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2012/12/24

"Uma morte súbita na festa" - Lêdo Ivo




MORTE SÚBITA

Mas quem morre, que vida deixa à morte?
E quem vive, que vida deixa à vida?
Aberta a porta, a sombra se dissipa.

Para quem ama, além de horror e cólera,
Existe o amor, raio de sol na relva
E relâmpago acima da floresta.

Para quem vive, o dia sempre hesita
Entre ser claro e escuro, longe e perto
E miragem mirada no deserto.

Entre o que vem e vai e parte e resta,
Quem ama, morre e vive se prepara
Para uma morte súbita na festa.

LÊDO IVO
Antologia Poética (*)
pp. 138
Ed. Afrontamento – Maio 2012
-
Em tempo:
Descobri Lêdo Ivo tarde, talvez tarde em demasia.
Em vida era considerado o maior poeta do Brasil. E agora, que morreu, inesperadamente?
Era  membro da prestigiada Academia Brasileira de Letras, onde ocupava a cadeira nº 10.
Nasceu em Maceió, capital do Estado de Alagoas, em 1924.
Morreu ontem, dia 23 de Dezembro, de ataque cardíaco,  em Sevilha, , onde passava esta quadra natalícia.

Para se ficar com uma ideia da sua personalidade e da sua luta contra o modernismo de 1922, pode ler-se, por exemplo:

Verdade e Mentira

O mar às avessas:
As constelações
São navios.

A poesia é uma mentira.
As estrelas não são navios.
O céu é uma ilusão.

A verdade está na terra,
Nos navios ancorados
Ao longo do cais.
-

2012/12/23

E hoje amanheceu assim...


Esta imagem fantástica
do dia a começar
bem merece um poema
que a possa cantar

Tantos e tão bons poemas ... escolher qual?!...
-
Os meus pais, Daniel e Encarnação, quase 90 anos, ele a conduzir, estão a chegar de Viseu...
há pouco já estavam em Pombal...
Ah, valente pai Daniel... e querias tu, Vitor, vires de propósito, de Viseu a Leiria, para os trazeres?!
E queria eu, António, ir buscá-los a Viseu?!...
Não senhores, ainda estou em condições de guiar por aí... 
Há dias teve que renovar a carta e o médico a sugerir-lhe que ficasse com uma limitação na velocidade, aí os 90 km/hora. Qual quê? Acha que é preciso, Doutor?! 
Ou seja, o médico concordou que está no pleno uso das suas faculdades para conduzir normalmente...
Boa malha, pai!...
...

2012/12/19

É Natal?!...


(...)


Doze signos do céu o Sol percorre,
E, renovando o curso, nasce e morre
Nos horizontes do que contemplamos.
Tudo em nós é o ponto de onde estamos.

Ficções da nossa mesma consciência,
Jazemos o instinto e a ciência.
E o sol parado nunca percorreu
Os doze signos que não há no céu.

Fernando Pessoa
Glosas, in “Cancioneiro”, 14-8-1925
@as-nunes

2012/12/02

É outono, quase inverno, e pronto








Em Leiria, junto à ponte do Arrabalde...
-
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples,
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte,
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.

A. Campos

Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.

A. Campos
@as-nunes

2012/11/09

Nunca terá sido tão importante gostarmos muito de Portugal como na atualidade!...

 

in YouTube
-

Portugal


Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me

sentir como se tivesse oitocentos

Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os

infiéis ao norte de África

só porque não podia combater a doença que lhe

atacava os órgãos genitais

e nunca mais voltasse

Quase chego a pensar que é tudo mentira que o

Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney

e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente

Portugal

Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino

nacional

(que os meus egrégios avós me perdoem)

Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo

Anda na consulta externa do Júlio de Matos

Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar

àparte o facto de agora me tentar convencer que nos

espera um futuro de rosas

Portugal

Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver

se contraía a febre do Império

mas a única coisa que consegui apanhar foi um

resfriado

Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar

uma pétala que fosse

das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador

Portugal

Se tivesse dinheiro comprava um Império e dava-to

Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir

Portugal

Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém

Sabes

Estou loucamente apaixonado por ti

Pergunto a mim mesmo

Como me pude apaixonar por um velho decrépito e

idiota como tu

mas que tem o coração doce ainda mais doce que os

pastéis de Tentugal

e o corpo cheio de pontos negros para poder

espremer à minha vontade

Portugal estás a ouvir-me?

Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar

estava no poder nada de ressentimentos

o meu irmão esteve na guerra tenho amigos que

emigraram nada de ressentimentos

um dia bebi vinagre nada de ressentimentos

Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os

Lusíadas a nado na piscina municipal de Braga

ia agora propôr-te um projecto eminentemente

nacional

Que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho que

Camões lá deixou

Portugal

Sabes de que cor são os meus olhos?

São castanhos como os da minha mãe

Portugal

gostava de te beijar muito apaixonadamente

na boca.

Jorge de Sousa Braga

Posted by Picasa

2012/10/26

Invocando Natália Correia, tão fartos que estamos desta guerrilha permanente em tempos de austeridade febril e agoirenta!

 Quem, no outono de 2012, sai da Marinha Grande a caminho de S. Pedro de Moel...
Quem está na rotunda antes de subir para o Sítio da Nazaré e olha, num fim de tarde de outono, para o mar...


ODE À PAZ

Pela verdade, pelo riso, pela luz, e pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre  as portas da História,
……………………………….. Deixa passar a Vida!

Natália Correia
1989
(Vai-se dizer poesia
e falar da poetisa,
na biblioteca municipal
de Alcanena, 
sábado que vem)

2012/10/19

Ainda não é o fim nem o princípio do Mundo...


Morreu Manuel António Pina

Jornalista, escritor, vencedor do Prémio Camões em 2011, Manuel António Pina morreu esta tarde no Porto, aos 68 anos. (in Antena 1)


Estarei ainda muito perto da luz?

Estarei ainda muito perto da luz?
Poderei esquecer
estes rostos, estas vozes,
e ficar diante do meu rosto?

Às vezes, como num sonho,
vejo formas como um rosto
e pergunto: «De quem é este rosto?»
E ainda: «Quem pergunta isto?»

E: «E com quem fala?»
Estarei ainda longe de Ti,
quem quer que sejas ou eu seja?
Cresce a noite à minha volta,

terei palavras para falar-Te?
 E compreenderás Tu este,
não sei qual de nós, que procura
a Tua face entre as sombras?

Quando eu me calar
sabei que estarei diante de uma coisa imensa.
E que esta é a minha voz,
o que no fundo de isto se escuta.

Manuel António Pina
1943-2012
in NENHUM SÍTIO (ou pp 105 TODAS AS PALAVRAS /poesia reunida}
-
Ainda não é o fim nem o princípio do Mundo...
um dos seus grandes livros de poesia

-
Andava eu de carro, no centro de Leiria, quando, inesperadamente, ouvi a notícia da morte de Manuel António Pina.
Chego a casa, em cima da minha secretária de trabalho, por acaso/coincidências premonitórias? tinha dois livros:
Os Herdeiros do Vento - Antologia Apócrifa: Joaquim Pessoa
Como Se Desenha Uma Casa - Manuel António Pina

@as-nunes

2012/10/01

Outono refulgente neste país descontente ...


Na «Quinta das Lágrimas», em Coimbra, um dia destes ...

OUTONO

Largo silêncio amadurece o Outono.
O coração das folhas em letargo.
De alcantilado bosque cai no sono
O parque. Modorra a luz do lago.
E a natureza ali rendida à calma
Escuta, toda ouvidos num nenúfar,
Rumores da Eternidade que a sua alma
Antiga toca numa cana-de-açúcar.

