2012/05/17

Rosas de Egito Gonçalves


 

Mais uma voltinha pelo meu jardim/quintal...as couves, os tomateiros, as alfaces, as cebolas, etc estão em plena forma, também...

Pode uma rosa
sofrer de insuficiência cardíaca?
Podem substituir-lhe
as coronárias por uma safena?
que não contava com essa?
Podem as dificuldades ser maiores,
ou menores, conforme
a rosa seja branca ou vermelha?
A rosa do povo
que rompe do asfalto
perde o fôlego ao subrir as escadas?
A rosa murcha mais depressa
que o homem, é certo. Os meus espinhos,
voltados para dentro, ferem-me
a mim mesmo. Toda uma lista
de diferenças se pode fabricar
para mostrar o absurdo
da rosa cardíaca.
Não preciso reflectir muito
para saber
que não sou uma rosa. E a rosa
poderá ter água nos pulmões?
Há hospitais para rosas?

Egito Gonçalves

A pensar no próximo encontro de Poetas na Biblioteca Municipal de Alcanena, no próximo dia 26 deste mês, e no meio dum roseiral  cheio de espinhos de preocupações várias, nomeadamente prazos para cumprir com o Fisco... 
ai a Grécia e os efeitos colaterias para toda a Europa se tiverem de sair da zona €uro! Mas então já não há Economistas e prémios Nobel?!...
e na sessão do dia 31 no Mercado de Santana...para evocarmos Acácio de Paiva, por iniciativa da Câmara Municipal de Leiria!
...
@as-nunes 
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2012/05/16

Acácio de Paiva e a sua veia de contador de fábulas e historietas, sempre em verso


 Acácio de Paiva, insigne poeta Leiriense, o maior humorista dos poetas da época, nasceu no Largo da Sé, em Leiria, na casa de frontaria de ajulejos «viúva lamego» (dados a revelar confirmam esta tese), bem visível, talvez dos edifícios típicos da cidade de Leiria mais fotografados pelos visitantes da cidade.


Nesta casa nasceram os Paivas que deram grande projeção à cidade de Leiria, Acácio de Paiva, Adolfo de Paiva, José Teles de Almeida Paiva e os seus filhos José e Zaida Manuela Teles e Paiva.

Insisto nestas notas sobre Acácio de Paiva porque me tenho dedicado a esta missão de não o deixar esquecer, com todo o meu empenho, de há muitos anos a esta parte, por motivos de relacionamento familiar é certo, mas também pela admiração pelo seu labor, que se tem vindo a incrementar à medida que mais e melhor o vou conhecendo .
A foto ao lado é uma reprodução de um trabalho monográfico e de levantamento da árvora genealógica de os Paivas e os Teles, superiormente elaborado pelo seu bisneto, Luis Maria de Sampaio e Paiva Camilo Alves (espero não estar a cometer nenhuma inconfidência grosseira), a quem agradeço toda a sua simpatia, amizade e colaboração.


Os «LUSÍADAS»

………..O professor Barradas
Percorreu com os olhos pequeninos
………..As diversas bancadas
Onde estavam sentados os meninos
E ao  número quarenta (que teria
………..Treze anos, talvez,
………..E era quem mais sabia)
Preguntou, animando-se: - “Quem fêz
«Os Lusíadas»? Diga-me de-pressa!”
Levantou-se o pequeno, atrapalhado,
Pôs-se a coçar na frente da cabeça,
………..A fitar o sobrado
………..E, por fim, respondeu,
Tremendo como ao vento a folha e o vime
Ou como se o culpassem de algum crime:
………..- «Não fui eu! Não fui eu!»
Ficou mestre Barradas furioso!
Saíu da aula, quando deu a hora,
…………E, encontrando o Pedroso
Que era pessoa muito sabedora,
Contou-lhe aquele caso miserando:
………- «Desgraçado país!
«Ora imagina tu que , preguntando,
…………«Há pouco a um petiz,
…………«Aluno do Liceu,
«Quem fizera os Lusíadas, a bêsta
………..«Pôs-se a coçar a testa
………..«E disse: Não fui eu!»
………………- «E então?
Ponderou o Pedroso com voz doce.
»Quem sabe se o pequeno tem razão?
………..«Pode ser que não fôsse…»

