2006/11/24

Centenário de um grande poeta - ANTÓNIO GEDEÃO

Rómulo Vasco da Gama Carvalho, o nosso António Gedeão, nasceu em Lisboa em 24 de Novembro de 1906 e morreu também em Lisboa em 19 de Fevereiro de 1997.
Escreveu os seus primeiros versos com 5 anos de idade:
"Era uma vez um menino
Que não era nada feio
O que tinha de extraordinário
Era um feitiço no meio"


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Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? Sâo moinhos.
Vê gigantes? Sâo gigantes.

António Gedeão

4 comentários:

Anónimo disse...

Desejos de bom fim de semana

Anónimo disse...

O meu poeta preferido, sei de cor e fico comovido com imensos poemas deste grande homem da Ciência, da Cultura, do magistério, etc. Lamento é ser hoje tudo a correr pois estou retirado numa serrania do Alto Minho para passar umas férias e aqui a Internet é quase a petróleo, mas voltarei, até pelo António Gedeão. Foi grande opção, a pedir bis para o próxomo fim-de-semana...

Menina Marota disse...

Um dos meus Poetas favoritos!
Deixo-lhe aqui um dos Poemas de que mais gosto (para além de mais uma dezena...)

"(Chega à boca de cena e diz)"

"Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém

Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci

Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr

Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada

Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham

Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu

Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar

(António Gedeão in Teatro do Mundo, 1958)

Um abraço e grata pela partilha

a d´almeida nunes disse...

Sem dúvida, um grande poema.
Quantas recordações dos tempos românticos dos ideais de Abril de 74!
António Gedeão ficará para sempre connosco em toda a sua vasta obra e, particularmente, com a sua poesia de um alcance incomensurável.
Obrigado Menina_marota por mais esta colaboração. Nunca é demais lembrar e escrever os poemas que fazem a história da literatura e aprofundam as raízes do nosso pensamento!