Natália Correia

-
Creio que poderá ser útil ler-se, nos tempos que correm, "não percas a rosa - diário e algo mais (25 de Abril de 1974 - 20 de Dezembro de 1975)".
Como Natália questiona as manobras dúbias do MFA, Otelo, PCP (assembleias populares de braço no ar, comités variados, SUV, saneamentos selvagens, ocupação da terra)  e nos remete para o "O Encoberto" da "Mensagem" ! 

Já muitos de nós nos interrogamos se será inevitável o aparecimento de um salvador que leve ao ressurgimento da nação. 
Até me assusto ao dar comigo a tentar seguir este prenúncio de Fernando Pessoa no seu "Encoberto"!

É que estamos a ficar sem alternativas! ... 
(os partidos ditos de esquerda/esquerda não se conseguem libertar do estigma de totalitários, que granjearam no decorrer do chamado PREC e é pena que a sua prática histórica os não favoreça de modo a poderem constituir-se em alternativa, tão fartos andamos do bloco PS, PSD, cds/PP).

Eu andei na rua a lutar por um país livre, próspero e democrático.  
Tanta luta contra extremismos! ...
Tanta ilusão, utopias até!
Valeu a pena?  
Quero acreditar que sim! ...
Mas a alma de quem nos tem governado não tem sido grande!

Como foi possível a Constituição saída do 25 de Abril de 1974 ter permitido que, sob a sua capa protetora, se tivessem cometido crimes infames de lesa pátria, que nos enlamearam ao ponto a que chegámos?! ... 

@as-nunes

2012/09/26

Possuem palácios, iates, aviões e limusinas, E evitam as ruas onde vivem os que não têm tecto.



ANTÓNIO

No Norte de África decerto se lembrou de outro santo, outro António,
Que séculos antes, junto ao Nilo fora tentado muitas vezes.
Bosh mostrou ao mundo as suas tentações,
Assim como Giotto mostrou ao mundo o doce Poverello.
«Dá-me a tua pata», disse Francisco ao lobo,
E a pata pousou na mão do santo que António seguiu e venerou
No tempo da lepra, da peste e dos mendigos.
Dava pão aos pobres, pedia pão aos pobres, era pobre entre os pobres
Este santo de Lisboa, sábio entre os sábios,
Que cantava nos caminhos e atacava com a palavra os poderosos e a usura.

Os mercadores-banqueiros de Pádua e Florença
Estão hoje em Wall Street, na City e noutras praças.
Possuem palácios, iates, aviões e limusinas,
E evitam as ruas onde vivem os que não têm tecto.
Os seus olhos não sabem abrir-se para o nascimento de uma rosa.
Escuta, Santo: continua a ser difícil dialogar com a usura.
Mais fácil é falar com o trovão, como fizeste.

Maria Amélia Neto
Colóquio Letras
Mesmo o Passado
É sempre incerto
Número 142 Outubro-Dezembro 1996
p. 159
@as-nunes

2012/09/15

A Lei (muito menos a imposta pela Troika) não pode ser uma arma de tortura contra o cidadão comum! ...





(...)
Existe no entretanto uma fera, um abutre,
Um monstro pavoroso, hediondo, que se nutre
De lágrimas e sangue: é mais feroz que a hiena;
Não conhece remorso e não conhece pena;
Insensível à mágoa, às súplicas, à dor;
Forte como um juiz; cego como o terror:

É inviolável: mata e fica sem castigo:
Ainda hoje o Estado é o seu melhor amigo.
Pois bem; eu que defendo o monstro que assassina
Contra o braço da forca e contra a guilhotina,
Eu que proscrevo o algoz, eu exigi-lo-ei
Para enforcar somente esse bandido - a Lei.

