Rua D. Sancho I - Leiria. Ao fundo vislumbra-se a casa dos Paivas, no Largo da Sé. A toponímia desta rua justifica-se conforme já referenciado aqui. Na sequência do que vem dito na nota atrás, julgo ser oportuno relembrar aquela que é considerada a nossa mais antiga cantiga de amigo, atribuída a D. Sancho I, composta provavelmente em 1199. (*)
A casa dos Paivas, a celebrizada "Botica do Carlos" do romance de Eça de Queirós, "O Crime do Padre Amaro", inicialmente identificada em letras em painel de azulejos "viúva lamego" com o nome "Pharmácia de Leonardo da Guarda e Paiva".
Quase todos os dias faço este percurso, as mais das vezes a pé. Infelizmente o Largo da Sé está com um aspecto quase terceiro-mundista. Casas antigas escoradas para não ruirem completamente, o Largo em si transformado num estaleiro, num pombal e numa armadilha para os automobolistas (vejam-se os pinos derrubados; mal começa a chover, lá temos a dança das derrapagens no piso de pedra extremamente escorregadia). Na parte extrema esquerda da foto pode ver-se uma placa alusiva ao insigne poeta Leiriense Acácio de Paiva, que aqui nasceu em 14-4-1863.
(*)
…Ay! Eu coitada
como viuo
En gram cuydado
por meu amigo
Que ey alongado!
Muyto me tarda
o meu amigo
na guarda!
…Ay! Eu coitada
como viuo
En gram deseio
por meu amigo
Que tarda e non veio!
muyto me tarda
o meu amigo
na guarda!
Esta disposição é a mesma que foi adoptada na ed. da Rev. de Portugal, idêntica à de Th. Braga (Hist. da Lit. Portuguesa, Edade Média, p. 188). Foi reproduzida por D. Carolina Michaelis (CA1, II, pp. 593-594), Audrey Bell (The Oxford Book of Portuguese Verse, p. 1) e J.J. Nunes na Cresc., p. 349, diferente da que adoptara nas Cant. d´Amigo, DXII.
7 comentários:
Já por aí andei a passear e reparei na casa por causa dos azulejos. Belíssimos. Quanto ao estado das casas que rodeiam a praça, é apanágio da maioria das cidades portuguesas.
Um abraço.
Estes azulejos são belíssimos, mas dizes que o largo continua na mesma? Já Há uns tempos que não vou a Leiria mas, se bem me lembro, o largo da Sé está pouco recomendável há demasiado tempo.
Bom 2008
É uma pena que assim seja mas também tem a ver com a sensibilidade cultural dos nossos governantes.Se eles não estão sensibilizados para a cultura e a preservação do património nada a fazer.Também temos culpa de os lá colocar..Um grande abraço
Passei para deixar um abraço ... e ler, já se vê.
Até sempre.
Como o António dá beleza aos posts que coloca, muito bonito este post, na verdade essa rua direita e afins podia estar em melhor estado de conservação, mas ....."É uma pena que assim seja mas também tem a ver com a sensibilidade cultural dos nossos governantes." concordo com este nosso amigo (arte por um canudo 2). Quem somos nós para conseguir alguma coisa.
Apesar de tudo adoro andar por ali, mas tenho saudades do tempo em que podiamos andar e apreciar completamente descansados. Um abraço
Pois tardava-se "o meu amigo" na Guarda, porque tinha por la uma tal "Ribeirinha" por quem morria de amores. Com isso ganhou a Guarda, que de uma singelo povoleu, passou a cidade com a transferencia da Se da Egitanea, para la, gracas ao D. Sancho I.
Pois sim, AL, parece que os estudiosos/experts da matéria julgam que esta cantiga tem de inspiração "Ribeirinha". E eu que não poude aprofundar as minhas indagações aqui estou a agradecer-lhe a informação. Aí está a interrogação resolvida.
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