2013/10/01

Romance da vida em Leiria em 1916-25

Escrevi em 26 de Setembro de 2013, no "facebook", o que abaixo transcrevo. O feicefuque não me deixa partilhar duma forma direta, neste blogue, ao contrário do que acontece no inverso...
Estarei certo ou errado? Será que eu é que ainda não percebi como o fazer a não com a função do Windows, do copiar/colar?


António AS Nunes
Estou a reler, agora com atenção redobrada, um livro que Marques da Cruz (Zeca) publicou em 1995, "Alta Estremadura - Romance Gastronómico", com Prefácio de José Hermano Saraiva, capa de Jorge Estrela. Já lá vão quase dez anos. Para quem gostar de se inteirar do que era a vida em Leiria, no meio mais burguês e intelectual, dos anos de 1916-25, aconselho vivamente a sua leitura. Neste romance (ficção com base na realidade, arrisco-me eu a dizê-lo) perpassam personalidades, sítios e edifícios de referência de Leiria da época, como José Saraiva (prof. do Liceu de Leiria), Tito Larcher, Acácio de Paiva, Afonso Lopes Vieira, Hernâni Cidade, José de Figueiredo, Horácio da Silva Eliseu, Acácio Leitão, Américo Cortez Pinto, Regimento de Infantaria 7 (com um Batalhão mobilizado para a I Guerra Mundial), Teatro Dona Maria Pia (com o seu fantástico "pano de boca" (mandado pintar expressamente em Milão), Convento de Sant´Anna, Rossio, Júlio Estrela e a sua fama (e proveito) de apreciador da gastronomia, ... e receitas, muitas receitas dos pitéus que se comiam e ainda comem em Leiria... Um regalo! 
-
em tempo:
- Realce-se um tema muito candente na altura e que subsiste na atualidade, que era a real localização dos terrenos onde se travou a tão badalada "Batalha de Ourique". É que existe uma terra chamada "Ourique" ali perto das Fontes do rio Lis. E este tema foi muito discutido e alvo de estudos apurados quer de José Saraiva, quer de Tito Larcher. E pôs-se em causa se essa batalha terá sido travada a Sul do Tejo ou, mais precisamente, aqui perto de Leiria... 
Tudo indicia que seria praticamente impossível que ela tivesse ocorrido no Alentejo como consta dos registos oficiais para a História de Portugal. Só que, pelos vistos, tal evidência não tem sido tomada em conta pelos historiadores...
Gosto ·  · Promover · 

2013/09/30

CARTA DE OUTONO


CARTA DE OUTONO

Pensarás que não te escrevi antes porque o verão
consome a energia da alma com um apetite solar; e
porque as tempestades do crepúsculo incendiaram as
palavras com o rápido fogo aéreo. No entanto, eu
ouço aquelas aves que gastaram as asas na travessia
do Espírito, cujos olhos viram o que havia de duvidoso
nas traseiras do invisível, onde um deus culpado
se esconde e se ouvem as vozes sem nexo dos
anjo enlouquecidos. Essas aves deixaram de saber voar,
agarram-se aos ramos dos arbustos e, ao fim da tarde,
gritam em direção às nuvens com os olhos secos e
sem medo. Abri-lhes o peito: e encontrei as entranhas
verdes como as folhas perenes do norte.  Então,
ouço-te bater por dentro de mim, embora estejas morto;
e os teus dedos tenham perdido a força antiga que
desafiava a sombra. Procuro uma entrada no átrio
desabrigado da página; avanço entre sílabas e versos
perdendo-me do silêncio na insistência dos passos.
O passado é todo o dia de ontem; a vida coube-me
neste bolso do infinito onde guardei os últimos cigarros;
o teu amor gastou-se com um breve brilho de
isqueiro. Saio sem desejo dos desertos de outubro
e novembro, arrastando o outono com os pés, nas planícies
provisórias de um esquecimento de estações.

