A COBRA
Eu começara a ganhar raízes pelas barreiras. Ia aprendendo a conhecer os répteis pelo rumor. Quando o sol apertava, uma cobra azul, não, verde, não, azul, aproximava-se, os olhos cor de basalto. Ficava por ali a olhar-me, eu a olhá-la. Fascinados. Um dia não sei que me deu, corri atrás dela, entrou num buraco de silvas, ainda lhe acertei com a pedra, por momentos a cauda agitou-se crispada em convulsões, depois desapareceu, talvez lhe tivesse quebrado a espinha, nunca mais a vi. Era azul. Verde. Um braço de sol.
EUGÉNIO DE ANDRADE
In "Com o sol em cada sílaba"
colecção pequeno formato
com uma fotografia do autor por Dario Gonçalves
Ed. ASA - Outubro de 2001 ---
A propósito de uma estória vivida cá em casa, num recanto do jardim, do outro lado do muro um grande silvado, uma ninhada de gatos (um dos quais desapareceu há umas semanas atrás (!)), a nossa cadela Lala a ladrar furiosamente, uma cobra de grandes dimensões, de que tipo seria?, seria venenosa? No final da contenda, chegámos à conclusão que estava, quando foi surpreendida, a digerir um enorme sapo (digamos que do tamanho de um gatito com poucas semanas).
Este episódio trágico despertou a minha curiosidade. Vou estudar sobre as cobras em Portugal...
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