Acácio de Paiva
In “FÁBULAS E HISTORIETAS
Ilustrações de Vasco Lopes de Mendonça
Pp 213/214
Ed. INP – Diário de Notícias  - 1929

Mais se pode consultar neste blogue e também no "Leiria", que muito tem publicado no que concerne à intensa atividade literária de Acácio de Paiva no Século Illustrado dos princípios do séc. passado.
NOTA:
Dia 31 próximo, às 21horas, conversa no átrio do Mercado de Sant´Ana, em Leiria que vai girar à volta de  uma encenação teatral tendo como ponto de partida  uma carta na qual se alude ao grande poeta leiriense. Pretende-se  homenagear o Leiriense, poeta e embaixador de Leiria, duma forma não convencional nem ortodoxa. O mais amena possível, uma conversa à mesa do café. (ver aqui). 
@as-nunes  
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2012/05/13

Maio das papoilas, da Vida!...


Nos campos do lis, já na freguesia da Barosa - Leiria, há dias, as papoilas a pintalgarem a paisagem...
-
Estou a ler um livro "António Nobre (Seu génio e sua obra)" ed. de 21 de dezembro de 1923, da autoria do Visconde de Villa-Mourã, comprado hoje mesmo (ontem) na feira das velharias em Leiria.
Gosto de me embrenhar em alfarrábios, aparentemente votados ao ostracismo, à espera que alguém repare neles e se interesse em lhes dar guarida condigna.
A páginas 83 li e retive:

"É um erro suppor que nós amamos a Vida. A Vida é que nos ama. Como é ella que nos attrae pelo muito que nos quer. Ai daqueles a quem a Vida desampara!"

Pois, e então?, o que é que a fotografia transformada em tela tem a ver com o que acabei por aqui deixar escrito? Tudo!, a Vida! 
-
A minha ideia original era falar de Manuel Alegre e do meu neto Guilherme: ambos fizeram anos ontem, dia 12 de Maio.
Parabéns, Guilherme, são 14 anos de Vida! Que faças muitos mais, com alegria de viver, isso será bastante, de certeza absoluta.

Quanto a Manuel Alegre aconselho vivamente a leitura dos poemas "Nada está escrito", ed.2012, D. Quixote. 
Como este, por exemplo:

Aquele que se perdeu
aquele que se perdeu guiado por uma estrela
que se perdeu no seu caminho
ou dentro de si mesmo
aquele que se perdeu em busca da palavra
ou talvez do destino e do sentido
ou apenas
do reflexo mágico do ritmo e da revelação
aquele que se perdeu e já não sabe como recuperar
a pulsação e o instinto
não mais que o breve instante de um lampejo
algo como a visão de uma visão
imagem reflectida sobre a s águas
ou talvez sobre a página
por onde agora vai
aquele que se perdeu.

ps.: já repararam nas diferentes ortografias do português conforme a época?

3h55m - talvez possa ser a razão...


-
13h45
Voltei aos livros de alfarrabista: "O paiz das uvas", Fialho d´Almeida, Liv. Clássica, 1936 - 8ª Edição:
pp 8 encontrei uma referência curiosa ao arbusto pilriteiro.
Escreve Fialho d´Almeida:


Conhecem talvez o pilriteiro? É um arbusto dos valados, peculiar ás regiões montanhosas do Alemtejo, que se defende com os espinhos de que se arma, e não gosta de habitar jardins. Transplantado, não produz flôr. Tem uma folhagem pequena, curta, verde retincto, mui recortada nos bordos, e agora na primavera, esbracejando sobre as barreiras, tolda os pégos com caramancheis d´uma vaporidade incomparável. A sua flôr é o que ha de mais mimoso, mais pequenino, mais aereo: uma joiasinha coquette , que antes dirieis insecto, pela vivacidade e esbelteza da figura. Qualquer ramito conta por milhares as florações, e dá em pleno paiz do sol a fresca sensação d´uma neve cahida em flocos, sobre cada proeminencia de haste.
(...)
... eu pensei n´esta esquecida floração do pilriteiro, que não figura nos albuns, nem inspira os desenhistas, e todavia resume na sua pureza, o que de mais bello possa haver, como motivo ornamental, para a illustração de livros e jornaes!"


