“ A tua ausência ainda pernoita……
nos escombros de uma fotografia”
....................................................................................Al Berto
Gosto de escrever. Gosto de ler. Preciso de ler e de escrever.
Abri esta folha,
olhei-a, à primeira vista, um branco imaculado.
Sentei-me à
secretária com a ideia de escrever, o quê não sabia, tinha adotado o mote
daquela metáfora de Al Berto, acima exposta, sem ter a certeza de que
conseguiria escrever algo de novo, algo de útil e diferente, que resultasse do
trato natural e espontâneo da minha imaginação. Imaginação, o que é a imaginação,
em que é que se irá materializar a minha imaginação ao ser transposta para
letra de forma sobre esta folha de papel que tenho aqui à minha frente? É
verdade que ela já está a começar a aparecer com uns salpicos gráficos, mas
para que servirá essa mancha assestada na claridade?
O dia esteve
esplendoroso, já é de madrugada, mentalmente em frente diviso uma paisagem
vistosa, a Natureza em pleno vigor, o rio Lis aqui perto a caminhar de
mansinho, pelo vale, entre montes sobranceiros, mal acabou de nascer. Lá vai
ele ao encontro do Lena, na Barosa. Ali se juntam, há quantos séculos não
sabemos, há muitos, que não os conseguimos contar, ninguém ainda conseguiu
contar. Muitos já o cantaram e continuam a cantar. Maravilhosamente.
Bucolicamente. Romanticamente.
Leiria e o seu
castelo e o seu rio trazem-me à ideia ausências várias. A ausência do tempo em que não senti a sua
alma, ao mesmo tempo a ausência de terras de Viriato, da minha ancestralidade,
da minha juventude.
Poderei afirmar
categoricamente que uma grande parte do que me vai ocorrendo na vida está
fixado em fotografia. Fotografia no sentido literal do termo. Quantas
fotografias não me olham com ares misteriosos, às vezes desconfiados, outras
como que a querer falar comigo, enquanto eu as olho e ao olhá-las sou assaltado
por sentimentos os mais dispersos, contraditórios e, em muitos casos, a apelar
intensamente a certas ausências, algumas
de que mal me tenho apercebido no nevoeiro infernal com que o tempo vai
desfocando o tempo.
Ausência…
Pernoitar..
Escombros..
Pernoitar..
Escombros..
A ausência de alguém
corporeamente registado numa fotografia? Já deteriorada pelo correr do tempo?
Essa ausência, o que é?!
Ainda é noite!
Até quando vai continuar eu mesmo?
Não amanhece…
7 comentários:
Um momento de reflexão… um momento intenso. Gostei de ler.
Recordações que nos fazem pensar e viver numa oura dimensão.
Quantos dias escrevemos apenas pensamentos que nos invadem e sucedem em cadeias ...?
Momentos de reflexão, em que nos voltamos pra dentro de nós, e depois, transcremos pela vital necessidade de escrever, ler, reviver...
Toda vez que o escritor ou o poeta escreve, ele preenche vazios, ocupa espaços e faz história.
Muito bom, meu amigo, gostei!
Beijinhos da Lu...
“ A tua ausência ainda pernoita……
nos escombros de uma fotografia”
É, de facto, uma afirmação arrebatadora.
Tão profunda e intensa pode ser uma ausência quando, após a ação do tempo, um pequeno retângulo de papel a traz à nossa presença.
Um beijo
OLÁ ANTÓNIO!
Profundidade e beleza contidas em palavras. Existência: infinitude do Tempo e Espaço x indivíduo.
abraços,
Paulo.
A fotografia, a tua a minha,
regista um momento, no tempo,
Fora dele, não existe mais que a recordação, ou os restos dela
Que de nostalgia, amigo António! Deixou-me um nó na garganta. Assim não gosto! Ai não gosto, não! Vamos a alegrar! Nem que seja por estar bom tempo!
Beijinhos!
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