GÉNESE
Todo o poema começa de
manhã, com o sol. Mesmo
que o poema não esteja
à vista (isto é, céu de chuva)
o poema é o que
explica tudo, o que dá luz
à terra, ao céu, e com
nuvens à mistura – a luz incomoda
quando é excessiva.
Depois, o poema sobe
com as névoas que o
dia arrasta: mete-se pelas copas das
árvores, canta com os
pássaros e corre com os ribeiros
que vêm não se sabe de
onde e vão para onde
não se sabe. O poema
conta como tudo é feito:
menos ele próprio, que
começa por um acaso cinzento,
como esta manhã, e
acaba, também por acaso,
com o sol a querer
romper.
Nuno Júdice
pp 302
Poesia Reunida 1967 - 2000
- Publicações Dom Quixote - 2000
Foto:
Duma varanda da Barreira avista-se a Serra da Maúnça, a Sra. do Monte, nas suas silhuetas matinais, envoltas ainda na neblina do vale do Lis.
@as-nunes
@as-nunes
3 comentários:
A poesia acontece e este poema comprova-o perfeitamente.
Caro Luís
A vida é um poema épico, dos mais completos e versáteis e estimulantes que se possam imaginar.
Esta perspectiva fotográfica pode parecer sempre a mesma, repetitiva, até a mim, por vezes, tal avaliação me ocorre, mas não. Cada momento, mesmo que fixado numa fotografia, é único.
O que será da vida se não conseguirmos sentir a poesia que envolve tudo, a todo o momento?
Este mês tenho insistido em Nuno Júdice. De facto. O Grupo de Poetas de Alcanena, este mês, vai abordar este extraordinário escritor.
Gosto muito da sua poesia.
Poesia ou fotografia, uma questão de sensibilidade...
:)
Bela combinação!
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