Nuno Júdice 
Poemas em voz alta (p.22)
Dito por Natalia Luiza

Ed. Presença, 1996

2013/09/29

Biblioteca Municipal de Alcanena: 11º Aniversário

28 de Setembro de 2013: 11º aniversário da Biblioteca Municipal de Alcanena. Juntaram-se, por feliz coincidência, dois eventos numa sessão de Poesia e Cultura. O Dr. Óscar Martins a abrir a sessão de poesia com Hélia Correia.
 Um aspeto da assistência, também participantes ativos.
 Outro aspeto dos participantes.
 Bolo de Aniversário e uma tarte de maçã feito a primor pela Zaida. As maçãs que foram utilizadas na confeção são do nosso jardim/quintal na Barreira - Leiria.
Óscar Martins a preparar o ambiente para se cantar "Parabéns a Você" em companhia da Luísa Soares Duarte ao telefone, por causa dos problemas de saúde do marido e nosso companheiro, ausente/presente...

Também se voltou a falar de Acácio de Paiva e do livro "Falando de Acácio de Paiva"... 
(Afinal em Estremoz também há uma rua com o seu nome)

Um abraço, Soares Duarte!... 
@as-nunes

2013/09/27

Desfeita em pó a estátua



A terceira miséria é esta, a de hoje.
A de quem já não ouve nem pergunta.
A de quem não recorda. E, ao contrário
Do orgulhoso Péricles, se torna
Num entre os mais, num entre os que se entregam,
Nos que vão misturar-se como um líquido
Num líquido maior, perdida a forma,
Desfeita em pó a estátua.

Hélia Correia
A Terceira Miséria
Relógio d´Água, 2012
poema 23. (p. 29)
-
Próximo Sábado, na Biblioteca Municipal de Alcanena (15 horas)

@as-nunes

2013/09/23

José Vaz, um poeta Leiriense (mesmo não tendo cá nascido)



No Outono,
as folhas das árvores
são como filhos que partem,
ganhando asas no vento
e semeiam a primavera
na curva do Outono para criar a palavra.

No Outono as folhas das árvores
são como poemas que ganham voz
ao abandonarem o poeta.
As árvores e os poemas
alegremente, adivinham a floração
primaveril, mesmo no Outono.

As folhas das árvores
são assim, quando se despedem
brandamente
do Outono.

José vaz


-
Que tal organizar uma Antologia de poetas leirienses?
-
É justo anotar que já está em curso há vários anos (6? 7? mais?) uma coleção "25 poemas" da Ed. Folheto onde se pode encontrar muita poesia de Leirienses...

Mesmo assim, impõe-se uma ANTOLOGIA!  

Hélia Correia: Sábado na biblioteca de Alcanena




  • Hélia Correia

  • Hélia Correia, é uma escritora portuguesa. É licenciada em Filologia Românica, tendo feito também um curso de Pós-graduação em Teatro Clássico. Além de se ter dedicado à escrita, também fez diversas traduções. Wikipédia
    Nascimento1949, Lisboa

  • 7.

    Nós, os ateus, nós, os monoteístas,
    Nós, os que reduzimos a beleza
    A pequenas tarefas, nós, os pobres
    Adornados, os pobres confortáveis,
    Os que a si mesmos se vigarizavam
    Olhando para cima, para as torres,
    Supondo que as podiam habitar,
    Glória das águias que nem águias tem,
    Sofremos, sim, de idêntica indigência,
    Da ruína da Grécia.


    Hélia Correia
    A Terceira Miséria
    Relógio d´Água, 2012
    p. 13

    @as-nunes

    2013/09/21

    ACÁCIO de PAIVA - Diversos apontamentos

    Vai este verbete servir de suporte para aqui deixar o registo de diversas notas e apontamentos que me ocorrerem, entretanto, já depois do lançamento do livro "Falando de Acácio de Paiva", 6 de Setembro de 2013:

    1 - José Marques da Cruz publicou em 1995, ed. A 10ª Musa EDITORES, o livro "A Alta Estremadura - Romance Gastronómico", prefaciado por José Hermano Saraiva (registo 1299 na az-biblioteca particular) em que a pág. 51 se refere a Acácio de Paiva e à sua esposa num momento em que a personagem central do seu romance, José Saraiva, pai de José Hermano Saraiva (poder-se-á dizer, ficção baseada em factos reais) entra, para jantar, em 1916, numa pensão em Leiria, "A Pensão do Manuel dos Santos", onde hoje existe a Pensão Leiriense, ali ao pé do Arco da Misericórdia. É apresentado, nesta fase do seu romance, como "distinto funcionário das alfândegas e plumitivo de créditos já firmados". 
    -
    Ler, no mesmo livro, pp 61a 63, onde se conclui da ligação de Acácio de Paiva à Vieira, em cuja Alfândega era funcionário.
    Aqui se fala do célebre ensopado de peixe da Vieira.
    -
      ...
    (Há-de continuar...)

