Nos campos do lis, já na freguesia da Barosa - Leiria, há dias, as papoilas a pintalgarem a paisagem...
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Estou a ler um livro "António Nobre (Seu génio e sua obra)" ed. de 21 de dezembro de 1923, da autoria do Visconde de Villa-Mourã, comprado hoje mesmo (ontem) na feira das velharias em Leiria.
Gosto de me embrenhar em alfarrábios, aparentemente votados ao ostracismo, à espera que alguém repare neles e se interesse em lhes dar guarida condigna.
A páginas 83 li e retive:
"É um erro suppor que nós amamos a Vida. A Vida é que nos ama. Como é ella que nos attrae pelo muito que nos quer. Ai daqueles a quem a Vida desampara!"
Pois, e então?, o que é que a fotografia transformada em tela tem a ver com o que acabei por aqui deixar escrito? Tudo!, a Vida!
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A minha ideia original era falar de Manuel Alegre e do meu neto Guilherme: ambos fizeram anos ontem, dia 12 de Maio.
Parabéns, Guilherme, são 14 anos de Vida! Que faças muitos mais, com alegria de viver, isso será bastante, de certeza absoluta.
Quanto a Manuel Alegre aconselho vivamente a leitura dos poemas "Nada está escrito", ed.2012, D. Quixote.
Como este, por exemplo:
Aquele que
se perdeu
aquele que
se perdeu guiado por uma estrela
que se
perdeu no seu caminho
ou dentro
de si mesmo
aquele que
se perdeu em busca da palavra
ou talvez
do destino e do sentido
ou apenas
do reflexo
mágico do ritmo e da revelação
aquele que
se perdeu e já não sabe como recuperar
a pulsação
e o instinto
não mais
que o breve instante de um lampejo
algo como a
visão de uma visão
imagem reflectida
sobre a s águas
ou talvez
sobre a página
por onde
agora vai
aquele que
se perdeu.
ps.: já repararam nas diferentes ortografias do português conforme a época?
3h55m - talvez possa ser a razão...
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13h45
Voltei aos livros de alfarrabista: "O paiz das uvas", Fialho d´Almeida, Liv. Clássica, 1936 - 8ª Edição:
pp 8 encontrei uma referência curiosa ao arbusto pilriteiro.
Escreve Fialho d´Almeida:
Conhecem talvez o pilriteiro? É um arbusto dos valados, peculiar ás regiões montanhosas do Alemtejo, que se defende com os espinhos de que se arma, e não gosta de habitar jardins. Transplantado, não produz flôr. Tem uma folhagem pequena, curta, verde retincto, mui recortada nos bordos, e agora na primavera, esbracejando sobre as barreiras, tolda os pégos com caramancheis d´uma vaporidade incomparável. A sua flôr é o que ha de mais mimoso, mais pequenino, mais aereo: uma joiasinha coquette , que antes dirieis insecto, pela vivacidade e esbelteza da figura. Qualquer ramito conta por milhares as florações, e dá em pleno paiz do sol a fresca sensação d´uma neve cahida em flocos, sobre cada proeminencia de haste.
(...)
... eu pensei n´esta esquecida floração do pilriteiro, que não figura nos albuns, nem inspira os desenhistas, e todavia resume na sua pureza, o que de mais bello possa haver, como motivo ornamental, para a illustração de livros e jornaes!"
nb.: encontra várias referências neste blogue ao "pilriteiro", neste link (aqui) e (aqui)http://dispersamente.blogspot.pt/search/label/pilriteiro
@as-nunes
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13h45
Voltei aos livros de alfarrabista: "O paiz das uvas", Fialho d´Almeida, Liv. Clássica, 1936 - 8ª Edição:
pp 8 encontrei uma referência curiosa ao arbusto pilriteiro.
Escreve Fialho d´Almeida:
Conhecem talvez o pilriteiro? É um arbusto dos valados, peculiar ás regiões montanhosas do Alemtejo, que se defende com os espinhos de que se arma, e não gosta de habitar jardins. Transplantado, não produz flôr. Tem uma folhagem pequena, curta, verde retincto, mui recortada nos bordos, e agora na primavera, esbracejando sobre as barreiras, tolda os pégos com caramancheis d´uma vaporidade incomparável. A sua flôr é o que ha de mais mimoso, mais pequenino, mais aereo: uma joiasinha coquette , que antes dirieis insecto, pela vivacidade e esbelteza da figura. Qualquer ramito conta por milhares as florações, e dá em pleno paiz do sol a fresca sensação d´uma neve cahida em flocos, sobre cada proeminencia de haste.
(...)
... eu pensei n´esta esquecida floração do pilriteiro, que não figura nos albuns, nem inspira os desenhistas, e todavia resume na sua pureza, o que de mais bello possa haver, como motivo ornamental, para a illustração de livros e jornaes!"
nb.: encontra várias referências neste blogue ao "pilriteiro", neste link (aqui) e (aqui)http://dispersamente.blogspot.pt/search/label/pilriteiro
@as-nunes
7 comentários:
Não tivesse havido evolução e seria assim que escreveríamos hoje...
Alegre continua bom poeta.
De António Nobre li "Só" e adorei
Bom domingo
Bonita imagem. Gostei do texto. Tenho alguns livros do século passado e a diferença da escrita é muito grande.
Pilriteiro não sei o que é.
Um abraço e bom Domingo
Então Parabéns a todos,o Rapaz,os Avós e Vida!
Quando vi a foto,pensei:Já por aqui passou o Monet...
Por falar em ortografias,outro dia consultei o volume LEIRIA da série Monumentos de Portugal "Obra louvada pelo Ministério de Educação",publicada em 1929 da autoria de António José Saraiva "Professor do Lyceu e Sócio da Associação dos Archeólogos
Portuguezes"e fiquei abismada com a ortografia que nunca iria situar naquela data.Até refere a Sé como a Cathedral...Coitados dos escribas da altura.Kinkas
Um roteiro de leituras bem interessante!
Sempre que os encontro nas feiras do Livro, gosto de gastar algum tempo com os alfarrabistas. Encontra-se sempre alguma coisa para comprar, a bom preços.
Parabéns ao jovem e à família.
L.B.
Estamos em Maio do ano da Graça de 2012. E está bonito este mês de Maio.
Deu-me para fazer comparações com o que se escrevia no princípio do séc. passado. Dos temas abordados, das descrições da Natureza, narrativas, forma de escrever, a própria ortografia.
Ou seja, a Natureza é eterna, os homens bem modificam o ambiente, alteram regras de viver em sociedade, e o que vemos? Somos um ser insaciável, nunca estamos bem com o que temos, queremos mais e diferente, que já estamos fartos de viver e de trabalhar. Vá de inventar máquinas e mais máquinas.
E aí estão as máquinas a substituirem o Homem. Chegámos a uma encruzilhada civilizacional, também. Já não temos apego ao místico, ao religioso até, começamos a perder as nossas referências de vida.
Para onde caminhamos nós?...
Olá Nunes
Parabéns ao teu neto.
Alfarrábios como eles me encantam....Preciosidades que tanto nos dizem mas tão pouco dizem aos nossos jovens...
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