Está em curso o ano do bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano.
A capa acima é dum livro de João Medina, Edições Terra Livre, 1977 e a gravura é da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro e dedicada a Alexandre Herculano, a quem um dia chamou "azeiteiro". Foi utilizada na Capa da revista Lanterna Mágica, de 26 de Junho de 1875.
Durante várias décadas, anos 40 a 60 do século XIX, Herculano dedicou a sua vida à política e à literatura, tendo atingido a expoência máxima. Era considerado, consensualmente, o «primeiro homem do seu país», tendo participado nos momentos mais importantes que se passaram em Portugal naquele período. Escreveu os livros mais lidos do seu tempo, nomeadamente pelos mais novos, que muito o apreciavam. Foi o inspirador da revolução liberal de 1851(*) e organizou um dos dois partidos liberais da altura. Redigiu o Código Civil com o qual se poderá dizer que se iniciou o processo de separação da Igreja e do Estado com a institucionalização do casamento civil e que haveria de se consumar já em pleno século XX. Esta tomada de posição criou muitas incompreensões e inimizades a Herculano, que passou a ser visto como um ateu convicto o que não correspondia, de todo, à realidade. Privadamente, Alexandre Herculano frequentava a sua capela privativa na sua Quinta de Vale de Lobos.
Inesperadamente, no momento em que o país se afundava dramaticamente num caos de valores sociais, políticos e económicos, determinado a não se deixar envolver em confronto com as ideias da nova geração que estava a surgir na ribalta da cena política e literária, retirou-se voluntariamente para a sua Quinta de Vale de Lobos (que comprou com os direitos autorais dos seus livros), transformando-se num verdadeiro e empenhado lavrador. Com esta decisão cortou radicalmente com a vida pública passando a viver duma forma decididamente solitária.
Repousa na capela tumular do Mosteiro dos Jerónimos.
Repousa na capela tumular do Mosteiro dos Jerónimos.
Herculano escreveu muitas das mais belas páginas da literatura e da História de Portugal. Pode-se mesmo dar o devido realce à magistral obra Eurico, o Prestíbero. Nesta oportunidade, porém, apetece-me falar duma das suas Cartas Inéditas a Joaquim Filipe de Soure datada de 4 de Julho de 1867(?) a que lhe deu o título: AS TRÊS FAIAS.
E lembrei-me de deixar aqui, mais uma vez, expressa a minha admiração pela FAIA da Alameda José Lopes Vieira, junto ao Rio Lis e ao Jardim Luís de Camões, em Leiria (v. foto). Esta árvore, enquadrada por outras, também muito bonitas (melia azedarach, liquidambar, padreiro, bordo, tília), compõem um dos recantos mais românticos de Leiria (já aqui publiquei variadíssimas fotografias).
Porque virá a propósito deste meu parêntesis, e também porque espelha fielmente o espírito monástico de Herculano da altura, permito-me transcrever um pequeno excerto daquela carta: "... Em suma, o canto obscuro da aldeia é hoje o meu único destino nacional, e felizmente a minha única ambição. As minhas três grandes faias dão-me mais prazer ao vê-las que todos os museus, monumentos, praças, teatros, bibliotecas da Europa. Que ia eu lá ver, se não achava lá as minhas três faias? Estou assim: que lhe hei-de eu fazer?"
Lendo a contra-capa do livro que está a servir de guia deste texto facilmente se deduz que o seu objectivo é transmitir um tributo de homenagem a Alexandre Herculano. Estava-se na altura da sua edição a comemorar o centenário da morte de Herculano.
Raramente alguém terá inspirado tanta controvérsia à volta da sua vida e da sua obra, na qual se envolveram, a favor e contra tantas figuras conhecidas, como no caso de Herculano. O caso é que se trata de figuras gradas da literatura portuguesa pertencentes a uma geração mais nova, a geração dos anos 70 do séc. XIX. Figuras que conheceram e conviveram com Herculano e que, por isso, lhe estariam mais próximas, emocionalmente.
Dentre essas figuras cimeiras destacam-se: Antero de Quental, Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro, Anselmo de Andrade, Ramalho Ortigão, Teófilo Braga, , Adolfo Coelho e - sobretudo - Oliveira Martins.
...
Muito mais se poderia acrescentar para compor este texto. Simplesmente, o que me motivou a abordar este tema, o de falar de Alexandre Herculano, foi, por um lado, o facto de estarmos em ano de comemoração do bicentenário do seu nascimento e, por outro, o de recapitular informação que já me estava a ficar distante no tempo em que na Escola a tive que estudar por obrigação.
É que está programado para muito em breve falar-se sobre Alexandre Herculano no seio do Grupo de Poetas e amigos da Literatura da Biblioteca Municipal de Alcanena, do qual já faço parte. Com muito gosto.
Raramente alguém terá inspirado tanta controvérsia à volta da sua vida e da sua obra, na qual se envolveram, a favor e contra tantas figuras conhecidas, como no caso de Herculano. O caso é que se trata de figuras gradas da literatura portuguesa pertencentes a uma geração mais nova, a geração dos anos 70 do séc. XIX. Figuras que conheceram e conviveram com Herculano e que, por isso, lhe estariam mais próximas, emocionalmente.
Dentre essas figuras cimeiras destacam-se: Antero de Quental, Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro, Anselmo de Andrade, Ramalho Ortigão, Teófilo Braga, , Adolfo Coelho e - sobretudo - Oliveira Martins.
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Muito mais se poderia acrescentar para compor este texto. Simplesmente, o que me motivou a abordar este tema, o de falar de Alexandre Herculano, foi, por um lado, o facto de estarmos em ano de comemoração do bicentenário do seu nascimento e, por outro, o de recapitular informação que já me estava a ficar distante no tempo em que na Escola a tive que estudar por obrigação.
É que está programado para muito em breve falar-se sobre Alexandre Herculano no seio do Grupo de Poetas e amigos da Literatura da Biblioteca Municipal de Alcanena, do qual já faço parte. Com muito gosto.
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(*) Regeneração
(*) Regeneração
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6 comentários:
Vejam a nota final.
Não vos faz avivar o que se passa em Portugal, na presente data?
Não há maneira de aprendermos com os erros do passado!...
Ao estudarmos o século XIX da História Nacional podemos ficar com a impressão que no nosso actualmente está a ser o fruto de uma cópia muito semelhante...
Sem dúvida, Micael. É que se fica mesmo com a impressão - diria mesmo que se pode ver uma cópia nítida - do que se passou naquele tempo conturbado da nossa vida em sociedade.
A questão do liberalismo, sempre o mesmo dilema. Mais liberalismo ou não, eis a questão. O problema é que se só se tratasse de resolver a questão económica em mira desenvolver a sociedade e não meia dúzia de gananciosos, teríamos o caminho aberto e podíamos chegar a bom destino.
Assim, como as coisas estão, é que não. É só a defesa da Alta Finança que se tem em vista e com a qual se argumenta que ou é assim ou então o Abismo...
Pois é, Micael Sousa, e isso em que é que deu? É algo assustador, não é?
Mais uma lição de História bem contada, para que não se esqueça o passado e se entenda melhor o presente!
Saudações:))
Não se aprende com os erros do passado porque não se quer. Aos politicos e à politica convem-lhes manter as coisas assim..Boa semana. Abraço
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