Tenho-me perdido pelo Facebook, ultimamente. Parece-me que se consegue, por esta via, interagir muito facilmente com as pessoas, familiares e amigos. Estou a ficar com a sensação de que algumas coisas que lá vou deixando escritas, deveriam ficar aqui registadas.
Decididamente, vou fazer um rastreio nesse sentido. Hoje publico o seguinte poemacarta que escrevi à minha mãe, numa altura da sua vida, muito debilitada e já com 96 anos...
porque parte, mãe,
arrastada pelo tempo
aquela tua voz estridente
e eufórica
com que nos recebias
da janela lá de casa
no viso?!
e a tua aflição
quando soubeste
daquela notícia
que o teu antónio
iria chumbar o ano escolar
que tanto prometia?!
só porque se esqueceu
de entregar a prova do exame?!
e a reviravolta
sugestionada pelo desconhecido
que te bateu à porta
só para te dizer
que irias ter uma grande alegria?!
e foi a força dessa fé
que conseguiu o impensável
o teu filho iria fazer um novo exame
de iniciativa do director do instituto
e foi uma surpresa geral
foram ultrapassadas todas as normas vigentes
e estávamos sob a disciplina rígida de salazar
e demos graças a Deus
um galo e uns ovos
escrevo-te estas lembranças, mãe,
na esperança vã de que ainda possamos
voltar a falar no assunto
... e já passou tanto tempo, mãe ...
lourais, 18 de fevereiro de 2021 1h50m
(o teu antónio fez há dias 74 anos. não te preocupes, mãe, eu sei que não vais ler esta carta no sítio onde estás...
talvez ta entreguem mais tarde, mãe...)
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