Aspecto geral dos edifícios que integram o núcleo central da mítica Quinta de Vale de Lobos, na área de Barreira, Cortes, Leiria. Esta fotografia foi tirada desde a localidade de Vidigal, que abarca o vale do Lis, na zona onde está a ser construído um viaduto, parte integrante do IC36, sobre as terras, das mais férteis e de relevante interesse ambiental de toda a bacia deste rio.
Continuamos a ver, do lado esquerdo, a Quinta de Vale de Lobos. Sobressaem, no entanto, as imponentes obras do viaduto que liga a encosta da Quinta, atravessa o vale do Lis e prossegue, do outro lado do rio, na encosta da margem direita, na zona do Vidigal-Norte. Por entre os pilares do viaduto ainda se vislumbram umas construções, que pertencem à Quinta de S. Venâncio.
Mais um desbaste na zona florestal, de terrenos de cultivo de primeira qualidade em nome do desenvolvimento económico. Toda a área onde se veem terras movimentadas recentemente constituía uma floresta à base do carvalho robles (Quercus robur).
Mais um desbaste na zona florestal, de terrenos de cultivo de primeira qualidade em nome do desenvolvimento económico. Toda a área onde se veem terras movimentadas recentemente constituía uma floresta à base do carvalho robles (Quercus robur).
A páginas 39 do livro RECORTES do Jornal daí – vol II (1), lê-se, a propósito dos “Moinhos das Cortes em 1906”, da autoria de Carlos Fernandes, o seguinte:
“...Por conseguinte, em 1922, pelo menos uma propriedade na Ponte do Cavaleiro tinha a designação de “D. Ignez”, indiscutivelmente uma reminiscência muito forte da senhora que, nos finais do século XVIII, tinha três moinhos a laborar nas Cortes. E a sua importância seria de tal monta que o seu nome se confundia com o nome da povoação ou, pelo menos, com o daquela propriedade que passou a domínio da Quinta de Vale de Lobos e de que, em 1922, era proprietário o engenheiro Roberto Charters d´Azevedo, filho do Visconde de S. Sebastião, das Cortes. O mesmo Roberto Charters que é o autor da planta da bacia do rio Lis de que falámos no início deste apontamento.”
Deixo aqui este registo, em complemento das notas que se seguem, fundamentadas no que Ricardo Chartres d´Azevedo deixou escrito no livro “Villa Portela”(2), a que já me referi, quando abordei o tema da Quinta de S. Sebastião.
Esta questão da Quinta de Vale de Lobos já faz parte do meu longo processo de aprendizagem da história de toda esta zona, já que, no início da primeira década deste século, fui membro da Junta de Freguesia da Barreira e, na altura, fomos confontados com o problema de delimitação das áreas territoriais das freguesias de Barreira, Cortes, Leiria e Golpilheira. Muito se falou na Quinta de Vale de Lobos, se ficaria na Barreira ou em Leiria. Acabámos, por consenso, em estabelecer que ficaria a pertencer à freguesia de Leiria e que, entretanto, a freguesia da Barreira, junto ao Quartel do RAL 4, passaria a ser delimitada pela Rua José Marques da Cruz. E assim passou a constar.
1) Ed. Do “Jornal das Cortes – mensário regional” de 2007
(2) ler "Villa Portela", ed. gradiva, Ricardo Charters d´Azevedo, p. 83 e nota 62:
Das diversas propriedades que o 1º Visconde de S.Sebastião teve nos arredores de Leiria, destacamos a Quinta de Vale de Lobos (nota 62) e, ...
Em 1868, era seu feitor António Pereira, Cf. A.D.L., paróquia das Cortes, Casamentos, 1815-1869, fl. 99v.
(2) ler "Villa Portela", ed. gradiva, Ricardo Charters d´Azevedo, p. 83 e nota 62:
Das diversas propriedades que o 1º Visconde de S.Sebastião teve nos arredores de Leiria, destacamos a Quinta de Vale de Lobos (nota 62) e, ...
Em 1868, era seu feitor António Pereira, Cf. A.D.L., paróquia das Cortes, Casamentos, 1815-1869, fl. 99v.
14 comentários:
É verdade, está tudo transfigurado. Esse viaduto a passar por cima de uma zona tão bonita (de uma quinta tão linda) é uma aberração sem comparação. Cada vez que passo por aí, fico espantada!
As quintas!
São um manancial de história, de entrelaçar de famílias, de tempos, de vidas!
São verdadeiros pontos de reflexão e de intercepção da vida do homem ao longo dos tempos!
Claro, custa-me, muito, ver o que se passa por todo o lado. As vias rápidas a sobreporem-se a tudo. Em seu nome, abatem-se florestas, destroem-se terras férteis, entulham-se zonas húmidas, cobrem-se rios e ribeiras!
Uma calamidade!
E quem é que as vais usufruir?
Com os preços a que vão chegar os combustíveis?
Bem, mas podemos também pensar que antes da dita quinta e para a sua construção pode ter sido também destruído importante património natural. Aliás, já modificamos tanto alguns ambientes que a presença e acção humana é impossível de separar daquilo que é considerado “natural”.
