derrota,
Exibem o seu rótulo cinzelado!

Povo infeliz! Povo roubado!

Alzira Bento
último poema do seu livro "Asas da minha alma" dado à estampa no passado 5 de Outubro, na Biblioteca Municipal de Alcanena.


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"O grande papel dos portugueses não foi o de conquistadores, muito menos o de conquistados, mas antes o de um povo pivô, uma espécie de conduta através da qual as ideias, o conhecimento e as tecnologias se transmitiam à Europa e ao mundo."
Martin Page
Como Portugal Mudou o Mundo
@as-nunes

2012/05/17

Rosas de Egito Gonçalves


 

Mais uma voltinha pelo meu jardim/quintal...as couves, os tomateiros, as alfaces, as cebolas, etc estão em plena forma, também...

Pode uma rosa
sofrer de insuficiência cardíaca?
Podem substituir-lhe
as coronárias por uma safena?
que não contava com essa?
Podem as dificuldades ser maiores,
ou menores, conforme
a rosa seja branca ou vermelha?
A rosa do povo
que rompe do asfalto
perde o fôlego ao subrir as escadas?
A rosa murcha mais depressa
que o homem, é certo. Os meus espinhos,
voltados para dentro, ferem-me
a mim mesmo. Toda uma lista
de diferenças se pode fabricar
para mostrar o absurdo
da rosa cardíaca.
Não preciso reflectir muito
para saber
que não sou uma rosa. E a rosa
poderá ter água nos pulmões?
Há hospitais para rosas?

Egito Gonçalves

A pensar no próximo encontro de Poetas na Biblioteca Municipal de Alcanena, no próximo dia 26 deste mês, e no meio dum roseiral  cheio de espinhos de preocupações várias, nomeadamente prazos para cumprir com o Fisco... 
ai a Grécia e os efeitos colaterias para toda a Europa se tiverem de sair da zona €uro! Mas então já não há Economistas e prémios Nobel?!...
e na sessão do dia 31 no Mercado de Santana...para evocarmos Acácio de Paiva, por iniciativa da Câmara Municipal de Leiria!
...
@as-nunes 
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2012/03/17

Egito Gonçalves, lá fora a vida vai continuar...

uma oliveira mais que centenária 
(quiçá 500 ou mais anos de vida) 
a primavera aí vem ela
terra lavrada mas ressequida
mal-me-queres de cor amarela
belas e alvas flores de ameixoeira
as-nunes
-
Entre mim e a minha morte
Há ainda um copo de crepúsculo.
Talvez pequenas coisas
Ainda respirem, não as distingo,
Há uma névoa que me mantém na sombra.
Sei que lá fora as árvores
Dançam ao vento, o que perdem
No outono ganham na primavera.
Nós vamos deixando pelo caminho
Os farrapos da pele
.(incompleto)

Egito gonçalves
Ed. Campo das letras - 2006
ENTRE MIM E A MINHA MORTE HÁ AINDA UM COPO DE CREPÚSCULO
Prefácio: Manuel António Pina (*)


José Egito de Oliveira Gonçalves (Matosinhos, 8 de Abril de 1920 — Porto, 29 de Janeiro de 2001), mais conhecido por Egito Gonçalves, foi um poeta, editor e tradutor.


Publicou os primeiros livros na década de 1950. Teve como atividade profissional a administração de uma editora.

