2010/08/24

A tília hoje, um pretexto para falar de Torga e de 1947!...


Dizem os registos, consentem os meus pais, Daniel e Encarnação, e eu próprio, que terei nascido, como homem para viver no Planeta Terra, em 1947, na Beira Alta, mais precisamente em Viseu (no Casal, mesmo ao descer em direcção a S. Pedro do Sul).
Sem dúvida que a nossa ligação com a Natureza não pode ser mais íntima. Nós, humanos, somos uma parte da Natureza, será esta parte quantificável? A Natureza é o princípio (?) e o fim (?)de todas as coisas... tangíveis e intangíveis!?. Todas as coisas... finitas, infinitas?!...

Escrevia Torga, com data de 20 de Novembro de 1947:
"(...) A natureza não se pode negar em si mesma, e é circular. Começa sempre onde acaba."

Prosseguindo o seu Diário, naquela data, em Coimbra:
"Por lhe ter receitado inalações de flor de tília, o homem cuidou que eu atraiçoava o progresso. E conversámos longamente. Mas quanto mais ele complicava os seus raciocínios, mais eu simplificava os meus.
- E as sulfamidas, a penicilina, a estreptomicina? As aquisições técnicas, numa palavra? Antigamente andava-se de burro; hoje anda-se de avião...Estou a ver que o senhor é um grande idealista!
- Talvez - respondi a rematar a conversa. - Mas já reparou que é tal a necessidade que o homem tem de não perder o pé nos próprios delírios, que mede a força dos motores em cavalos? As sulfamidas, claro. A estreptomicina, claríssimo. Mas, para si, agora, nada disso interessa. O aconselhável, cientificamente, são flores de tília..."

Talvez um tanto teluricamente, fotografei, nos últimos dias, um pôr-do-sol do alto do lugar da Cumeira, freguesia da Barreira -  Leiria e as folhas e os botões das próximas flores da grande tília do Adro da Sé de Leiria, aqui mesmo no "meu" Largo da Sé. Para sempre, uma das referências importantes da minha vida!... 

Palavra de honra, quando fotografei este pôr-do-sol, pensei em Torga e nas suas fragas do Marão...E nas suas deambulações por Leiria, 1939 a 1941...
Entretanto, já cá ando nesta vida, descontente, umas vezes, outras feliz e contente, há mais de meio século e uma década!... 

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5 comentários:

Lídia Borges disse...

Nunca será demais lembrar Miguel Torga

Da Realidade

"Que renda fez a tarde no jardim,
Que há cedros que parecem de enxoval?
Como é difícil ver o natural
Quando a hora não quer!
Ah! não digas que não ao que os teus olhos
Colham nos dias de irrealidade.
Tudo então é verdade,
Toda a rama parece
Um tecido que tece
A eternidade."

Miguel Torga, in 'Nihil Sibi'

L.B.

a d´almeida nunes disse...

Olá, Lídia Borges

Ainda andava eu aqui às voltas com este post, a pensar com os meus botões, a que propósito é que venho para aqui com esta "conversa", etc quase a deixá-lo como "rascunho"...
Mas não! Miguel Torga, o Dr Rocha, que se iniciou na sua profissão de médico aqui em Leiria, merece que nos lembremos dele, sempre que nos apetecer, sempre que alguém se lembrar. E se nos lembramos de Torga é porque lhe reconhecemos o valor inestimável que ele assume para o Humanismo, para a Literatura. Pena que nas Escolas não se fale mais de Torga. E de outros vultos do nosso pensamento expresso na Língua Portuguesa!
Que falta faz uma atitude mais séria para se lutar contra a iliteracia.
Que falta faz lidar mais com os escritores lusófonos para se ensinar o Português nas Escolas!

José Leite disse...

Meio seculo e uma decada, forma eufemistica de dizer a minha idade.... gostei!

Teresa Fidalgo disse...

António,

De facto, nunca é perda de tempo falar de Torga... Pena é ser ele tantas vezes esquecido.

Elvira Carvalho disse...

Muito bonitas as fotos. E sabe uma coisa? Também nasci em 1947. Numa barraca de madeira debaixo de um enorme pinheiro manso na Seca do Bacalhau da Azinheira.
Filha de gente do Norte, meu pai era de S. Pedro do Sul e minha mãe de Penude, mas cresceu em Santa Cruz da Trapa.
Um abraço