nb.: encontra várias referências neste blogue ao "pilriteiro", neste link (aqui) e (aqui)http://dispersamente.blogspot.pt/search/label/pilriteiro

@as-nunes 

2012/05/12

A minha rua, mais um sinal da crise? a juntar a mais uma asnice de PPC


Que mais dizer?
Não chegam estas imagens?
Todos os dias a ver,
Ninguém lê estas mensagens?!


Quanto ao Stop


Até posso aceitar,
Diabo, que maçada, 
Que só nos manda parar,
Pois então, vai cacetada,
Precisamos de avançar!...


Com que então, Passos Coelho
Nem é mau o desemprego?!
Pode ser um aparelho
Que nos evite ir ao prego?!...


Bem me esforcei por acompanhar a mensagem pretensamente filosófica do Primeiro Ministro, ontem, na Assembleia da República, mas não consigo chegar tão longe... 


(escusa de vir com explicações de interpretação do espírito dos termos que usou, que nós já estamos calejados!
O que está dito, dito está!...e nós ainda ouvimos bem!).

Defeito meu, certamente!...

E de milhões de desempregados, agora aconselhados a esquecer que a vida não é, também, trabalhar por conta de outrem, com dedicação, talento, consciência e... 

salário, já agora!...

Aliás, o ultra-liberalismo, que saibamos, ainda não descobriu maneira de substituir o labor do homem e da mulher na criação da riqueza!
Se não forem os trabalhadores a dar o seu contributo decisivo à Economia onde está o caminho para o Desenvolvimento?

Asnices!...
@as-nunes 

2012/05/09

Acácio de Paiva: um dos cinco autores no Mercado de Sant´Ana, em Leiria

Um dos grandes vultos das letras Leirienses é, incontestavelmente, Acácio de Paiva.
Já aqui tive ensejo de escrever, por variadíssimas vezes, sobre tão ilustre personagem de Leiria, de modo que não me alongarei na sua apresentação (ver link).
A Câmara Municipal de Leiria, deliberou dar destaque, no roteiro cultural de Leiria para este mês de Maio, a uma iniciativa deveras interessante e que deveria ter a merecida atenção das pessoas que gostem de Leiria, da sua história, dos seus antepassados que dedicaram as suas vidas à Literatura, neste caso particularmente à Poesia, ao Teatro e ao Jornalismo. E temos razões de sobra para nos orgulharmos, nós os Leirienses (também o sou, ainda que Viseense de nascimento e de afetos), pelo excecional painel de ilustres autores indelevelmente ligados a Leiria, seja por nascimento seja por aqui terem passado uma parte relevante das suas vidas, tais como:
- Francisco Rodrigues Lobo
- Acácio de Paiva
- Afonso Lopes Vieira
- Eça de Queirós
- Miguel Torga

Como se pode ver no fac-símile da pág. 08 da LEIRIAGENDA - Mercado do Livro de Leiria (Mercado de Sant´Ana) acima reproduzido, este vosso humilde autor deste blogue, estará, no dia 31 de Maio próximo, na companhia de sua mulher Zaida Paiva (poetisa com livros publicados) e Paulo Moreiras, escritor com múltiplas provas dadas na área da publicação de livros e de colaborador de imensos jornais, em conversa amena e descontraída para se falar sobre Acácio de Paiva
Estas conversas irão ter lugar no interior do Mercado de Sant´Ana de 30 de Maio a 1 de Junho, entre as 21h00 e as 22h00.
Lá esperamos a vossa presença. No dia 31 como nos outros dias, claro está, não só porque se vai conversar sobre outros autores de mérito reconhecidíssimo mas também porque as mesas são constituídas com pessoas de muito saber e experiência. 
Quem sabe não se poderão proporcionar bons motivos de  diálogo e de convívio!
-
Em tempo: mais sobre Acácio de Paiva, (aqui) e (aqui).

