2021/01/06

As crónicas que tenho andado a espalhar aos sete ventos...

 Nota introdutória da secção deste meu blogue, que vai ser designada, "As crónicas que tenho andado a publicar em jornais regionais de Leiria".

Tem esta secção a finalidade de deixar arquivado neste meu "auxiliar de memória" e "arquivo pessoal do que vou observando, estudando e escrevendo..." as crónicas de que eu tenha ficado com cópia digital. A verdade é que estou a ficar sem tempo mas gostava de deixar aqui à mão esses escritos. Porquê? Para quê?!  Não sei exactamente. Talvez que alguém, nalgum tempo, venha a encontrar-lhe alguma utilidade. Talvez até alguma piada. Quem sabe?!

E começo hoje, 06-01-2021, precisamente num dia em que me sentei a secretária do meu escritório em casa, para trabalhar em coisas de contabilidade, finanças, com a cabeça cheia de planos para pôr em dia uma quantidade de assuntos relacionados com duas empresas de que sou o CC (contabilista certificado). E tive necessidade de recuperar uma determinada informação que tinha arquivado algures num dos meus discos externos de cópias de segurança do meu computador.

Dei com esta peça: uma crónica que escrevi e que foi publicada no "Notícias de Colmeias" de Maio de 2018. Ora, dá-se o caso de a minha mãe,  agora com 96 anos, estar muito mal de saúde (alimentada a sonda e a respirar oxigénio com a ajuda dum ventilador) há já bastante tempo. A família, particularmente eu e os meus irmãos (Lurdes-71, Sildina - 69, Vitor - 67 e Isabel - 59) e o meu pai Daniel (96, quase 97 anos, mas que se tem mostrado muito operacional para lidar com a situação, muito especialmente, dado o momento de pandemia que temos estado a viver) estamos serenos mas expectantes... 

Ao ler esta crónica, que agora republico, a imagem da minha mãe veio-me de imediato ao pensamento.

Escrevi, então, em Maio de 2018:

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Permitam-me, antes de mais nada, deixar aqui a minha fotografia (agora) ao lado da da minha mãe(em 2014.



CRÓNICAS FRAGMENTADAS (I)

António d´Almeida Nunes(*)

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Caros leitores do Notícias de Colmeias.

Tenho ocupado estas colunas que me foram reservadas pelo diretor deste nosso semanário escrevendo sobre a História de Leiria enquadrando-a na História de Portugal e sistematizando a informação duma forma cronológica, acompanhando a sequência dos vários reinados do nosso regime monárquico e, no futuro, entrando pela História da nossa República.

No número 30 (Ed. nº 218 – 4 de Março de 2018) desta crónica atingia-se o período em que em Portugal se adivinhavam as movimentações políticas e militares tendentes à restauração da nossa Independência após o domínios dos Filipes de Espanha, até ao 3º de Portugal.

(E como os deputados do movimento independentista Catalão aproveitaram este tempo histórico de tanto simbolismo para a própria ambição de Independência da Catalunha! Já nessa altura os Catalães estavam em armas na luta pela sua Independência enquanto Nação e Estado. O momento recente em que esses deputados cantarolaram “Grândola Vila Morena” no Parlamento Espanhol com cravos amarelos na mão, aquando da sessão de boas-vindas ao Presidente da República Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, logo a seguir a uma estrondosa e unânime salva de palmas após o seu discurso, é disso prova irrefutável.)

Penso que esta sequência de crónicas deve ter continuidade.

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No entanto, permitam-me que faça um interregno e mantenha o meu espaço no “Notícias de Colmeias” a escrever sobre outros temas, durante os próximos números após o que voltaremos ao tema da História cronológica de Leiria.

Não se trata dum mero capricho meu. Digamos que poderemos passar a uma fase temporária, mais diversificada, na qual me proponho abordar temas diversos, que creio irão ser do vosso agrado.

Com vista a facilitar o trabalho de quem tiver interesse em organizar uma possível coleção das crónicas já publicadas, esta nova série terá uma sequência própria, passando a designar-se:

«Crónicas fragmentadas».

A máxima em que pretendo inspirar-me para esta nova etapa é, tão somente, esta:

Também aquele que escreve é escrito para sempre.”.

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Antes de mais é hora de tentar dar uma explicação possível da razão do título desta série de crónicas que me proponho começar a escrever, durante um tempo indeterminado mas curto, julgo eu, no momento. Assim:

Ao dar uma vista de olhos num livro «[…] Ensaio sobre os mestres», dei com esta citação de Manuel António Pina 1984:

“Que coisa morreu na minha infância e está lá a ser eu? A lâmpada do quarto? A criança? Em quem tudo isto a si próprio se sente? Também aquele que escreve é escrito para sempre.”

O autor do ensaio chega a esta sensação de que todos nós acabamos por ser a própria projeção no espelho usando-se duma sequência de transcrições de vários escritores de nomeada. E parte deste pressuposto de Luís Miguel Nava: “Uma citação, mesmo quando literal, é sempre uma interpretação.”