    2013/09/15

    Acácio de Paiva nos Serões Literários de Cortes - Leiria

    No decorrer da sessão, vários livros, entre os quais, se deu realce ao "Falando de Acácio de Paiva", que o seu autor se incumbiu de apresentar.


    Antes, 20 horas, no recinto das Tasquinhas das Cortes, instalações modelares, depois de um repasto à base de bacalhau à lis e ensopado de borrego dei uma vista de olhos à Lua em quarto-crescente, com um telescópio ali montado e à disposição dos populares. Muito interessante...

     Os enfeites luminosos com a Lua, no alto, em missão de observação sobre a Terra...
     No decorrer do serão...
    Luís Vieira da Mota, depois de nos ter mostrado todo o seu entusiasmo pelo cariz sarcástico de um soneto a Sotto Mayor banqueiro (na época dos anos 10 do séc. XX) escrito por Acácio de Paiva na coluna ""Em Foco" do suplemento "O Século Cómico". 

    O próximo serão terá lugar no dia 12 de Outubro.


    2013/09/12

    Acácio de Paiva: Vim agora mesmo de Leiria

    Ontem à noite, umas 10 horas, a Lua em quarto crescente... lembrei-me de Acácio de Paiva.

    VIM AGORA MESMO DE LEIRIA

    (...)
    Fui também à capela da Senhora
    Da Encarnação, e vi pertinho os montes
    Que o sol ao levantar-se logo doura
    Para no sítio a que lá chamam Fontes
    Abençoar o rio em sua origem:
    E, entretanto, vi milagres às centenas
    Em promessa à Virgem.
    A demonstrar o fim de muitas penas,
    Menos das minhas, porque então, por mais
    Que prometesse e me apegasse às santas,
    Confiado em seus dons celestiais,
    Outra menina (foram tantas, tantas!)
    Me desprezou, cruel e desdenhosa,
    Insensível às velas e aos painéis,
    Porque aos meus versos preferia a prosa
    De cem contos de reis…
    E mais vi… Mas não devo adiantar-me,
    Pois esta referência em baixo estilo
    É uma espécie de sinal de alarme
    A dizer que se avanço descarrilo.
    Desta vez, como devem ter notado,
    Deu-me para o lirismo. Bem, se tento,
    Porém, ser engraçado,
    O efeito que tirei do sentimento,
    Das belezas, enfim, que descrevi,
    Desfaz-se como fumo pela altura.
    Nada!… É melhor parar aqui,
    Nada! nada! É melhor parar aqui,
    Não se borre o diabo da pintura…

    Acácio de Paiva
    (Tinha voltado para Lisboa)


    @as-nunes

    2013/09/07

    Acácio de Paiva: lançamento do livro "Falando de Acácio de Paiva"

    Para já é a reportagem possível. Graças ao meu amigo Rui Pascoal.

    Na mesa, da esquerda para a direita:
    Adélio Amaro (Ed. Folheto), Orlando Cardoso (apresentação do livro), Laura Esperança (responsável pela edição enquanto Presidente da Junta de Freguesia de Leiria), António Nunes (autor) e Arménio Vasconcelos (escreveu o Prefácio e contou-nos um conto que se estava a passar na realidade... cena surreal de momentos inolvidáveis da vida).
    (foto de Rui Pascoal)
    Arménio Vasconcelos no uso da palavra
    foto de Rui Pascoal
    Parte da assistência. Vê-se Joaquim Vieira, Alda Sales, Zaida Paiva Nunes...  
    (Foto cedida gentilmente por Carlos Fernandes)

    Zaida Paiva Nunes a dizer um poema de Acácio de Paiva
    foto de Rui Pascoal


    O autor a escrever uma dedicatória a Isabel Soares. 
    Esta foto, penso que foi tirada pela Odília Cardoso...
    (esta foto também é de Rui Pascoal)

    ---
     Isabel Soares a declamar
    foto de Rui Pascoal
     José Vaz a declamar
    foto de Rui Pascoal

    Paulo Costa, à direita, e o seus amigos num momento musical muito apreciado...