A sua intensa atividade de divulgação cultural e literária concretizou-se, a partir dos anos 50, na fundação e/ou direção de diversas revistas literárias, como A Serpente (1951), Árvore (1952-54), Notícias do Bloqueio (1957-61), Plano (1965-68, publicada pelo Cineclube do Porto) e Limiar. Em 1977 foi-lhe atribuído o Prémio de Tradução Calouste Gulbenkian, da Academia das Ciências de Lisboa pela seleção de Poemas da Resistência Chilena e, em 1985, recebeu o Prémio Internacional  Nicola Vaptzarov, da União de Escritores Búlgaros.
Em  1995 obteve o Prémio de Poesia do Pen Clube, o Prémio Eça de Queirós e o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores com o  livro  E No Entanto Move-se. A sua obra encontra-se traduzida em francês, polaco, búlgaro, inglês, turco, romeno, catalão e castelhano.
Faleceu em 2001, e o seu último livro, Entre Mim e a Minha Morte Há Ainda um Copo de Crepúsculo (*), foi editado cinco anos depois.
(texto elaborado pelos serviços de apoio ao grupo de poetas de Alcanena, Biblioteca Municipal; autor a ser  estudado no próximo encontro deste grupo, em 31 de março corrente, sob a coordenação do dr. Óscar Martins, Diretor daquela biblioteca)

nota:
(*) O Prefácio de Manuel António Pina, é um hino à amizade, ao culto do mérito das pessoas como tal, em primeiro lugar, logo a seguir, ao seu mérito intelectual e literário.
Gostei, sobremaneira, desta parte desse seu "Escrito de memória":
...
"Depois de Egito, conheci muitos outros poetas (e muitos deles dispensava bem tê-los conhecido...). Hoje orgulho-me, ou nem por isso, de me dar com raros poetas. Aos poucos, comecei a estar-me nas tintas para os poetas. Hoje não me dou com poetas, dou-me com algumas pessoas que acontece serem poetas, dando-me com as pessoas que são, e não com os poetas que também sejam;  esta não é decerto uma pequena diferença."
...
-
AO -  continuo a tentar aplicar o novo acordo ortográfico.
@as-nunes   

2012/03/11

Subjetividade e objetividade na linha do pêndulo


TARDE


Um pássaro de luz brinca nos teus olhos
Adormecidos sobre a relva
Enquanto para além do crivo da folhagem
Pequenos sons arranham o silêncio.


Sobre a base da nora ferrugenta
Ouço a meu lado o escorrer do rio.


O vento desliza ao de leve sobre o trigo...
E tudo isto seria uma bucólica
Perfeita tarde de domingo
Se não me viesse a mágica sensação
De que o rio era sangue e eu te perdera.


Egito Gonçalves
Antologia Poética 1950-1990
O Pêndulo Afectivo


(poeta em estudo este mês, pelo Grupo de Poetas de Alcanena na
Biblioteca Municipal)

2012/02/23

A génese do poema



GÉNESE

Todo o poema começa de manhã, com o sol. Mesmo
que o poema não esteja à vista (isto é, céu de chuva)
o poema é o que explica tudo, o que dá luz
à terra, ao céu, e com nuvens à mistura – a luz incomoda
quando é excessiva. Depois, o poema sobe
com as névoas que o dia arrasta: mete-se pelas copas das
árvores, canta com os pássaros e corre com os ribeiros
que vêm não se sabe de onde e vão para onde
não se sabe. O poema conta como tudo é feito:
menos ele próprio, que começa por um acaso cinzento,
como esta manhã, e acaba, também por acaso,
com o sol a querer romper.

Nuno Júdice
pp 302
Poesia Reunida 1967 - 2000
 - Publicações Dom Quixote - 2000

Foto:
Duma varanda da Barreira avista-se a Serra da Maúnça, a Sra. do Monte, nas suas silhuetas matinais, envoltas ainda na neblina do vale do Lis.
 @as-nunes

2012/01/29

A poesia é a vida e meio de intervenção cívica


"Tentei, porém nada fiz...
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis... mas não quero mais..."
Cecília Meireles




 Zabeleta, poeta e fadista e Óscar Martins (Dr.), Diretor da Biblioteca no decorrer do 1º encontro de Poetas de 2012.
A Biblioteca tem vindo a disponibilizar aos participantes uma brochura alusiva a cada autor estudado, de grande utilidade pedagógica.
Ao regressarmos a casa a poesia continuava à nossa espera...
A ema e o ivo


nota:
- Também pode ter interesse em apreciar as entradas (3) anteriores
- Pode-se ver um vídeo com um poema de intervenção cívica de Rafael de Castro, um dos poetas do Grupo de Alcanena,  (gravação feita pelo autor do blogue fora das instalações da Biblioteca)

2012/01/25

Uma rosa no inverno e a poesia de Cecília Meireles

Esta rosa pouco durou no meu jardim. O frio desfê-la rapidamente...
É mais uma das flores que nascem todos os anos no mesmo sítio, com a mesma disposição, meio desconfiada, escondida junto a um socalco em pedra...