Intervalo... campos do Lis

 

2012/05/07

Intermitência de dois, três dias...



Durante uns dias provavelmente não darei sinais de vida aqui no meu blogue mas ando por aí, afazeres profissionais inadiáveis...


Entretanto:


1 - antes que a chuva fugisse lembrei-me de aprisionar umas gotas, só umas gotas...
2 - a Ema prestou-se a este tratamento digital. Coitada da Ema!


@as-nunes 

2012/05/06

Campos do Lis: à luz inesperada do sol dum dia de fortes aguaceiros

foto tirada nos campos do lis junto à Barosa.

No interim... 

Muita coisa se poderia fazer pela poesia:
a - Esfregar pedras na paisagem.
b - Perder a inteligência das coisas para vê-las. (Rimbaud)
c - Esconder-se por trás das palavras para mostrar-se.
d - Mesmo sem fome, comer as botas.
e - Perfuntar distraído: - O que há de voçê na água?
f - ...
(com base no que Manoel de Barros escreve no livro "Matéria de Poesia")
@as-nunes 

Olá mãe

A minha mãe chama-se Encarnação, tem 86 anos, o meu pai ao lado, será que está a ver se compra um relógio moderno, desportivo?


Olá Mãe, bom dia,
Sei que a Lourdes está aí
Que houve missa
Na capela do Casal

Beijinhos do teu filho sexagenário e tal…

António

2012/05/05

Depois das chuvas de Abril...



Hoje ao final a tarde, a oriente, começaram a notar-se umas abertas no céu. O próprio arco-íris surgiu, timidamente embora, mas foi o suficiente para dar um sinal de que, para agora, já caiu chuva quanto baste.

Este ano decidimo-nos a fazer um pequeno investimento em depósitos de água, que nos permita recolhê-la diretamente das caleiras do telhado. Ao todo devemos ter conseguido armazenar talvez uns 1.200 litros. Já poderá servir para aguentar as regas do horto e do jardim, durante algum tempo, em caso de ausência mais ou menos prolongada de água da chuva ,o que, segundo os meteorologistas, poderá vir a acontecer a partir da próxima semana. 
Fala-se em temperaturas máximas que poderão chegar aos 30 graus. 

Vamos lá  a ver...
@as-nunes 

2012/05/03

Cowboys em Portugal

Hoje à tarde, ia eu a caminho de casa, tinha ido comprar uns pés de couve "penca" e "trouxa" para plantar no meu jardim/quintal (quer dizer o meu jardim adaptado para as várias funções, dar flores e frutos e produtos hortícolas, tudo tratado manualmente cá com a prata da casa), eis que começo a ouvir na rádio, "Janela indiscreta" do Pedro Rolo Duarte, jornalista que me habituei a escutar na Antena Um, "Hotel Babilónia", (em parceria com o João Gouvern) e a seguir no seu blogue, em determinada altura ouço-o fazer referência a várias reações dos bloggers (bloguistas, como se queira) àquela famigerada escaramuça social que foi protagonizada pelo "Pingo Doce", sobejamente divulgada na TV, rádio e jornais, percebi então que já andava por aí um vídeo da rapaziada da Rádio Comercial.

Uma cowboyada à moda antiga, se calhar o FarWest mudou-se cá para este lado do Atlântico. Só que, agora, não é uma cowboyada só para ver no cinema, é uma sequência de cenas reais, actuais, espelho do momento que se vive em Portugal.

Entretanto, também tomei conhecimento de que hoje o Jornal de Negócios traz um Editorial, assinado pelo seu Diretor, Pedro Santos Guerreiro, a abordar as várias implicações desta atitude inesperada e aparentemente inconcebível do ponto de vista comercial, concorrência desleal, fala-se em "dumping" e isso é muito "feio".
Da sua leitura permito-me ressaltar as seguintes NOTAS:

1 - Visto, é inacreditável: uma turba faminta amotina-se, espanca-se, enlouquece, encena uma pilhagem sórdida. É uma miséria de marketing. É um marketing da miséria.
2 - Dar uma margem de 50% num cabaz significa ter uma margem média de 100% para ganhar dinheiro.
3 - Esta é uma campanha de "hard discount", na senda duma estratégia que já traz a experiência obtida na Polónia, com grande sucesso há quase uma década. 