    (Fotos de Rui Pascoal e retiradas do Facebook de Isabel Soares)
    ---
    Ler poema dito em jeito de saudação à neta de Acácio de Paiva, Constança, presente na sessão de lançamento do livro:
    http://dentrodetioleiria.blogspot.pt/2013/09/falando-de-acacio-de-paiva-lancamento.html
    ---
    Palavras proferidas pelo autor, no decorrer da sessão de apresentação do livro 
    https://docs.google.com/file/d/0BxQSPO7qWKkbclNDRHZZR0l1alk/edit?usp=sharing

    2013/09/03

    Um momento a olhar o mar!



    o mar à minha frente
    às vezes revolto
    a bater nas pedras 
    vaga após vaga

    eu a olhá-lo
    com saudade
    com ternura
    zangado...também

    Pedrógão, 1º de Setembro, 2013

    @as-nunes 

    2013/08/30

    interlúdio musical ...



    Cavalo à solta
    Mafalda Arnaulth
    -
    Aproveitando este cavalo à solta vou, temporariamente (espero...), voltar aos primeiros lustros do século XX...
    Daqui a oito dias talvez esteja de volta...
    -

    2013/08/25

    Elogios a S. Pedro de Moel por Acácio de Paiva

    Farol e Penedo da Saudade em S. Pedro de Moel.

    Sábado próximo passado 
    (ou simplesmente, ontem), 
    desde o terraço do hotel SoleMar, 
    em S. Pedro de Moel
    a partilhar 
    as emoções 
    de um casamento muito particular...
    -
    Acácio de Paiva não se cansou de cantar, nos seus poemas, esta bela zona do litoral leiriense...
    Lá ia todos os anos visitar o seu grande amigo Afonso Lopes Vieira;

    (...)
    E mais vereis ainda;
    Por sobre o mar, numa vivenda linda,
          Mora o Lopes Vieira,
    o poeta mais poeta do país,
    (...)

    Quem passar por Leiria,

    A amada de Dinis e de Isabel,
    Não deixe de fazer a romaria
    À praia de S. Pedro de Moel
           E ali, de visitar
    (Por isso romaria a denomino)
    Lopes Vieira, o poeta peregrino
           Do pinhal e do mar.
    (...)
    Um poeta? Que digo?! Toda a gente,
    Todos os noivos, todo o Portugal
    Pois tudo em Portugal palpita e sente
    Como os pobres poetas afinal.
    (...)
    Ora em fúria e rugidos de ameaça,
    Esmagando quem nele confiar,
    Pela inveja, de raça contra raça,
    Que sempre dividiu a terra e o mar,
    E então S. Pedro de Moel abraça
    O mar e a terra, ajunta, concilia
    Põe lágrimas das ondas na caruma
    Do pinhal de Leiria
    E este as ondas, benéfico, perfuma,
    De modo que das Águas de Madeiros
    Até junto do Penedo da Saudade
    Antes, como excelentes companheiros,
    Assinaram contrato de amizade.
    (...)

    Acácio de Paiva
    1863-1944
    - pp 83-86, Acácio de Paiva, Insigne Poeta Leiriense, CML 1988

    @as-nunes 

    2013/08/23

    Falando de ACÁCIO de PAIVA: uma pedrada na memória silenciosa?


    Acácio de Paiva, nasceu em Leiria, no dia 14 de Abril de 1863. Foi um brilhante poeta (Altíssimo Lírico e o maior Humorista da Poesia Portuguesa), jornalista (chegou a ser Diretor de «O Século Ilustrado» e de «O Século Cómico» no decorrer das duas primeiras décadas do séc. XX) e, como Dramaturgo, escreveu várias peças para o Teatro de Revista dessa época áurea das letras e das artes portuguesas.

