Enviei-lhe, agora mesmo, um e-mail em que lhe propunha que me autorizasses a publicação da fotografia da Ponte D. Luís/Douro/Porto-Gaia/Portugal e o poema que a acompanhava. Não fiquei com cópia. Pode mandar-me uma cópia desse e-mail? Na falta de resposta, vou permitir-me fazer aquela transcrição no meu blog: http://dispersamente.blogspot.com
As sensações, emoções e sentimentos, exaltados ao extremo, que me assaltaram após a leitura do poema e da visão daquela ponte, deixaram-me completamente aturdido. Posso acrescentar - penso que pela primeira vez digo isto em público - que um dia (podia ter sido fatídico para mim...pelo menos), 16/17 anos, vivia eu momentos de grande depressão, era estudante, não tinha dinheiro(*), vivia sozinho e longe da família (imaginem aquela época, viagens à boleia, demoradas e infernais, estradas estreitas, orladas por árvores identificadas com uma risca pintada a branco no tronco e semeadas de curvas diabólicas e mortíferas, ligação Viseu-Porto passando por S. Pedro do Sul, Albergaria-a-Velha, ao longo do Rio Vouga, S. João da Madeira, etc ), foi por um rebate in-extremis que resisti àquela tentação mórbida, solução definitiva, visionada momentaneamente, daquela ponte abaixo. Atravessava diariamente, a pé, a ponte D. Luís, entre um quarto arrendado em Gaia e a Rua de Entreparedes, à Batalha, Instituto Comercial do Porto (depois ISCAP, agora?).
Lembra-se do "Duque da Ribeira"? Era assim por que ele era conhecido, não era? Aquele velho barqueiro que tantos corpos retirou já sem vida das águas do Douro e muitas outras, também, resgatou das ânsias da morte por afogamento.
Passaram-se, entretanto, 43 anos. Acabei o curso, sou casado, tenho dois filhos e dois netos e vivo em harmonia comigo mesmo e em família. Em Leiria.
Um abraço.
António
(*) Tenho que expressar aqui, agora, o meu reconhecimento para toda a vida, à "Fundação Calouste Gulbenkian", da qual passei a receber, a partir do 2º ano do meu curso, uma Bolsa de estudos (tive média final do 1º ano justificativa). A primeira minha extravagância com o dinheiro da primeira mesada dessa bolsa: comprei uma camisa "Regojo Splendesto" numa loja na Batalha, uma camisa de "fazer inveja" e de que estava necessitado. Que tempos aqueles!...
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Caro Luís Cunha:
Fatalmente teria que acontecer. Redescobri-o através do seu blog "BUFAGATO"
Espero que tenha lido o comentário que lhe deixei e/ou tenha recebido um e-mail, com outro texto, mas complementar a este, que está agora e aqui, publicado.
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Poema da minha autoria, publicado na edição de hoje, 2006-05-28, no Jornal de Notícias, na secção do Leitor, P. 29, com foto da ponte e do metropolitano.
Poema da minha autoria, publicado na edição de hoje, 2006-05-28, no Jornal de Notícias, na secção do Leitor, P. 29, com foto da ponte e do metropolitano.
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(A Rainha do Douro)
D. Luís a Ponte
De ti morreram-me saudades
Estás bela, remoçada na maquilhagem
Novo curso, te destinaram
Deixas de ser ponto de passagem
Dos veículos que te cruzaram
De ti morreram-me saudades
Estás bela, remoçada na maquilhagem
Novo curso, te destinaram
Deixas de ser ponto de passagem
Dos veículos que te cruzaram
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Apenas peões e metro ligam as margens
Tens rosto prazenteiro leve na aragem
Do batom soalheiro a cobrir a ramagem
És o Porto inteiro na hora das coragens
Apenas peões e metro ligam as margens
Tens rosto prazenteiro leve na aragem
Do batom soalheiro a cobrir a ramagem
És o Porto inteiro na hora das coragens
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Velhos como os séculos, são os trapos
Porque remoçada, és mesmo linda
Pois percorrem-te a pé ainda
Na motivação citadina dos factos
Velhos como os séculos, são os trapos
Porque remoçada, és mesmo linda
Pois percorrem-te a pé ainda
Na motivação citadina dos factos
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E com desvelo te veneram
Acariciam o ferro de teu arco
Debruçados, o Douro avistam
Na travessia de cada barco
E com desvelo te veneram
Acariciam o ferro de teu arco
Debruçados, o Douro avistam
Na travessia de cada barco
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És do Douro a rainha
Ponte sublime e cuidada
Os tripeiros chamam-te sua
Quando há festa na rua
Nos festejos és folgada
Nessa festa também minha
© Luís Monteiro da Cunha
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asn
És do Douro a rainha
Ponte sublime e cuidada
Os tripeiros chamam-te sua
Quando há festa na rua
Nos festejos és folgada
Nessa festa também minha
© Luís Monteiro da Cunha
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asn
2 comentários:
Caro amigo... o meu poema e a minha imagem é toda sua
Até me arrepiei ao ler este post
Infelizmente o tempo de que disponho para ler a correspondência é mesmo escasso e só agora li o seu mail, o qual me trouxe até aqui...
Do que descreve, denoto, que apesar de tudo: a depressão, a escassez de dinheiro, a ausência familiar...teve o caro amigo ( e em boa hora) a lucidez de não aceitar a solução fácil que se atreveu a conjecturar espiritualmente.
É certo, que quem atravessa diáriamente uma ponte com o simbolismo que a Ponte de D. Luís tem... e quem se atreve a parar no meio dela e olhar de frente aquele rio... sente, invariávelmente, um frémito a percorrer a espinha... uma ânsia indómita de ganhar asas e voar... ganhar a liberdade que parece nunca mais chegar, apesar de tão propalada nos dias de hoje.
Sim... meu amigo, já estive nessa sensação de vácuo... nessa (in)decisão de segundos que nos atrai para a beleza mórbida do inalcançável e que naquele momento parece estar apenas à distância de um passo atraente...
E se hoje nos comunicamos, é porque soubemos discernir que apesar da beleza atraente daquele momento, ainda não era a hora certa... outras fronteiras clamavam por nós para desbravarmos outros caminhos ou desígnios que na altura nos pareciam torpes e insolucionáveis...
=Obrigado=
É apenas o que me ocorre dizer neste momento
Pela coragem...
E pelo homem que, adivinho, é hoje.
Meu abraço
Luís Monteiro da Cunha
Amigo Luis
OBRIGADO sou eu pelas palavras que escreveu e que complementaram com maestria aquilo que publiquei no meu post.
Depois de ter saído a pré-edição do meu texto ainda pensei em, pura e simplesmente, alterá-lo e continuar a esconder aquele terrível momento.
Mas, não há dúvida, penso eu, que alguns desabafos fazem-nos bem e até podem ajudar outras pessoas, quem sabe? Claro que se corre o risco da exposição pública de alguma da nossa intimidade. De qualquer modo, quando vimos para a Internet, abrimos um blog e começamos a escrever não é só para acrescentar mais umas palavras ao que já anda por aí publicado.
Se pudermos ser úteis, um bocadinho que seja, já nos devemos sentir satisfeitos.
Também não sou apologista de escrever para guardar no fundo do baú das nossas recordações ou do diário secreto da nossa imaginação.
...
Até sempre Luís
Um grande abraço.
António
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