Decidi-me, desde Segunda-Feira passada, experimentar a sensação de andar com a barba por fazer. Os meus netos e a Zaida bem me andam a olhar de lado, a mandarem-me "bocas", que até pareço mais velho, que a barba não me fica nada bem, etc. Já prometi (com os dedos cruzados atrás das costas) que era só esta semana. Estou a dar comigo a começar a dar-lhe um jeito, afinando o limite superior, a ver no que é que vai dar esta "aventura".
Hoje, logo pela manhã, em pleno centro histórico de V.N. de Milfontes, encontrei o amigo Augusto Silva, começámos a falar sobre a vila. Acabámos por ficar na palheta durante quase uma hora, ali mesmo, no Largo da Junta de Freguesia. Já o tinha visto por aí, uma ou duas vezes. O snr. Augusto surpreendeu-me completamente. Denotou muita facilidade de diálogo, conhecimentos muito interessantes sobre a história desta vila, trocámos impressões gerais sobre as nossas próprias vidas. Condescendeu em que lhe tirasse a foto de cima, barba de 8 meses, segundo me informou. Pelo que me apercebi, a sua vida, já na era dos 74 anos, daria para escrever um romance. É reformado da Marinha (chegou a Sargento-Chefe), tendo participado, embarcado, nas campanhas militares que desenvolvemos nos anos 60 e 70, em Angola e Guiné.
Vista panorâmica do imenso estuário do rio Mira, com as suas praias muito frequentadas nesta altura do ano.
Daqui partiram Gago Coutinho e Sacadura Cabral para a sua extraordinária aventura da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, rumo ao Brasil.
Capela de S. Sebastião. O Snr. Augusto disse-me que, actualmente, está remetida a pouco mais que velórios (normalmente da gente mais humilde, que a de mais posses ou pertencente às classes sociais mais favorecidas e reconhecidas da vila, vão para a nova Igreja em devoção a N. Sra. de Fátima, na parte mais moderna da vila). Há uma outra Igreja na vila, na zona histórica, perto da margem direita do rio Mira, dedicada a N. Sra. da Graça (em honra de quem se realiza, anualmente, a 15 de Agosto, uma festa religiosa e que terá uma ligação íntima à época em que V. N. de Milfontes foi fundada por D. João II; mais precisamente em 1496). Esta Igreja era dotada de uma decoração interior recheada de belos arabescos e altares em talha dourada. Segundo me apercebi no decorrer da amena conversa que tive com o Snr. Augusto, fiquei a saber que todo esse conjunto decorativo em talha dourada desapareceu há uns anos atrás, por alturas dumas obras de recuperação do telhado. Que foi uma pena, disse, acrescentando que, nessa época não estava presente na vila, mostrando-se muito surpreendido por ninguém - decididamente - ter levantado a hipótese de se indagar do destino dado a essas talhas. Terão sido desencaminhadas para local incógnito? Hoje em dia aquela igreja tem o seu interior reduzido às paredes nuas e pouco mais.
@as-nunes