    O livro, cuja capa se mostra acima, vai ser apresentado no dia 6 de Setembro pelas 21:00h, na sala "Celeiro" da Fundação da Caixa Agrícola de Leiria, pelo Dr. Orlando Cardoso, brilhante escritor, Diretor que foi do Jornal de Leiria, jornalista conceituado, emérito investigador da história Leiriense (particularmente a ligada às letras), poeta inspirado e de méritos reconhecidos, professor, etc. 
    Entretanto, o meu ilustre e muito estimado amigo, Dr. Arménio de Vasconcelos (*), autor do Prefácio, fará também uma dissertação sobre Acácio de Paiva e o historial da aventura (da qual ele próprio é uma das personagens de relevo) do autor, ao se ter abalançado a esta temeridade, que é «falar de Acácio de Paiva», das suas múltiplas facetas literárias e das muitas personalidades do mundo das artes, das letras e da política que foram seus companheiros de tertúlia...
    O Dr. Paulo Costa, psicólogo do hospital de Leiria, brilhante poeta, amigo e companheiro de Tertúlia dos Serões Literários das Cortes, também se prontificou a colaborar com um arranjo musical sob temas poéticos ao estilo de Acácio de Paiva.



    Numa das badanas deste livro o autor considerou ser muito relevante e útil transcrever a apologia de Acácio de Paiva que outro conceituado representante das letras e da cultura nacionais, a quem Leiria muito deve, lhe escreveu, nos idos anos de 1968. Trata-se do Dr. Américo Cortez Pinto.

    É, também, da maior justiça, relevar que esta publicação só foi possível, graças ao apoio editorial da Junta de Freguesia de Leiria, cujo estímulo foi determinante para o autor se impor a si próprio como que um dever e uma obrigação moral de coligir toda a informação esparsa sobre a vida e obra de Acácio de Paiva, de modo a que este trabalho pudesse ser tornado público ainda no decorrer deste ano de 2013, precisamente o ano em que se comemoram os 150 anos do seu nascimento. Pode dizer-se, muito sinceramente, que os inevitáveis caprichos do Tempo e «de espaço», também poderão ter aqui o seu quinhão de responsabilidade por algumas lacunas que possam vir a ser encontradas. De qualquer modo, o autor, assume-se, desde já, em qualquer circunstância, o principal responsável pela escolha  do método de abordagem da estrutura do presente livro e do seu conteúdo, por muito incompleto que ele se possa apresentar. 

    Pelos aludidos caprichos do Tempo, este é um ano de eleições autárquicas em que, administrativamente, a Freguesia de Leiria vai passar a integrar (em pé de igualdade com Pousos, Barreira e Cortes, assim terá de ser) uma «União de freguesias». Mas esse facto jamais poderá ser evocado para justificar qualquer alegada hierarquização de valores nem sequer de preferência pessoal.
    -
    (*) Pode ler-se do seu vastíssimo currículo consultando este endereço: http://armenio-vasconcelos.blogspot.pt/

    @as-nunes 

    Onde está a capela das Chãs?!

     Em 23 de Maio de 2013 tirei estas fotografias...  para memória futura. 
    Imediatamente a seguir ao alcatrão, à frente desta capela/salão paroquial, existia uma igreja centenária que foi demolida, pura e simplesmente, não importando a preservação do património religioso e cultural. 
    Além do mais, aprecie-se o ambiente místico e sereno que rodeava a antiga Igreja das Chãs - Regueira de Pontes - Leiria. (ver os registos aqui publicados a este propósito).


    2013/08/21

    The cat and the Moon



    Esta Lua é portuguesa mas o gato do poema viveu no princípio do século passado e, muito provavelmente, era Irlandês.

    THE CAT AND THE MOON                            O Gato e a Lua


    HE cat went here and there
    And the moon spun round like a top,
    And the nearest kin of the moon,
    The creeping cat, looked up.

    Black Minnaloushe stared at the moon,
    For, wander and wail as he would,
    The pure cold light in the sky
    Troubled his animal blood.
    Minnaloushe runs in the grass
    Lifting his delicate feet.
    Do you dance, Minnaloushe, do you dance?
    When two close kindred meet,
    What better than call a dance?
    Maybe the moon may learn,
    Tired of that courtly fashion,
    A new dance turn.
    Minnaloushe creeps through the grass
    From moonlit place to place,
    The sacred moon overhead
    Has taken a new phase.
    Does Minnaloushe know that his pupils
    Will pass from change to change,
    And that from round to crescent,
    From crescent to round they range?
    Minnaloushe creeps through the grass
    Alone, important and wise,
    And lifts to the changing moon
    His changing eyes.


