Estou no exterior de um quartel. Do quartel onde passei os 3 meses
que antecederam a minha mobilização para Moçambique. Estávamos em
1969. Nessa altura Salazar apregoava aos sete ventos que estávamos
orgulhosamente sós e antes assim que mal acompanhados. E vivíamos num regime
ditatorial.
40 anos são volvidos...
(...)
Governos do chamado Bloco Central e de Direita foram sendo
sucessivamente empossados, Centro/esquerda, Centro/Direita, Direita/Extrema
Direita, Centro/Extrema Direita, ou seja, PS, PPD, CDS e nada.
Presidentes da República vários e nada.
Assembleias da República com muitos deputados e nada.
Entramos na Comunidade Europeia. E passamos a integrar a zona
Euro, mudando do Escudo para o Euro. E entram Euros em catadupa. E desaparecem
misteriosamente, através de artes e manhas de uns quantos espertos ligados às
instâncias do poder, milhões e milhões de euros. E gastamos à grande e à
francesa. A União Europeia garantia que era mesmo para funcionar, assim a modos
que uma Federação de Estados,
em que a Solidariedade era uma palavra de honra de cavalheiros. A Europa estava unida e organizada!
O Povinho dá maiorias sucessivas a Sócrates.
Chega a hora de se fazerem contas. Não temos dinheiro para
fazer face às nossas dívidas públicas, contraídas com o nosso aval.
E começam a exigir que nos portemos bem, para não assustar os
investidores estrangeiros. Temos de recorrer ao FMI com o aval das instituições
da UE, até que nos impõem um plano de recuperação da nossa dívida
coordenada por uma Troyka, estrangeiros a dizerem-nos como devemos gerir os
negócios do Estado. As coisas complicam-se, até porque estes senhores
esqueceram-se que havia um fator determinante e indispensável que era o Desenvolvimento Económico.
Vamos a eleições antecipadas e vá de dar maioria absoluta ao
miúdo de Vila Real, Passos Coelho e ao seu amigo Paulo Portas. E ele começa a
armar-se em autoritário, a rodear-se duma equipa de tecnocratas e amigos de
confiança.
As promessas
esfumam-se rapidamente, tenham paciência, tem de ser assim ou então não
teremos dinheiro para pagar aos funcionários públicos e aos pensionistas.
A corrupção de
colarinho branco campeia impunemente: BPN, PPP, aquela coisa da EDP/rendas,
protocolos de cobrança de portagens em duplicado, SCUTS que já não podem ser
Scuts, Loureiros, Valas, Limas, Isaltinos. São
muitos milhões que estão em jogo e com isso o equilíbrio das contas públicas.
A inflação continua, mas os salários e pensões estagnam.
São-nos sonegados o subsídio de férias e de Natal, não para todos,que se
justificam umas exceçõezitas, para evitar a fuga de crâneos de reconhecida
competência. Que não dá em nada.
Se calhar é melhor fazerem as malas e irem lá para fora, que lá há
melhores oportunidades, sugere o Primeiro Ministro.
E se não se resolver o problema desta maneira, não stressem que
isto de ir para o desemprego até pode ser um bom estímulo para se arranjar uma
vida melhor, volta à carga.
Estupefação geral! Ainda não conseguimos digerir estas
mezinhas mas o resultado está bem à vista. Um
milhão e desempregados, mais, talvez, que estas estatísticas quem pode
confiar nelas?
E agora?
Os jornais já começam a receber recados para não publicarem certas
coisas, que vão fazer mal à cabeça dos portugueses, coitados, que já andam tão
à nora, a prozac e xanax e outras coisas. Os que ainda têm algum
dinheirito, por enquanto.
Começa-se a recear por represálias, perder o emprego. O medo
instalou-se, joga-se com a ansiedade das pessoas, com a sua dignidade, a sua
sobrevivência e da família.
Impensável que estejamos a regressar a estes tempos
fascisantes!
Que mais mos irá acontecer?
Será que a Democracia
está, de novo, em perigo? Claro
que está. Afinal quem manda? O Povo que vota, não. Quem manda então?
Ora, pois, a Alta
Finança internacional, sem rosto, globalizada, constituída por agiotas que
se julgam uma raça à parte, especial, devem ter olhos especiais, descendentes de
alguma estirpe estrita a certas camadas sociais.
Que fazer, então, desta pescadinha de rabo na boca, tão bem
arranjadinha que ela está?
...
(edição revista e mais sintética - 12h30)
@as-nunes