SE EU FOSSE APENAS...

Se eu fosse apenas uma rosa,
com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não te sei dizer mais nada!

Se eu fosse apenas água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo a minha vida!

Perdoa-me causar-te a mágoa
desta humana, amarga demora!
- de ser menos breve do que a água,
mais durável que o vento e a rosa...

Cecília Meireles




Nascida no Rio de Janeiro, em 1901, Cecília Meireles passou grande parte da sua vida em Portugal.
Em 1938 recebeu com Viagem , o prémio da Academia Brasileira de Letras, pela primeira vez concedida a uma mulher.
Em Agosto de 1949, Vitorino Nemésio dizia que os livros que publicara  até aí, faziam dela «um dos maiores líricos da língua portuguesa». E concluía: «grande poeta, em verdade, esta mulher brasileira, da linhagem de Camões, de Fr. Agostinho e António Nobre».
Faleceu em 1964. (mais)
-
Cecília Meireles será a próxima poeta a ser evocada no I Encontro de Poetas 2012 (próximo sábado), na Biblioteca Municipal de Alcanena, nos quais tenho vindo a participar, particularmente pela mão de minha mulher, Zaida Paiva Nunes (ela, sim, autêntica poetisa) e do grande poeta e declamador Soares Duarte. Temos ido, todos os meses, há já uns quantos anos, religiosamente, partindo de Leiria.
@as-nunes 

2011/11/20

João Negreiros: um artista a conhecer

No próximo dia 26 de novembro às 15 Horas, terá lugar na Biblioteca Municipal de Alcanena mais um encontro de poetas que desta vez abordará a obra de João Negreiros.
Lá estarei. A participar, a tentar aprender mais sobre poesia, sobre os poetas e demais escritores de língua portuguesa, primordialmente.


Claro, como não podia deixar de ser, também na minha função/missão de fotógrafo de reportagem, a que mais me tem seduzido ao longo da minha vida, digamos que desde os meus 18 anos, altura em que tive oportunidade de comprar a minha primeira máquina fotográfica.


Para mim, a fotografia é a musa inspiradora para a maior parte dos meus ensaios e estudos sobre as mais variadas áreas de investigação, da reportagem, da opinião, da crítica, do conhecimento, enfim.
Que melhor prova do que estou a afirmar que este meu blogue, sempre na linha de vista das ocorrências que me vão impressionando, ainda que, por vezes (demasiadas, talvez) possam correr o risco de não se sintonizarem o suficiente com os gostos de quem por aqui passa.
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João Negreiros nasceu em Matosinhos a 23 de Novembro de 1976. O escritor português foi o primeiro classificado no Prémio Internacional OFF FLIP de Literatura (Brasil,2009). Em Portugal, entre outros prémios, João Negreiros venceu o Prémio Nuno Júdice. Na área do teatro, a sua obra foi crescendo, tendo hoje quatro peças editadas, “Silêncio” e “Os Vendilhões do Templo” (2007), “O segundo do fim” e “Os de sempre” (2008). No âmbito da poesia, publicou três livros: “o cheiro da sombra das flores” (2007, Papiro Editora), seleccionado de entre as melhores obras de poesia ibérica publicadas entre 2007 e 2008 pelo Prémio Correntes d' Escritas de 2009, “luto lento” (2008, Papiro Editora) e “a verdade dói e pode estar errada” (2010, Camões & Companhia). Em 2010, é editado também o primeiro livro de prosa do autor “O mar que a gente faz”. Para além de escritor, João Negreiros é actor e tem divulgado a poesia nacional através de espectáculos e vídeos de spoken word
Em 2011, o artista foi o representante da Literatura Portuguesa na 7ª edição do conceituado Festival Internacional das Artes de Castela e Leão.
...