Outro exemplo que nos pode fazer pensar. Hoje apreciamos as estradas romanas, mas que pensariam os lusitanos a verem as suas terras rasgadas por aquilo a que seguramente chamariam de aberrações?
Felizmente as florestas podem ser replantadas e as estradas até podem servir para veículos mais sustentáveis do que os actuais movidos a combustíveis fósseis.
Mas claro, exige-se integração paisagística e urbana nestas obras - que tecnicamente se chamada de “obras de arte”. Provavelmente mais poderia ter sido feito nesse campo.
Como sempre um excelente texto repleto de saber aqui o principal que forma o artigo.
Caro Micael
Como sempre, o meu amigo levanta questões extremamente pertinentes.
A mim faz-me muita confusão sempre que se rompe, em nome do progresso/riqueza, por zonas que deviam ser classificadas e conservadas como áreas de protecção ambiental. Com todo o rigor.
O caso é que, o homem está a ser tão pressionado
- talvez até precise de se comportar assim em nome a sua própria sobrevivência no curto prazo da vida a terra -
que se está a tornar extremamente complicado, moldar a sua actividade de modo a se adaptar com mais empenho na defesa dos recursos naturais (alguns de difícil senão improvável renovação) de que carece para uma boa qualidade de vida.
Um dilema muito grande que temos que saber deslindar!
Caro António, é muito pertinente, e fundamentada, a sua chamada de atenção. Julgo que é relativamente consensual a ideia da necessidade de equilíbrio entre progresso e preservação dos recursos naturais. O problema é quando os segundos são esquecidos em detrimento único do primeiro... Esperemos que não seja este o caso.
Um abraço!
Mudam-se os tempos, mudam-se as paisagens....
Muito bom texto, Amigo António! E belas fotos, como de costume!
Venho apenas dizer que o meu 1º ano lectivo nessa escola foi o de 1967/68...
Depois fui colocada em Setúbal.
Dava Português e Francês a vários níveis, de manhã, à tarde e à noite.
Dava 31 horas e uma não era paga porque só se podia dar até 30h! :-))
Era um mundo aquela escola e no princípio ainda levei uns encontrões nos corredores por pensarem que eu era aluna!
Era uma menina! :-))
Rosa dos Ventos
Provavelmente, mesmo que passemos um pelo outro, eu já não a reconhecerei. Também tinha um horário dos diabos. Dava aulas desde as 8 e meia (ou 8h?) até às 10 e tal da noite. Quase todos os dias. Desforrava-me aos Sábados. Só me levantava lá para o meio-dia, para ir almoçar.
Pode ser que um dia destes ainda nos encontremos por aí. Aliás devemos andar por idades muito próximas, segundo depreendo do que vai escrevendo...
:-)
A questão que levanta é muito pertinente, mas como resolveria a questão neste caso?
Boa questão, Isabel.
A cidade de Leiria, como as principais cidades do país, precisam, sem dúvida, de serem dotadas de vias circulares, para desembaraçar o trânsito automóvel.
O caso em apreço, do IC36, em primeira instância, tem a intenção de ligar directa e rapidamente, a A1 à A8. Claro que é de utilidade, mas seria absolutamente imprescindível? Seria este o melhor traçado? O que menor impacte ambiental teria?
O problema, neste caso, é que se está a sobrecarregar em demasia a bacia hidrográfica dos rios Lis e Lena.
Que fazer, então, insistirá?
O dilema ambiental mantém-se. Como o ultrapassar, também me questiono!
Bem, posso dar a minha opinião como técnico. A opção do viaduto, não conhecendo eu o projecto, parece-me obvia. Foi feito para evitar movimentações de terras no vale do lis que iriam afectar a bacia hidrográfica e até os ventos predominantes. Não vejo melhor solução. De notar que fazer o atravessamento em viaduto em vez de aterro saiu seguramente muito mais oneroso.
Bem, Micael.
Agora, que tenho acompanhado mais de perto estas obras de grandes movimentações de terras, de construção de túneis e de viadutos, é que dá para ficar com uma ideia mais aproximada dos fluxos financeiros envolvidos nestas obras de construção de estradas de modo a se evitar as configurações geográficas dos terrenos (montes, vales, rios).
Podemos falar de autênticas fortunas em jogo.
Estamos cada vez mais pressionados.
Por um lado as imperiosas decisões de se investir no desenvolvimento e consequente investimento.
Por outro a decisão drástica de se ter em conta o equilíbrio ambiental do Planeta.
Sem dúvida que para atravessar o vale do Lis só através de viadutos.
O ambiente, mesmo assim, é afectado gravemente. Parece que estamos condenados a opções que nos levam a colocar o ambiente em segundo plano.
Até quando é que o Planeta suportará tantas agressões ao equilíbrio do ambiente em que ele se suporta, de acordo com as leis supremas do Cosmos?
Desenvolvimento, delapidação ambiental, qualidade material da vida do Homem, desequilíbrios ambientais, desastres com perdas de vidas e bens, reconstruir, requalificar...
O Homem numa camisa de onze varas!... e num circuito fechado e cada vez mais apertado!
Os impactos são muitos. Mas se pensarmos, afinal o que é o ambiente? Será que aquilo a que chamamos ambiente não é já algo criado e modificado pelo homens há séculos? Muitas existências são-no de verdade...
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