ANTÓNIO
No Norte de África decerto se lembrou de outro santo,
outro António,
Que séculos antes, junto ao Nilo fora tentado muitas
vezes.
Bosh mostrou ao mundo as suas tentações,
Assim como Giotto mostrou ao mundo o doce Poverello.
«Dá-me a tua pata», disse Francisco ao lobo,
E a pata pousou na mão do santo que António seguiu e
venerou
No tempo da lepra, da peste e dos mendigos.
Dava pão aos pobres, pedia pão aos pobres, era pobre
entre os pobres
Este santo de Lisboa, sábio entre os sábios,
Que cantava nos caminhos e atacava com a palavra os
poderosos e a usura.
Os mercadores-banqueiros de Pádua e Florença
Estão hoje em Wall Street, na City e noutras praças.
Possuem palácios, iates, aviões e limusinas,
E evitam as ruas onde vivem os que não têm tecto.
Os seus olhos não sabem abrir-se para o nascimento de uma
rosa.
Escuta, Santo: continua a ser difícil dialogar com a
usura.
Mais fácil é falar com o trovão, como fizeste.
Maria Amélia Neto
Colóquio
Letras
Mesmo
o Passado
É sempre
incerto
Número
142 Outubro-Dezembro 1996
2 comentários:
É tão fácil fazer a vista grossa, mas mais ainda é não ver o que está visível para toda a gente. Cego não é o que não vê, mas sim aquele que tudo quer ignorar. Beijos com carinho
Um retrato fiel de quem nos (des)governa.
beijinhos
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