Ou seja:

- Este facto rocambolesco aconteceu pela primeira vez em Portugal, precisamente no dia 1 de Maio;
- Os gestores viram um livro com curvas de oferta e procura;
- Os juristas viram um livro de direito da concorrência;
- Ficámos a saber como está o país;
- A violência que não se vê nas manifestações de rua comprime-se no afã vidrado de uma fila de supermercado.

Resume o editorialista citando Shakespeare, no "Rei Lear":

"Esta é a praga deste tempo, quando os loucos guiam os cegos".

nb
Aconselho vivamente a leitura integral deste editorial.
Há que meditar e atuar em conformidade sob pena de o nosso país descambar numa anarquia ainda mais perigosa do que a que se vive atualmente.
@as-nunes 

Ana e António






Ana e António

A Ana e o António trabalhavam
na mesma empresa.
Agora foram ambos despedidos.
Lá em casa, o silêncio sentou-se
em todas as cadeiras
em volta da mesa vazia.

«Neo-Realismo» dirão os estetas
para quem ser despedido
é o preço do progresso.
Os estetas, esses, nunca
serão despedidos.

Ou julgam isso, ou julgam isso.

Mário Castrim
Poemas Maio
Trabalho, luta

@as-nunes 

2012/05/01

Como foi possível deixar que tão poucos tenham desgraçado a vida de tantos milhões?!...


Dia do TrabalhadorHoje, a Google, talvez a maior empresa multinacional de prestação de serviços da Internet e de efeitos multimedia, em fase de uma autêntica revolução nos moldes de funcionamento, abre a sua página, desta maneira. 
Quando o Dia do Trabalhador foi formalmente instituído, nem se sonhava sequer que algum dia a tecnologia das comunicações chegaria ao ponto atual, de que a Google é o expoente máximo, conjuntamente com o Windows/Microsoft como sistema operativo por excelência.
Pode-se dizer que a Google dá trabalho a muitos milhares de trabalhadores e que contribui para facilitar uma mais racional organização do trabalho, particularmente o científico e cultural.
Mas que, simultaneamente, obrigou a uma viva discussão sobre o melhor processo de evitar tantos despedimentos motivados pela revolução tecnológica atual e consequente substituição do homem pela máquina e processos automáticos de produção.
Uma verdade, porém, é incontestável.
A Humanidade é condição indissociável da natureza do próprio Homem. Logo, a tecnologia só é útil se contribuir para o bem estar do Homem.

DIA DO TRABALHADOR

Dia do Trabalhador, a mim, faz-me recordar os meus 27 anos, a comemorar o primeiro 1 de Maio em Liberdade, já lá vão 38 anos.
Uma festa indescritível, a rotunda do Marquês cheia de automóveis com bandeiras de Portugal, a circular em voltas sucessivas, buzinadelas, pessoas fora das janelas com o V da vitória, punhos cerrados, cravos vermelhos, canções revolucionárias, sorrisos de orelha a orelha, muita confraternização, afinal passámos a ser todos iguais, cheios de vida e entusiasmo, vivas e mais vivas,

Viva o 25 de Abril
Viva a Liberdade
Viva o 1º de Maio
Viva o MFA

Fascismo nunca mais

Hoje é o que se vê! 
Como foi possível deixar que tão poucos tenham desgraçado a vida de tantos milhões?!...

2012/04/29

Ao findar de Abril: "Poesia onde estás?"



Autocrítica do poeta (*)

É tão fácil dizer que saem dos olhos das mulheres andorinhas verdes
ou chamar à lua a caveira voada da flâmula dum navio pirata!

Mas a outra poesia - onde está?

A poesia que transforma de repente a música em lâmina
para romper a noite até à solidão dos archotes
que escurecem mais e mais
este abismo absurdo
sem astros de céu vivo
onde as pedras apodrecem
e as andorinhas verdes não saem dos olhos das mulheres?

