O PÃO DO TEMPO
Diziam-me
que amanhã seria o primeiro dia
depois
de amanhã em que não seria preciso
pensar
no que há para fazer, nem em fazer
o
que há para pensar. Deixei correr o tempo; e
as
coisas avançaram sem que amanhã chegasse,
e
sem que depois de amanhã me pudesse
lembrar
que tinha de pensar no que havia
para
fazer. Juntei todas as coisas no alguidar
do
poema, onde a massa dos instantes
fermentava.
O que eu tinha de fazer
era
metê-la no forno da eternidade,
depois
de bem amassada; mas esqueci-me,
e
quando voltei ao poema
a
eternidade estava cheia de um musgo feito
das
horas e minutos que eu perdera a pensar
noutras
coisas. Ainda espreitei o forno:
mas
a lenha ardera até se transformar em
cinza,
e em fumo efémero dissipava-se
no
céu estranho desta memória de amanhã.
Nuno Júdice
p. 76 – A matéria do poema
Ed. Dom Quixote - 2008
Tratamento digital sobre fotografia
à Lua em quarto crescente, madrugada gélida
de Fevereiro de 2012, Chainça - Fátima,
através do tronco e ramos dum Lódão.
A ansiedade do momento na Grécia,
em Portugal e...
é muita.
Como calar esta nossa expectativa?
Deixem-nos, ao menos,
desabafar!
3 comentários:
Muito gira, a foto! : )
Um bonito poema.
De quando em vez dás-nos um pouco de beleza paisagísticas e poéticas.
O frio aperta por aí ?
Essa zona é um pouco mais alta e o frio não pede licença...
Desabafar é a única coisa que fazemos. Povo de brandos (leia-se: moles, quietos, parados, indiferentes...) costumes!
Gostei bastante do poema do meu colega de Faculdade Nuno Júdice.
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