Blocos de Ponta Delgada,
Torres de Angra,
Céus da Horta,
A hora é soada,
Um peito sangra
À nossa porta.
.
Furnas da Graciosa,
Fajãs de São Jorge,
Neves do Pico,
Alguém me forge
O ferro, que eu não fico!
.
Grotas das Flores
Chaves do Corvo,
Santa Maria!
Oiço tambores,
O ar é torvo,
A noite fria
.
Lá vamos todos, todos,
Como lobos do mar,
Co as bandeiras dos bodos
As canoas varar:
Se o tubarão der à costa
Não falta quem no sangrar:
É perto o porto,
E o livre ilhéu, mesmo morto,
Não cora, se espernear.
.
Essas lanchas, aí, na carneirada,
Que se aguentem entretanto
No balanço e no remar:
Mar alto, terra salvada,
Co Senhor Espírito Santo
Estamos quase a chegar.
13-3-1976
Vitorino Nemésio (1901-1978)
-
(In “Portugal – A Terra e o Homem/ Antologia de textos de escritores dos séculos XIX-XX.
Em 1978, aquando da entrada no prelo da referida Antologia, a Fundação Calouste Gulbenkian, responsável pela edição, em homenagem ao seu autor, Vitorino Nemésio, que falecera entretanto, resolveu prestar-lhe uma merecida homenagem publicando, como Adenda, dois dos seus poemas: “Largada à Baleia” e “O Pico”.)