Mas a outra poesia - onde está?

Esta esperança convicta
de teimar na certeza do nada
com explicações de papoilas
e esqueletos a abraçarem-se
no amor final já sem sentido de bandeiras?

Sim. Onde está?

Que palavras abre
para além da luz secreta
que os dedos dos mortos acendem no perfume das flores?

Sim. Onde estás?

- Poesia de rasgar pedras.
Poesia da solidão vencida.
Poesia das pombas assassinadas.
Poesia dos homens sem morte.

José Gomes Ferreira
Poesias III
Ed. Círculo de Leitores - 1971

(*) No original:
(Crítica à poesia das imagens aos cachos.
Como de costume, autocrítica.)
@as-nunes 

2012/04/27

Os meus olhares da minha rua


Saí de casa, saco do lixo na mão, máquina fotográfica à bandoleira, recolhi estes apontamentos fotográficos, já de regresso a casa, num dia destes, de finais de Abril de 2012. 
Esta zona dos Lourais é uma espécie de fronteira entre duas freguesias: as flores (tremoço (*), as amarelas) da linha superior medram em terreno do lado das Cortes; as giestas e os dois aspetos da rua pertencem à minha freguesia, da Barreira.

A minha rua, neste dia, vi-a assim...
-
E...já que estamos em Abril... águas mil... versos mil:


A minha rua 
é a dos Lourais
que bem se vê dela a Lua
e vastas quintas senhoriais

E muitas aves
muitas flores
sons nas claves
vários odores

Deste lado é a Barreira
lá mais abaixo as Cortes
da minha varanda altaneira
posso sentir emoções fortes

Com força a água escorre
em dias de temporal
o Rio Lis ela socorre
e leva ao Litoral.


as-nunes

(*) Tremocilha-amarela Lupinus luteus L. (Fabacea) (ver aqui, por exemplo)
ou tremoceiro-amarelo (Lupinus luteus) (como se pode ver no http://dias-com-arvores.blogspot.pt/ )
Obrigado, Luís Coelho pela dica; se aqui voltares podes fazer o favor de deixar a identificação da flor roxa?REMRELA (LUPINUS LUTEUS)
@as-nunes 

2012/04/25

Já não há cravos vermelhos?


Esperanças loucas...

Ideias vividas
frente a oportunistas,
Lutas sofridas,
traidores e egoístas. 

Valeu a pena?
Tudo vale a pena
se a esperança não morrer.

Sigamos o sete-estrelo,
façamo-nos ao mar.
Não aos velhos do Restelo,
acomodados, a sofismar.

Financeiros sem ideais!
Mais parecendo
chacais!

Portugal não pode viver
remetido a oeste
sempre a temer,
como se fosse este,
- irremediavelmente -
o nosso Fado!...

Cravos encarnados,
onde estão?!
Espezinhados, 
pelo chão!...

NÃO!...
Os ideais de Abril
não podem acabar assim, 
Não podem, NÃO!...

também pode seguir o link dum meu comentário no blogue do Agostinho (aqui)
@as-nunes

2012/04/23

Todos os dias são dias mundiais do Livro!...

O Largo 5 de Outubro de 1910, em Leiria, hoje.
Livros e mais livros, uma pequena amostra dos livros cá de casa, juntos ao longo de várias décadas...

Neste dia, oficialmente consagrado ao Livro, chegou-me, pelo correio, uma embalagem com um livro que eu comprei num alfarrabista, por sinal até se chama Nunes, o Luís Nunes, já lhe comprei vários, via internet, normalmente de poesia ou da autoria de escritores de quem já é muito difícil obter edições comerciais de livraria.
Há dias celebrou-se o 170º aniversário da morte de Antero, daí a razão de eu me decidir a procurar algo mais sobre Antero de Quental. Estou à espera de mais dois, um só com sonetos. São livros relativamente baratos, tudo é relativo, mas andam - colocados em casa, via CTT - entre os 5€ e os 7 e tal euros, às vezes um pouquito mais, quando me entusiasmo por alguma edição em particular e consigo que o acréscimo de despesa tenha cabimento de verba no meu orçamento.