    W. B. Yeats (1865-1939)

    O gato passeava aqui, ali,
    E a lua girava qual pião,
    E, parente próximo da lua,
    Furtivamente, o gato olhava o céu.

    O negro Minnaloushe olhava, fixo, a lua
    Pois, embora miasse vagueando,
    O seu sangue animal e agitado
    Pela luz pura e fria lá no céu.
    Minnaloushe corre pela erva,
    Erguendo as patas muito delicadas.
    Danças, acaso, Minnaloushe, danças?
    Quando parentes próximos se encontram
    Há lá coisa melhor do que dançar.
    Talvez a lua consiga aprender,
    Enfastiada desse tom cortês,
    Novo passo de dança.
    Minnaloushe desliza pela erva
    De um outro lugar enluarado,
    E a lua sagrada e elevada
    Entrou agora numa nova fase.
    Saberá ele que as suas pupilas
    Passarão de mudança em mudança,
    E que de fases cheias a crescentes,
    De crescentes a cheias mudarão?
    Minnaloushe desliza pela erva,
    Importante, sábio e solitário,
    E levanta para a lua mutante
    Os olhos em mudança.

    W. B. Yeats
    (Prémio Nobel da Literatura)

    Espalhei meus sonhos aos seus pés. Caminhe devagar, pois você estará pisando neles. (William Butler Yeats)

    @as-nunes 

    2013/08/19

    Quase lua cheia

    em dia mundial da fotografia

    Ontem  
    Centro Oeste de Portugal

    Nikon 18-105mm D3200
    Distância focal: 105 mm
    exposição: 1/60
    f/5.6
    ISO 3200
    captura sem suporte fixo

    @as-nunes

    2013/08/16

    VOTAR em PANTOMINEIROS? NÃO, NÃO, NÃO! ...




    Neste dia, estive a observar a tática da aranha a caçar: constrói meitulosamente, a teia, estratégica e dissimuladamente, num local que já sabe vai ser passagem obrigatória do maior número possível de insetos;
    uma abelha ficou presa na teia invisível;
    implacavelmente, a aranha envolveu a abelha, ainda viva, nos seus fios e amarrou-a completamente, até a boca lhe tapou, bem vi. Foi o preciso momento em que a abelha deixou de zumbir...

    Ou seja, o toque final é o tapar a boca da abelha. A partir daí, a aranha tirou uns momentos de "férias" e voltou com toda a gana para sugar todo o invólucro em que a abelha ficou transformada...

    E ainda estamos em Agosto!...

    ---

    Guerra Junqueiro escrevia, no séc. XIX

    (...)


    Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. 

    (...)

    Votar nestes pantomineiros?
    NÃO.

    @as-nunes

    2013/08/11

    Ao povo

    (mesmo aqui em frente, um vizinho, profissional de construção civil, teve de emigrar para a América Central. Já lá vai mais de um ano... 
    Férias?
    Quais férias?!...)

    -

    Ao Povo

    Tem-se a impressão que os portugueses
    precisam de emigrar para desenvolverem
    todos os recursos da sua nativa e la-
    tente capacidade. Porquê? Porque na sua 
    terra a casta de políticos, «a mais vil
    de todas as castas», como diz Paul 
    Adam, predomina; absorve as energias
    nacionais, na mísera ambição e na re-
    les intriga de partidos; revoluciona; re-
    volve até os seus mais profundos alicer-
    ces, o equilíbrio social; perturba e enxo-
    valha a serenidade da aplicação e do 
    trabalho...
    ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... 

    RAMALHO ORTIGÃO

    2013/08/07

    É ASSIM

    Um dia destes, no aeroporto de S. Miguel - Açores


    É ASSIM

    É assim:
    a gente despede-se, vai-se
    embora amaldiçoando a terra,
    carrega amargura que nem o diabo
    aguenta; com o tempo vai
    esquecendo injustiças, mágoas,
    injúrias, morrendo por regressar
    ao cheiro da palha seca, ao calor
    animal do estábulo,
    ao sonho do quintalório
    com três alqueires de milho ao sol
    e dois pinheiros bravos -
    porque não há no mundo
    outro lugar onde
    enfim dê tanto gosto chafurdar.

    Eugénio de Andrade
    p. 613
    Poesia
    Ed. e livreiros - Modo de ler, 2010?

    @as-nunes