A tristeza

A tristeza é uma irmã mais velha
que vive no quarto dos fundos           dos bolsos
sempre que não tenho trocos para lhe comprar uma cama de hotel
para poder vê-la feliz

as calças estão para lavar
as moedas tocam tambor
ou o leito de um rio que fica entre as almofadas do sofá

mana
vai-te embora que tenho saudades do meu quarto
quero dormir na minha cama

sabes
o sofá da sala tem um vale que me afunda as costas

mana
vá lá
pinta-te            sai à rua e arranja namorado

e tristeza partiu mesmo antes da morte chegar
o meu quarto está vazio              para sempre´

Um dos poemas de João Negreiros,  mais divulgados, consta do seu livro "o  cheiro da sombra das flores". 

Comprei, recentemente, e estou a ler, o seu primeiro livro de prosa: 
Livros editados - Prosa

Estou a gostar imenso. Aliás, lê-se bem. E tem uma particularidade. É extremamente original e sincero na sua concepção e no estilo da narrativa.



Pode acompanhar-se João Negreiros, inclusive na audição de alguns dos seus poemas, no seu blogue http://joaonegreiros.blogspot.com
@as-nunes

2011/10/31

Álamo Oliveira: embaixador cultural da Terceira e não só, em Alcanena


O Director da Biblioteca Municipal de Alcanena, a fazer a apresentação prévia do escritor Álamo Oliveira, que veio da Ilha Terceira para participar, a convite, na sessão de Outubro do Grupo de Poesia e Cultura em geral de Alcanena. Como se pode verificar na foto acima, a idade não conta.
Álamo Oliveira, no uso da palavra. Um estilo despretensioso mas muito objectivo e pedagógico, não só pela sua larga experiência como escritor, mas também pelo seu invejável curriculum como conferencista em vários pontos do mundo, particularmente Universidades Brasileiras e dos Estados Unidos.
Claro, falou-se principalmente de poesia. E disse-se muita poesia da sua autoria. Nesta foto, para além do autor convidado, vê-se a Vice-Presidente da Câmara Municipal de Alcanena e Joaquim Soares Duarte a dizer um poema, no seu modo peculiar e com a qualidade que se lhe reconhece.


Na recepção do hotel de Alcanena onde ficou alojado Álamo Oliveira. Luísa Soares Duarte, para praticar um pouco a área de fotografia que frequenta na Universidade Sénior da Nazaré, tirou-nos este instantâneo. Esta foto  tem uma dupla justificação: em primeiro lugar pelo gosto mútuo em ficarmos com uma recordação destes momentos e de eu também poder ficar na fotografia; em segundo lugar, porque vai permitir que a mãe da Zaida, que também é do Raminho, na ilha Terceira, dos Açores, a possa ver, nestas circunstâncias especiais.
(Esta, Álamo, já não a vou incluir no e-mail que lhe vou enviar.)
Que terço mal rezado: "Avé-Maria, cheia de graça...Quem sabe o que irão fazer agora?... Bendita sois vós entre as mulheres..."/ "E se fosses à polícia contar o que se passou? Santa Maria, Mãe de Deus..."/ "Isso nem vale a pena. A polícia quer lá saber do que se passou..." / "Rogai por nós, pecadores, agora e na hora..." / "E depois é tudo doutores que até um homem... Cobrem-se todos com a mesma manta..." / "Na hora da nossa morte..." / "Pobre Burra Preta!...Amén, Jesus." O casal Maúrça estava decidido. Mandaria matar a "burra". Ia fazê-lo com o coração amarrotado, a ternura amortalhada no frio daquela noite de novembro - mês das almas e crisântemos, dos sinos dobrados pelo choro e pelo vento. E se o Divino Espírito Santo cobrisse, com o mantão do seu silêncio, a morte de Burra Preta, tirariam uma dominga de coroação, dariam esmolas de carne aos pobres e parentes , "função" aos convidados e "brindeiras" aos inocentes.


