2012/02/11

Mimosas à vista!


O tempo está esquisito. Parece que as estatísticas garantem que há mais de 80 anos que não havia um mês de Janeiro tão seco como o que decorre no presente ano de 2012. 
Já se aventa a necessidade de recorrer a Bruxelas para pedir ajuda para socorrer os agricultores portugueses dependentes da parca produção que ainda se processa em Portugal. Aliás, em Espanha o problema também é o mesmo. Como se já não bastasse estarmos no mesmo barco da pré-falência financeira, eis que mais um problema sério atinge a Península Ibérica.

Apesar de tudo as acácias mimosas aí estão, no tempo certo, como que a querer demonstrar que os ciclos vitais da Natureza se renovam, independentemente da vontade do Homem.

Esta perspectiva fotográfica, de hoje, foi captada da Rua Ramalho Ortigão(*)
(novo traçado, ainda em terra batida, ao lado da rotunda de Vale de Lobos/N 356-2 Leiria-Cortes-Fátima e do acesso ao IC36, sentido Pousos-Alto Vieiro).
-
(*)
Nem de propósito: chegou-me às mãos o livro (1724-AZ-Biblioteca) "Portugal - a terra e o homem", antologia de textos de escritores dos séculos xix - xx , por Vitorino Nemésio, ed. da Fundação Calouste Gulbenkian, 1978, impresso na tip. Guerra - Viseu, em que a propósito de Ramalho Ortigão se escreve, a dado trecho:

"Ramalho prega a necessidade de o Português aceitar os seus limites, aprendendo «lá fora» o indispensável para uma técnica do «cá dentro». Não o preocupa, como a Oliveira Martins, definir o génio nacional incarnado na história, mas recensear as coisas pátrias e diagnosticar os pequenos e grandes males do homem que vive delas." (p. 63) foto da Net

Talvez nos possamos especializar a lavar e secar a roupa dos Alemães
(v. comentários)
@as-nunes 

2012/02/07

O Tempo às avessas



O PÃO DO TEMPO

Diziam-me que amanhã seria o primeiro dia
depois de amanhã em que não seria preciso
pensar no que há para fazer, nem em fazer
o que há para pensar. Deixei correr o tempo; e
as coisas avançaram sem que amanhã chegasse,
e sem que depois de amanhã me pudesse
lembrar que tinha de pensar no que havia
para fazer. Juntei todas as coisas no alguidar
do poema, onde a massa dos instantes
fermentava. O que eu tinha de fazer
era metê-la no forno da eternidade,
depois de bem amassada; mas esqueci-me,
e quando voltei ao poema
a eternidade estava cheia de um musgo feito
das horas e minutos que eu perdera a pensar
noutras coisas. Ainda espreitei o forno:
mas a lenha ardera até se transformar em
cinza, e em fumo efémero dissipava-se
no céu estranho desta memória de amanhã.

Nuno Júdice
p. 76 – A matéria do poema
Ed. Dom Quixote - 2008

Tratamento digital sobre fotografia
à Lua em quarto crescente, madrugada gélida 
de Fevereiro de 2012, Chainça - Fátima, 
através do tronco e ramos dum Lódão

A ansiedade do momento na Grécia, 
em Portugal e...
é muita. 
Como calar esta nossa expectativa?
Deixem-nos, ao menos,
desabafar!

2012/02/06

Quinta Vale de Lobos - Leiria


Em 12 de Maio de 2009 - Quinta Vale de Lobos, Leiria, andava o autor deste blogue envolvido numa missão a que se propôs a si próprio, que era indagar das quintas à volta da urbe Leiriense que, durante séculos, serviram de residência a algumas famílias ilustres e eram utilizadas como unidades de produção agrícola para abastecimento da cidade. Foi à volta destas quintas que nasceram muitas das povoações rurais que hoje existem dado que nelas trabalharam e viviam muitas famílias. 
Uma dessas quintas é a Quinta Vale de Lobos. Estas fotos são agora aqui publicadas como forma de perpetuar a sua memória e do quanto era valioso preservar toda a mancha florestal daquela zona. 

É que:


1- Toda esta área (dotada de excepcionais qualidades agrícolas no vale do Lis) está integrada numa dita zona florestal dentro do PDM de Leiria (3);
2- Precisamente nesta área, com uma mancha inalienável de carvalhos e sobreiros, acabou por ser construído o IC36, com um viaduto monstruoso sobre o vale do Lis e uma rotunda de acesso (que acabou por condicionar quer esta quinta quer a de S. Venâncio).