Ou seja, o que cada um de nós vai escrevendo, tem, com mais ou menos intensidade uma marca de cópia ou adaptação do que outros já deixaram também escrito. É claro que não temos, forçosamente, que nos rendermos à crueza de que a verdade já foi descoberta e que nós, no presente, só temos que tentar interpretá-la sob um ponto de vista mais pessoal, após o que nos limitamos a dar uma roupagem mais colorida a essa mesma verdade. O nosso pensamento, mesmo que cicule numa corrente contínua, será que pode ser original e único?

Dizem-nos os historiadores que sim, que o homem tem evoluído graças à criatividade e originalidade do seu pensamento. Será mesmo assim?! E qual a influência do tempo na definição dos novos textos  e da caraterização do seu alcance?

Não estaremos nós a contradizermo-nos sistematicamente na ilusão de que somos capazes de prosseguir rumo à superação do impossível?

Na verdade, sucedendo que ao escrevermos, estamos, inapelavelmente, a mostrarmo-nos tal como somos, mesmo que subconscientemente, quando fazemos citações ou quando dissertamos sobre temas/conhecimentos que aprendemos com leituras de outros autores, nem por isso nos podem acusar de plágio. Há quem interprete que plagiar não é só copiar literalmente o que já outros escreveram e até publicaram, mas também sempre que as ideias que arquitetamos com palavras nossas, melhor dizendo, do dicionário, têm os seus alicerces no que outros antes de nós, já  disseram.

Repare-se nesta citação de João Cabral de Melo Neto, 1975:

“Há um contar de si no escolher,

no buscar-se entre o que é dos outros,

entre o que outros disseram”.

Também Fernando Pessoa nos deixava dito, em 1966, o seguinte:

“na leitura de todos os livros, devemos seguir o autor e não querer que ele nos siga”.

Não posso aceitar que se considere plágio o que acontece com todos nós: servirmo-nos do que aprendemos com o que os outros já escreveram antes de nós e acrescentamos algo que há-de sair da nossa própria forma de abordar as mesmas questões, com mais ou menos subterfúgios literários. Talvez que até possamos aclarar determinados pensamentos que podem acabar por ficar melhor apresentados por força do tempo que, entretanto, passou, e com o qual se nos revelaram outras experiências, que nos permitiram confirmar e/ou reformular o que se jugava ser um conhecimento definitivo.  

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Dei uns passos tímidos na escrita de Poesia tinha eu uns 15 anos, talvez. E acabo esta crónica fragmentada a falar em Poesia precisamente porque atravesso uma fase da minha vida septagenária em que me deu para encarar esta forma de escrever com o maior dos encantos e com vontade de estudar, como se estivesse na Faculdade, a tirar Letras ou Literatura.

A vida obriga-nos a trilhar caminhos que dificilmente serão os que de alguma forma já desejámos ardentemente. As circunstâncias da vida acabam por determinar, em geral, os passos que nos levam a percorrer o nosso próprio caminho, cujo percurso começa por ser uma luz difusa a cintilar como um pirilampo. Bem tentamos seguir o pirilampo mas o mais provável é não sermos capazes de o acompanhar e até corrermos o risco de não ter a certeza que aquele que seguimos com o nosso olhar seja o mesmo de há uns momentos atrás.  

Pois bem. “É dever de cada homem abraçar o seu tempo para se desembaraçar dele.”, citando Patrícia Portela, 2016. Talvez por isso mesmo, penso que estou a fazer um esforço no sentido de, tendo embora em consideração o que já aprendi com Séneca, nascido há dois mil anos e tantos outros, não me sentir já a viver uma época histórica…

(… eis no que a leitura e reflexão sobre as citações dos mestres reportados no livro que referenciei acima podem resultar… )

Havemos de voltar à Poesia…

 (*) Nota: só muito recentemente é que dei comigo a pensar que devia um desagravo à minha mãe. Em 1947 o meu pai fez o registo do estilo, do meu nascimento, com um nome próprio (António) seguido dos apelidos da minha mãe e do meu pai. Foi assim que ficou que eu passaria a ser identificado como António de Almeida Santos Nunes. Mais tarde, aí pelos meus 11 anos, o meu pai, ao pedir o meu Bilhete de Identidade, foi confrontado com a observação dum funcionário que dizia que o “de” não era para ser usado de qualquer maneira, à vontade de cada um. E o meu nome ficou sem esse ´de`. Acresce que, por hábito, fiquei a usar, abreviadamente, António Nunes. Ora, acontece que, precisamente numa altura em que a minha mãe já atingiu os 94 anos de idade e se encontra muito debilitada, decidi que lhe devia esta atenção. Passo a identificar-me com três nomes: o próprio e os sobrenomes da minha mãe e do meu pai, por esta ordem.  

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