Aqui fica um excerto do livro acima apresentado. Só para aguçar o apetite pela sua leitura. Vale a pena ampliar para ler a nota de João de Melo, pela qual se fica com a ideia precisa do conteúdo deste romance publicado em 1995. Aquele último parágrafo há-de estar sempre actualizado. 
Crise antropológica permanente em que o homem se enredou. Ou foi enredado. Por quem, podemos questionar-nos? 
Seremos capazes de, algum dia, a superarmos? Em teoria seria tão simples!...


Mais pormenores sobre esta vinda de Álamo Oliveira a Alcanena podem ser vistos no site da Biblioteca Municipal desta vila Ribatejana.


Foram momentos (a tarde de Sábado passado) muito enriquecedores dos pontos de vista cultural e humanístico.
A repetir.
@as-nunes

2011/10/25

ÁLAMO OLIVEIRA: presente no encontro de Outubro do grupo cultural e de poetas de Alcanena

Álamo Oliveira em Alcanena no próximo Sábado. Consulte também BMA (aqui)
Monte Brasil-TERCEIRA - Posto de vigia das baleias
Vitorino Nemésio, outro ilustre Terceirense, escreveu um imortal poema(*) sobre este tema da caça das baleias.
Fotografia de 2006, no decorrer de uma inesquecível viagem de turismo e de romagem ao local de nascimento da mãe  da Zaida (Eva de Sousa Esteves Paiva - nascida, há 93 anos, no Raminho)

Álamo Oliveira vai estar presente na tertúlia mensal do Grupo Cultural e de Poetas de Alcanena, nas instalações da Biblioteca Municipal daquela vila, no próximo Sábado. Este grupo/tertúlia tem sido brilhantemente coordenado pelo Dr. Óscar Martins, desde há já bastantes anos, quantos não consigo precisar, que só há cerca de dois tenho o privilégio de o integrar, em sub-grupo de Leiria (eu próprio, Joaquim Soares Duarte, Luísa Soares Duarte e Zaida Paiva Nunes). 

Estas sessões orientam-se com base numa brochura-guia de trabalho organizada pela Biblioteca, sempre de muita utilidade e de óptima qualidade. O autor é escolhido por consenso dos participantes. Desta vez optou-se por Álamo Oliveira, que nasceu em Maio de 1945 no lugar e freguesia de Raminho, concelho de Angra do Heroísmo, Ilha Terceira (Açores), emérito escritor e poeta de reconhecidos dotes literários, com obra publicada e estudada nas áreas da Poesia, Teatro, Ficção, Ensaio e Contos.
A 10 de Junho de 2010, nas comemorações do Dia de Portugal e das Comunidades, Álamo Oliveira recebeu o grau de Comendador da Ordem do Mérito.

Muito mais se vai acrescentar, com toda a certeza, na reportagem que conto proporcionar aos leitores deste blogue. 

Na certeza do maior sucesso desta oportuna e prestigiada sessão de promoção da cultura e da língua Lusíada, aqui deixo, muito simplesmente, o seguinte poema de Álamo Oliveira:
-

antónio


nome redondo     pássaro solto
pelos búzios da ilha
que deixou sonhada.


arrumava a bruma nos bolsos dos calções
a ternura nas mãos     como
punhado de araçás.


da banqueta da memória     fez
emergir a ilha e a distância dos navios
- seu destino de marujo à descoberta
de tesouros de feno e bagas de faia.


antónio tinha o mapa secreto das cores
e navegava no oceano macio da saudade.

in
antónio
porta-te como uma flor
ed. salamandra - 1998
-
Poesia dedicada por Álamo Oliveira a António Dacosta
...
Antes, bem a tempo, já o poeta havia perguntado:«e que desígnios se ocultam para lá da tela»?
Assim remata, Fernando Azevedo, o seu Prefácio.