De acrescentar que a Rua Ramalho Ortigão (**), de que já vos deixei aqui nota (pesquisar neste blogue em "ramalho ortigão"), inicialmente com um traçado rústico, bordejada por belos exemplares de Quercus Robur, foi desviada e deslocalizada para uma área paralela ao acesso da rotunda para o IC36 para proporcionar o encaminhamento para as A1, A8, A17, A19, IC2, Zona Comercial dos Parceiros (Leiria Shopping) e do Alto Vieiro até à Azoia e Vale Gracioso.







 Um carvalho cerquinho

Para quem esteja menos informado, o IC36 é uma estrutura de Autoestrada, que vai do Alto Vieiro até aos Pousos e que teve como finalidade essencial servir os interesses das concessionárias das autoestradas A1 e A8/A17 e a própria A19 (como tal sujeitas a pagamento de portagens).
Esta obra monumental deve ter custado uma fortuna colossal e tem a extensão de cerca de 4 quilómetros. Posso garantir-vos que as várias interligações com rotundas e mais rotundas, têm provocado imensas confusões aos automobolistas, já que, ao mínimo descuido, são encaminhados sem possibilidade de correção, para uma dessas autoestradas, quando, muitas vezes, se pretende unicamente utilizar este itinerário para encurtar caminho à volta da cidade de Leiria.

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(**) Em próximo registo espero poder contar-vos a rocambolesca história da Rua Ramalho Ortigão, em Leiria, na zona de Vale de Lobos. (entre Leiria e Cortes)
(3) Convém frisar que, no momento em que se publica esta nota, o autor não garante que o PDM, no que a esta questão respeita, tenha ficado inalterado.
-
(Estou a tentar seguir o Novo Acordo Ortográfico)
@as-nunes  

2012/02/04

Não se andará a cortar árvores de mais, para vender como lenha?


Comprei 1.000 kg de lenha a O,13€ kg. A carrada vinha com sobreiro, azinho e oliveira. Diz que o azinho faz uma boa chama e dura mais tempo a arder. Assim parece, de facto.

Estive um pouco à conversa com o snr. A..., que me deu uma lição sobre os vários tipos de lenha que se usa nas lareiras de Portugal e a sua origem (indeterminada, que os fornecedores dizem que vem dos sítios mais diversos, muita do Alentejo, e que são provenientes de árvores velhas e carcomidas pelo tempo). Entretanto, vai adiantando que no que respeita às oliveiras, as centenárias - autênticos monumentos vivos, alguns que vamos admirando em rotundas de Leiria e outras cidades - estão a ser arrancadas a esmo e a serem substituídas por espécies próprias para produção intensiva de azeitona para curtir e para azeite (passou a ser todo "extra"?!). 
E com isto tudo o ecossistema desta orla atlântica e mediterrânica vai-se modificando (destruindo, talvez seja o termo mais adequado)  inapelavelmente.

Quanto ao azinho (azinheira), o seu abate está proibido. E o sobreiro (sobro ou chaparro) também é uma árvore protegida.

De modo que se fica com a sensação de que se estão a cortar árvores protegidas, aparentemente em bom estado vegetativo, para vender como lenha...

Que controlo é que se faz, de facto, sobre a forma como se está a gerir a floresta e a boa ordenação das espécies arbóreas existentes em Portugal? 

Bem sabemos a resposta: salve-se quem puder!...
Até quando?!...
-
nota:
azinho: azinheira (Quercus ilex)
sobro: sobreiro (Quercus suber)


@as-nunes  

2012/02/03

O raiar poético de uma sexta feira gélida


Olá, Bom Dia… Boa Tarde… ou Boa Noite…
Salve, quem quer que seja, onde quer que esteja!
Paz e Solidariedade.



Hoje levantei-me ao nascer do Sol... a vida é bela, não demos cabo dela!

AMANHECER BRANCO

Adivinho esta construção: uma cúpula
que abriga o mundo. E o mundo roda sobre
si próprio, fechando o círculo dos instantes
no centro da eternidade.

Ponho esta cúpula no cume
de um monte. O dia nasce, derramando na esfera
de vidro o líquido luminoso da madrugada,
com o brilho puro de um seio.

E bebo esta luz, num desejo ébrio
de nascente, ouvindo os primeiros pássaros
soltarem-se da noite com o canto côncavo
com que acordam o dia.

