uma oliveira mais que centenária
(quiçá 500 ou mais anos de vida)
a primavera aí vem ela
terra lavrada mas ressequida
mal-me-queres de cor amarela
belas e alvas flores de ameixoeira
as-nunes
-
Entre mim e
a minha morte
Há ainda um
copo de crepúsculo.
Talvez
pequenas coisas
Ainda respirem,
não as distingo,
Há uma névoa
que me mantém na sombra.
Sei que lá
fora as árvores
Dançam ao
vento, o que perdem
No outono
ganham na primavera.
Nós vamos deixando
pelo caminho
Os farrapos
da pele
.(incompleto)
Egito gonçalves
Ed. Campo das
letras - 2006
ENTRE MIM E
A MINHA MORTE HÁ AINDA UM COPO DE CREPÚSCULO
Prefácio:
Manuel António Pina (*)
José Egito de Oliveira Gonçalves (Matosinhos, 8 de Abril de 1920 — Porto, 29 de Janeiro de 2001), mais conhecido por Egito Gonçalves, foi um poeta, editor e tradutor.
Publicou os primeiros livros na década de 1950. Teve como atividade profissional a administração de uma editora.
A sua intensa atividade de divulgação cultural e literária concretizou-se, a partir dos anos 50, na fundação e/ou direção de diversas revistas literárias, como A Serpente (1951), Árvore (1952-54), Notícias do Bloqueio (1957-61), Plano (1965-68, publicada pelo Cineclube do Porto) e Limiar. Em 1977 foi-lhe atribuído o Prémio de Tradução Calouste Gulbenkian, da Academia das Ciências de Lisboa pela seleção de Poemas da Resistência Chilena e, em 1985, recebeu o Prémio Internacional Nicola Vaptzarov, da União de Escritores Búlgaros.
Em 1995 obteve o Prémio de Poesia do Pen Clube, o Prémio Eça de Queirós e o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores com o livro E No Entanto Move-se. A sua obra encontra-se traduzida em francês, polaco, búlgaro, inglês, turco, romeno, catalão e castelhano.
Faleceu em 2001, e o seu último livro, Entre Mim e a Minha Morte Há Ainda um Copo de Crepúsculo (*), foi editado cinco anos depois.
(texto elaborado pelos serviços de apoio ao grupo de poetas de Alcanena, Biblioteca Municipal; autor a ser estudado no próximo encontro deste grupo, em 31 de março corrente, sob a coordenação do dr. Óscar Martins, Diretor daquela biblioteca)
nota:
(*) O Prefácio de Manuel António Pina, é um hino à amizade, ao culto do mérito das pessoas como tal, em primeiro lugar, logo a seguir, ao seu mérito intelectual e literário.
Gostei, sobremaneira, desta parte desse seu "Escrito de memória":
...
"
Depois de Egito, conheci muitos outros poetas (e muitos deles dispensava bem tê-los conhecido...). Hoje orgulho-me, ou nem por isso, de me dar com raros poetas. Aos poucos, comecei a estar-me nas tintas para os poetas. Hoje não me dou com poetas, dou-me com algumas pessoas que acontece serem poetas, dando-me com as pessoas que são, e não com os poetas que também sejam; esta não é decerto uma pequena diferença."
...
-
AO - continuo a tentar aplicar o novo acordo ortográfico.
@as-nunes