@as-nunes


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2011/09/24

A idade da Poesia



O Snr. Manuel . tem 97 anos. Faz parte do grupo de poetas de Alcanena, coordenação da Biblioteca Municipal desta vila Ribatejana.
Hoje, 24 de Setembro de 2011, um Sábado, durante praticamente toda a tarde, estivemos em tertúlia a tentar acompanhar a obra de Ana Luísa Amaral. Para autodidactas, na sua maioria, a tarefa não é fácil, mas constituiu um desafio emocionante.

No que me toca, foi mais uma experiência gratificante na minha caminhada - serôdia, talvez - para aprender a apreciar os variados estilos de poetas das mais díspares correntes literárias e artísticas. Acresce a todas estas dificuldades, uma outra - quiçá a mais complicada - que reside no facto de que Ana Luísa Amaral dedica uma boa parte da sua actividade a investigações Poéticas Comparadas.
Como sempre acontece, a coordenação destes encontros prepara uma brochura com a biografia e uma amostra da obra literária do autor, previamente seleccionado, a sugestão tomada por consenso dos participantes.

No final, como é hábito, os participantes lêem poemas de sua própria autoria, alguns escritos no momento e/ou expressamente para este efeito.

O poema cujo manuscrito se reproduz acima, do Snr. Manuel ., é assim:

Desce do céu meu amor
Vem abrandar a dor
Que me aflige e tortura
Que me há-de fazer sofrer
Enquanto eu viver
Até ir p´ra sepultura

Agora quando na tua rua eu vou a passar
Fito sempre o meu olhar
Na casa onde tu moravas
Mas não te vejo lá sorridente
Donde às escondidas da tua gente
Uns papelinhos me atiravas

Esses papelinhos eu ia apanhar
Mas só depois de espreitar
Se estava alguém na rua
Os lia com sofreguidão
Alegrava-se-me o coração
Com a forma como te assinavas - sou tua
-
Como ficar indiferente a tanta espontaneidade e singeleza de um poeta com quase 100 anos de vida, a evocar (talvez) a sua primeira, quem sabe, a única namorada da sua vida?!...
@as-nunes

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2011/06/24

Alcanena: Manuel António Pina



(neste preciso momento, 13h55, lá está a rádio a falar da descida das bolsas, como reacção à ameaça duma daquelas agências esquisitas, chamadas de "rating", da revisão em baixa dos bancos Italianos...)

No próximo Sábado, na Biblioteca Municipal, o Grupo de Cultura e Poesia de Alcanena, vai reunir-se para conversar sobre a vida e obra de Manuel António Pina, enquanto poeta, prosador e jornalista de reconhecidos méritos. Ou não lhe tivesse sido atribuído, recentemente, o Prémio Camões 2011.

O link com que abri este registo recorda-nos que Manuel António Pina escreve artigos de opinião com uma regularidade e actualidade excepcionais.
Duma forma sucinta mas concreta e acutilante lá está o seu sentido apurado para os casos do dia a dia, a aflorar questões que afectam e condicionam (quantas vezes duma forma determinante e obscura) o quotidiano e o futuro das nossas vidas.

Manuel António Pina começa assim o seu livro ""Poesia, Saudade da Prosa" uma antologia pessoal"", ed. Assírio & Alvim, 2011:

       Arte poética

Vai pois, poema, procura
a voz literal
que desocultamente fala
sob tanta literatura.


Se a escutares, porém, tapa os ouvidos,
porque pela primeira vez estás sozinho.
Regressa então, se puderes, pelo caminho
das interpretações e dos sentidos.


Mas não olhes para trás, não olhes para trás,
ou jamais te perderás;
e teu canto, insensato, será feito
só de melancolia e de despeito.


E de discórdia. E todavia
sob tanto passado insepulto
o que encontraste senão tumulto,
senão de novo ressentimento e ironia?

-


Amanhã, provavelmente, virei aqui contar como correu o nosso encontro mensal de cultura e poesia, na Biblioteca Municipal de Alcanena.
@as-nunes