Guerra Junqueiro

(Idílios e Sátiras)
ed. Parceria Antonio Maria Pereira
Livraria Editora, 1923
-

Como se vê, caros amigos/as, já Guerra Junqueiro, ao tempo do princípio do séc. xx se insurgia contra a forma displicente e inumana como as Leis são feitas e pior executadas.

A Lei não pode ser uma arma de tortura contra o cidadão comum! .......................................


Um instrumento de regulação da vida em sociedade, sim, nunca um instrumento colocado nas mãos do algoz para o usar a seu bel-prazer.


Não queremos que nos tratem como ovelhas no redil ...


Não se admirem, snrs., que - bem visto o desenrolar dos acontecimentos dos últimos tempos -  tomaram o poder de "assalto", com mentiras e muitas omissões. Só assim são, hoje, o Governo de Portugal. 

Não nos venham dizer que não sabiam como estava o país.



Além do mais, tendo havido ações de governos anteriores que dolosamente causaram o caos orçamental e financeiro a que Portugal chegou, que se apurem responsabilidades e se punam os responsáveis.

É a vida de milhões de portugueses, enfim, Portugal como Nação, que está em jogo! ...

-
- Também publicada no Clube dos Pensadores  
nota:
Entrada inspirada num comentário que deixei no post do blogue amigo "conversas avinagradas"
@as-nunes 

2012/09/12

Balada dos Aflitos

 Quem nos acode? ...
Bem damos tratos à imaginação! ...


Balada dos Aflitos


Irmãos humanos tão desamparados
a luz que nos guiava já não nos guia
somos pessoas - dizeis - e não mercados
este por certo não é tempo de poesia
gostaria de vos dar outros recados
com pão e vinho e menos mais-valia.


Irmãos meus que passais um mau bocado
e não tendes sequer a fantasia
de sonhar outro tempo e outro lado
como António digo adeus a Alexandria
desconcerto do mundo tão mudado
tão diferente daquilo que se queria.


Talvez Deus esteja a ser crucificado
neste reino onde tudo se avalia
irmãos meus sem valor acrescentado
rogai por nós Senhora da Agonia
irmãos meus a quem tudo é recusado
talvez o poema traga um novo dia.


Rogai por nós Senhora dos Aflitos
em cada dia em terra  naufragados
mão invisível nos tem aqui proscritos
em nós mesmos perdidos e cercados
venham por nós os versos nunca escritos
irmãos humanos que não sois mercados.


Manuel Alegre
Nada está escrito
ed. D.QUIXOTE - 2012
@as-nunes 

Jogos de estratégia partidária/PSD para a II parte da legislatura

2012/09/03

Inferno cá em cima

 Só com um zoom 35x consegui fixar a luz do Sol
 O dia amanheceu assim ... o fogo lavrava  raivoso, mortal, Ourém em aflições.
O vento desanuviou um pouco a vista para nascente, mesmo assim era este o aspeto do fogo florestal. Tenha-se em conta que o local do fogo ficava a cerca de 25 km para lá da linha do horizonte...

Inferno

O inferno subiu à Terra !
Enormes línguas de fogo
Lambem tudo
Tudo devoram
Gigantescos cogumelos de fumo
Elevam-se nos ares
Eclipsam o Sol
E cinzas, muitas cinzas
Empurradas pelo vento
Vão cobrindo tudo
Qual manto de neve cinzenta.

Cinzenta sinto a minh´alma !
A minha Terra, tão linda
Destruída sem dó
A cada segundo que passa !

O inferno subiu à Terra !
Obra do demónio ?
Insensatez dos homens.

Zaida Paiva Nunes
-
@as-nunes

2012/08/27

Um garnizé feito rei !


Um garnizé feito rei

Num dia de Março ido
Nasceu aqui nos Lourais
Um pinto lindo, fofinho
Cinco centímetros, não mais.

Foi crescendo, emplumando
Doze irmãozitos por pé
Foi ganhando colorido
Mas que lindo garnizé !