Este livro, cuja capa está reproduzida na composição acima, é uma edição da Secretaria Regional de Educação e Cultura (Açores), Angra do Heroísmo, 1987. Por coincidência, o tema da capa é uma colagem com pintura de Álamo Oliveira, um grande escritor Terceirense, que ainda há três ou quatro meses esteve no Encontro de Poetas do Grupo de Alcanena, de que muito me honra fazer parte 
(como aprendiz, eu sei, mas que me têm proporcionado ótimos motivos de inspiração para uma tardia renovação do meu amor pela Poesia). 

A pp 196 do citado livro, pode ler-se este fragmento do Discurso de 7 de Março da Liga Patriótica do Norte:
(...)
" A vida actual, para ser autónoma e independente, tem de ser remodelada. A nação tem de emendar erros profundos e numerosos, acumulados durante muitos anos de imprevidência, de egoísmo, de maus governos e de corrompidos costumes públicos. Esta situação é tanto mais grave, quanto gradualmente se foi estabelecendo entre a nação e os governantes um verdadeiro divórcio, divórcio há muito latente e que a crise actual veio apenas patentear em toda a sua cruel realidade. Os governos, em Portugal, deixaram há muito de representar genuinamente os interesses e o sentir da nação. "
(...)
Estávamos na segunda metade do século XIX.

Parece impossível que hoje, 150 anos depois, ainda se possa considerar este discurso atual!...

@as-nunes

2012/04/22

Naquele tempo PPC dizia...



descobri esta obra-prima no conversa avinagrada
  • Não matemos o doente com a cura...
  • Não basta a austeridade e cortar...
  • Nós precisamos de valorizar cada vez mais a palavra...
  • O IVA não é para subir...
  • Eu não quero ser Primeiro-ministro para dar empregos ao PSD...
  • bla bla bla...bla bla bla...
-
Pacheco Pereira que me perdõe esta replicação, mas nem todos vamos ao "abrupto":
-
"temporário", 
"restituição intensa", 
"ajustamento estrutural excepcional"

Todos os dias novas palavras e expressões revelam como Orwell foi um verdadeiro precursor em perceber como o poder usa as palavras para mandar. Entre as novas aquisições da “novilíngua” encontra-se o “temporário” que passou a significar definitivo e o “ajustamento estrutural excepcional”, signé Vitor Gaspar, uma contradição nos seus termos porque se é “estrutural” não pode ser “excepcional”. Outra é a “restituição intensa” dos subsídios de Natal e férias, expressão utilizada pelo Primeiro-ministro. “Intensa” é o quê? Metade, três quartos, nada? Presume-se que signifique que em vez de ser “gradual”, passe a ser pouco “intensa”. Iluda-se quem pense que isto são jogos florais. Bem pelo contrário, são jogos do poder, destinados a não dizer nada, dizendo, ou a dizer tudo, não dizendo.
-
Cá está, há que valorizar a palavra!...
@as-nunes

2012/04/21

Abril traído



Abril sofisticado traído

Que mundo de Abril é este
Ilude-nos com desilusões
Abril tanta esperança trouxeste
Chagas agora nossos corações

Dias de chuva nos olhares
Silêncios interrogações
Terríveis estes esgares
Difusas confusas  emoções

Ao longe mais um milhafre
Impante nas suas  visões
Insuportável odor a enxofre
Sabor amargo a traições

Vergados sob tropelias mil
Leis e Decretos de maldições
Não deixemos que Abril
Se resuma a meros chavões

Leiria, 21 de Abril de 2012
António S Nunes

nota
no original usei a palavra "sofisticado" mas parece-me bem que não segui os conselhos dum dos meus mestres, Miguel Torga. Ele bem deixou escrito que a palavra tem que ser usada com a máxima preocupação e precaução também. Daí eu ter riscado uma e substituí-la por outra, mais direta ao assunto, para quê tantos sofismas e rodeios, não é, Rogério? 
@as-nunes