Nuno Júdice
In “A matéria do poema”
Ed. Dom Quixote - 2008

@as-nunes  

2012/02/01

Gravetos contra o frio em Portugal

Em plena cidade de Leiria...

Segundo as últimas notícias, o frio a valer, frio polar, temperaturas que vão descer abaixo de zero – e bastante – mesmo em Portugal, este belo país de brandos costumes e brando clima, está aí à porta. De todos nós.

Só que mais de uns do que de outros!...



@as-nunes  

2012/01/31

Voando sobre o vale do Lis

                                     (Foi o que se pôde fazer... nas circunstâncias do imprevisto.)

De vez em quando dá-me para isto.

Talvez tenha passado ao lado duma carreira que eu havia de ter adorado: repórter profissional, fotojornalista, talvez!

Afinal acabei por ser professor, profissional de contabilidade e gestão de empresas, toc, autarca,  para além de  militante político, dirigente associativo,  pescador desportivo (de rio e de mar), caçador desportivo, futebolista, radioamador, amante da informática, internet, webmaster (desde os anos 90), bloguista (desde 2005), escritor de ocasião (jornais, revistas, dois livros, muitas experiências e ideias na gaveta e nos papéis espalhados por tudo quanto é sítio, garagem incluída), dezenas de milhares de fotografias e muitos filmes desde o 8 mm, instalador e manutenção de antenas de rádio comunicação (chegaram mesmo a confundir-me com o zé do telhado), jardineiro, hortelão, etc. etc.

Sempre superiormente enquadrado por uma família do melhor que há no mundo...pais, mulher (comunhão geral), filhos, netos, irmãos, sobrinhos...


É assim a vida!...

@as-nunes 

2012/01/29

A poesia é a vida e meio de intervenção cívica


"Tentei, porém nada fiz...
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis... mas não quero mais..."
Cecília Meireles




 Zabeleta, poeta e fadista e Óscar Martins (Dr.), Diretor da Biblioteca no decorrer do 1º encontro de Poetas de 2012.
A Biblioteca tem vindo a disponibilizar aos participantes uma brochura alusiva a cada autor estudado, de grande utilidade pedagógica.
Ao regressarmos a casa a poesia continuava à nossa espera...
A ema e o ivo


nota:
- Também pode ter interesse em apreciar as entradas (3) anteriores
- Pode-se ver um vídeo com um poema de intervenção cívica de Rafael de Castro, um dos poetas do Grupo de Alcanena,  (gravação feita pelo autor do blogue fora das instalações da Biblioteca)

2012/01/28

À espera de transporte...para a outra margem?!

 Quem serás tu, amigo?

Na quinta da rampa, canas de milho por cortar, ao fundo renques de árvores a bordejar o rio Lis, quase sem água...

Na Rotunda Rotária (a do McDonalds) e à volta - Leiria
Estacionei o pópó, ia meter gasoil (gasóleo), puxei da máquina fotográfica...


EMIGRANTES


Esperemos o embarque, irmão.


Chegamos sem esperança,
só com relíquias de séculos
na palma da mão.


Pela terra endurecida,
não há campo que aproveite.
Mesmo os rios vão morrendo
pela solidão.


Não sofras por ter vindo.
Alguém nos mandou de longe
para ver como ficava
um rosto humano banhado
de desilusão.


Olhemos esses desertos
onde é impossível deixar-se
mesmo o coração.


Ah, guardemos nossos olhos
duráveis como as estrelas
e seguramente secos
como as pedras do chão.


Iremos a outros lugares,
onde talvez haja tempo,
misericórdia, viventes,
amor, ocasião.

Cecília Meireles


(Tenho andado a ler poesia de Cecília Meireles... até logo, companheiros de Alcanena!)
@as-nunes 

2012/01/26

Leiria à noite, a "minha" Leiria

 Vim à rua (não me vou embora definitivamente tão depressa, ai não, não), era já noite cerrada, o relógio da Torre Sineira até parece que me quer contradizer...
 Aqui começa a Rua Direita (Barão de Viamonte)...então, mas aquele "Centro Cívico" não vai ficar com uma arquitetura assim a modos que um pouco fora do contexto da urbe histórica de Leiria?
 O banco do Largo da Sé... parece que na noite anterior andaram por ali uns vândalos a partirem placas de sinalização. Não sei se sabem que isto é um crime grave.
 Aqui já é a Rua da Vitória
 O Tomé a cortar o último cabelo do dia, fiquei eu a pensar...
 BP - Banco de Portugal Leiria (desativado)
 Na fachada do BP - quem, o Banco?!...
 Gosto do número 7. Este é da Rua da Vitória
 Vitória difícil, a da II Guerra Mundial

Aqui também é um nº 7
Na porta ao lado funciona um dos bares emblemáticos de Leiria: "Pharmácia Bar".
-

CANÇÃO DE ALTA NOITE

Alta noite, luz quieta,
muros finos, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta
Não necessita de casa.

Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
Não necessita de sono.

Andar…Perder o seu passo
Na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,
Nem necessita de vida.

Andar… - enquanto consente
Deus que seja a noite andada.
Porque o poeta, indiferente,
Anda por andar – somente.
Não necessita de nada.

Cecília Meireles


(Porque amanhã (28) é Sábado, dia de Encontro de Poetas em Alcanena)




(Acabei por deixar aqui mais uma rosa, desta vez, branca como a neve, lindíssima, fotografada há dias no meu jardim. Já que estamos a falar de poesia, seja da Leiria à noite, seja das rosas do meu jardim.
Aproveito o ensejo para, com ela, homenagear também a grande poeta Cecília Meireles.)
@as-nunes 

2012/01/25

Uma rosa no inverno e a poesia de Cecília Meireles

Esta rosa pouco durou no meu jardim. O frio desfê-la rapidamente...
É mais uma das flores que nascem todos os anos no mesmo sítio, com a mesma disposição, meio desconfiada, escondida junto a um socalco em pedra...

SE EU FOSSE APENAS...

Se eu fosse apenas uma rosa,
com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não te sei dizer mais nada!

Se eu fosse apenas água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo a minha vida!

Perdoa-me causar-te a mágoa
desta humana, amarga demora!
- de ser menos breve do que a água,
mais durável que o vento e a rosa...

Cecília Meireles




Nascida no Rio de Janeiro, em 1901, Cecília Meireles passou grande parte da sua vida em Portugal.
Em 1938 recebeu com Viagem , o prémio da Academia Brasileira de Letras, pela primeira vez concedida a uma mulher.
Em Agosto de 1949, Vitorino Nemésio dizia que os livros que publicara  até aí, faziam dela «um dos maiores líricos da língua portuguesa». E concluía: «grande poeta, em verdade, esta mulher brasileira, da linhagem de Camões, de Fr. Agostinho e António Nobre».
Faleceu em 1964. (mais)
-
Cecília Meireles será a próxima poeta a ser evocada no I Encontro de Poetas 2012 (próximo sábado), na Biblioteca Municipal de Alcanena, nos quais tenho vindo a participar, particularmente pela mão de minha mulher, Zaida Paiva Nunes (ela, sim, autêntica poetisa) e do grande poeta e declamador Soares Duarte. Temos ido, todos os meses, há já uns quantos anos, religiosamente, partindo de Leiria.
@as-nunes 

2012/01/24

Um jarro ou o tempo em espírito?


Inesperadamente
Um jarro no jardim
Singelamente
Uma alvura sem fim


Mais uma flor que faz o diário do meu jardim...o tempo a passar, todos os anos este jarro evolui no mesmo local.

Será sempre o mesmo?
Será o espírito do tempo?
.
O contraste da brancura do jarro com o fundo preto...
Não sei o que aconteceu a esta fotografia...
Declaro solenemente que não usei de nenhum truque.
Será mesmo o espírito do tempo? 
A preto e branco, 
com uma interrogação amarela?


@as-nunes 

2012/01/22

A laranja vs. certas laranjas...


A vitamina C das laranjas 
faz muito bem à saúde
na dose certa.
Em demasia e em tempo desajustado
são muito indigestas, as laranjas.


E se, para cúmulo do azar, são azedas, pior ainda!...


@as-nunes 

2012/01/21

Tudo isto é vida, Leiria de ontem, de hoje, de sempre...




Passámos a tarde
com a Carolina
a fazer horas
a distraí-la
os pais no trabalho
havia que dar tempo
para as horas passarem
e passeámos o tempo
pelas ruas
da Graça
Vasco da Gama
Cândido dos Reis
Gomes Freire
jardim do Rossio
de Luís de Camões
e do Pastor Peregrino
e das tílias
e do meu Ulmeiro
e da árvore do gelo
e da serradilha
praças
e calçadas
do centro de Leiria
5 de Outubro de 1910
Rodrigues Lobo
Miguel Torga
Afonso Lopes Vieira
azulejos nas fachadas
pormenores
varandas
lampiões


chegou a hora
da ecografia
correu tudo bem...


@asnunes