Num belo dia de Agosto
De viagem pr´a Viseu
Levei o galo comigo
De presente a um irmão meu.

E pronto, lá ficou ele
Contente que nem eu sei !
Num harém com seis galinhas
Um garnizé feito rei !

 Zaida Paiva Nunes
-
Em tempo:
Este garnizé mal lhe demos asas voou parecia um jato. E logo ali nos veio à mente certos garnizés que por aí pululam, que mal lobrigam um galho lá no alto, ali vão eles diretos ao poleiro.
Para os tirar do poleiro é que é o bom e o bonito. Não arredam pé nem à paulada, que dali têm mais à vista a paparoca. E ai dos outros galináceos que frequentam o mesmo galinheiro, levam bicada de criar bicho, fiquem quietinhos que pode ser que ainda sobrem uns restos para sobreviverem, que também não convém que morram, senão mandavam em quem?
@as-nunes

2012/07/27

Um pôr do sol à Florbela Espanca (?!)


Seguíamos, eu e a Zaida, de carro, Avenida das Comunidades (Leiria) abaixo, sem grande pressa, tínhamos encontro marcado com Florbela Espanca, na Nazaré, no Centro Cultural, uma conversa sobre a sua vida e a sua obra, os nossos amigos e companheiros de tantas tertúlias de poesia, o casal Soares Duarte, já lá estão, sempre na primeira fila, nestas ocasiões...

Sei que já me tornei maçador com esta mania da fotografia. Mas que hei-de fazer?! Foi Deus quem me fez assim, quando me afeiçoo a um hobby, são anos e anos de dedicação, diria mesmo de paixão!...

Ante que o Sol se escondesse atrás das nuvens, na direção do mar, parei o carro (em segurança, quatro piscas ligados) e guardei na minha Nikon D50 com objetiva Sigma 70-300 mm, este pôr do sol.
Mais um, dirão!
Único, digo eu!...

Já Florbela Espanca escrevia...
-
Sol poente


Tardinha... «Ave, Maria, Mãe de Deus ...»
E reza a voz dos sinos e das noras ...
O sol que morre tem clarões de auroras,
Águia que bate as asas pelos céus !


Horas que têm a cor dos olhos teus ...
Horas evocadoras de outras horas ...
Lembranças de fantásticas outroras,
De sonhos que não tenho e que eram meus !


Horas em que as saudades plas estradas
Inclinam as cabeças mart´rizadas
E ficam pensativas ... meditando ...


Morrem verbenas silenciosamente ...
E o rubro sol da tua boca ardente
Vai-me a pálida boca desfolhando ...

pp 107 «sonetos» de Florbela Espanca
Estudo Crítico de
José Régio
Ed. Livraria Bertrand, 1981
@as-nunes

2012/07/25

Quem define os limites da vida?!...

(A vida para além...)



Perfil

Não. Não tenho limites.
Quero de tudo
Tudo.
O ramo que sacudo
Fica varejado.
Já nascido em pecado,
Todos os meus pecados são mortais.
Todos são naturais
À minha condição,
Que quando, por excepção,
Os não pratico
É que me mortifico.
Alma perdida
Antes de se perder,
Sou uma fome incontida
De viver.
E o que redime a vida
É ela não caber
Em nenhuma medida.

Coimbra, 2 de Março de 1979
Miguel Torga
@as-nunes

2012/06/29

Saudades... 1969/1971

Prémio Camilo Pessanha 1969

Não quero prefácio
para o meu primeiro livro de poemas.
Se o que ele contém não é poesia,
nunca as palavras de apresentação 
o poderão salvar.
-
rio não é bom
rio          é bom
rio tem peixe
mas rio tem jacaré


Alima chora menino
Alima perdeu filho
que foi no dentro
do jacaré


rio é bom
rio é mau


Nampula, 1 de Setembro de 1969
Nasceu a minha filha Inês
-
nota: voltarei mais vezes com este poeta...