Em jeito de Diário Sintético
Em busca de Leiria e das suas árvores
Dispersamente…
Nos meus tempos de estudante do ensino secundário, logo no 2º ou 3º, em plena década de 50 do século passado, tive uma professora de português que, como avaliação duma prova minha de redacção, inscreveu a vermelho, no sentido longitudinal da folha, o seguinte: “
Até parece um romance do século XVIII”. Na altura, esta observação da minha professora caiu-me em cima como uma bomba. Nem sei bem porquê. Eu, de facto, não escrevia nada bem, lia pouco e fiquei bastante azamboado.
Dava-se o caso de que eu tinha um colega, ainda me lembro do nome completo, João António Morais da Costa Pinto (nunca mais o vi, que será feito de ti, João?). Lembro-me que pertencias a famílias de cultura e bem colocadas na vida. O teu pai era oficial da Armada. Se bem me lembro, também andavas com a mesma ideia. Provavelmente seguiste pela Escola da Marinha e hoje já deverás estar reformado, quem sabe, como Almirante. E vê lá tu como é a vida. A minha família era pobre, mal havia dinheiro para nos mantermos a estudar no Secundário, quanto mais para maiores voos. In extremis acabei por ir para o Porto, para o Instituto. Era assim que lhe chamávamos, ao Instituto Comercial. Também havia o Industrial. A Universidade era um sonho irrealizável para a maior parte de nós.
Voltando à questão daquela boca (hoje diria, foleira e sem qualquer categoria pedagógica, gritada por uma professora incompetente, sem psicologia capaz de lidar com garotos em início de formação académica). Lembro-me que, depois daquela célebre aula, vínhamos a descer as escadas do lado masculino da Escola Emídio Navarro, em Viseu, conversámos sobre este tema, daquela frase que me ficou a martelar na cabeça, como se fosse um ferro em brasa. Tu, que eras um colega e amigo, bastante educado e muito calmo, só me dizias em jeito de conselho: tens que ler, ler muito. Só assim é que conseguirás escrever o que precisares e quando quiseres. O João António era, na maior parte das disciplinas, o melhor aluno. Que eu até nem era mau aluno, pelo contrário. Naquelas turmas de 30 e mais alunos, eu estava sempre entre os 3 primeiros. Isso para mim era um orgulho e fazia questão em manter-me sempre entre os melhores. Imaginam agora a minha frustração.
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A minha reacção foi brutal, arrisco-me a dizê-lo. Logo que começaram as férias grandes, comecei a percorrer a via sacra do leitor devorador de livros de empréstimo. Nessa altura, havia as bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian. Estacionava de 15 em 15 dias, em Abravezes, que ficava a cerca de 1 km da minha casa, ali na Quinta da Isabelinha ou do Judeu. De cada vez que lá ia, trazia o máximo de livros possível; penso que eram uns 4 ou cinco. A verdade é que os lia de fio a pavio. A todos. Passei os três meses dessas férias a ler, não ia para lado nenhum. Arranjei um caderno para escrever o significado de todas as palavras que desconhecia. E se eram muitas! Lia o dicionário e escrevia para melhor aprender o sentido das palavras que me iam surgindo no decorrer das minhas leituras. Não deixava uma única palavra desconhecida para trás. Lembro-me que escrevi vários cadernos. Tenho muita pena de não os ter guardado até hoje.
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No ano lectivo seguinte surgi na disciplina de Português, com ar decidido e convincente. Algumas das minhas redacções passaram a ser lidas em voz alta pela minha professora. Imaginem a minha vaidade e sentido do dever cumprido. Era preciso, pois vamos a isso. A verdade é que aqueles três meses de leitura intensiva constituíram um excelente estímulo e rampa de lançamento para o gosto pela leitura que, entretanto, adquiri. Até hoje, que já tenho a minha própria Biblioteca. E que até já escrevi um livro e participei em co-autoria noutro. Para além do gosto impenitente que tenho pela escrita, ao meu jeito, simples, sem floreados só para alindar. E que estou sempre disponível para escrever na imprensa. De borla. Sempre de borla. E, também muito importante, que já sou sexagenário!...
Uma das minhas prioridades: compatibilizar este gosto pela web com o amor que dedico à família e às flores e plantas em geral. E às árvores, as de Leiria em particular, aquelas que eu posso acompanhar no meu dia a dia.
Com o advento da Internet (gosto de me gabar de ter sido dos primeiros a entrar no mundo da comunicação digital) comecei com a transmissão digital via rádio nas bandas de amador, aí pelos anos 80, ainda no tempo das cassetes.
Hoje quem me tira a possibilidade de partilhar informação, seja em texto seja em fotografia ou até mesmo em vídeo tira-me uma grande parte do prazer de viver. Sem esquecer que também sou radioamador com o indicativo CT1CIR.
É assim que, actualmente, mantenho em plena actividade, vários blogues e sites. Tais como, por exemplo:
http://dispersamente.blogspot.com/ ,
http://arvoresdeleiria.blogspot.com/ ,
http://dentrodetioleiria.blogspot.com/ ,
http://leiria.no.sapo.pt/ ,
http://diariodumjardim.blogspot.com/ .
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Posso afirmar que a minha participação nos blogues me tem proporcionado maravilhosas ocasiões de descobrir novos ambientes, pessoas interessantíssimas, outras áreas do conhecimento, de me apaixonar pela botânica, de ser muito mais observador de tudo o que me rodeia e de partilhar essas minhas observações com toda a gente onde quer que esteja (o sortilégio da internet!…).
E é assim que vou continuar. Durante quanto mais tempo? Até já não atinar com o que ando a fazer ou a dizer?
Sendo assim só peço uma coisa às pessoas que me encontrarem aqui pela web. Alertem-me por favor quando sentirem que estou a entrar em desvario.
Será que já comecei a dispersar demais e a não dizer coisa com coisa?…
Agora que estava a ganhar balanço e as palavras começavam a brotar em torrente, sem rumo bem definido, a dispersarem-se por aqui e por ali, olhando em todas as direcções, ordeno-me: basta por ora. Até porque não te esqueças que tens muito trabalho profissional pela frente, urgente, pelo menos para todo este mês…
… (
talvez continue a abrir a minha janela…afinal o homem é um ser eminentemente social )…