2006/11/01

A tradição já não é o que era...

Dia 1 de Novembro, dia de Todos os Santos.
Recordam-se hoje todos os Santos que não têm dia próprio. Por isso o ser dia Santificado e feriado em todo o mundo católico.
Manda a tradição que também hoje seja o "dia do bolinho" ou "dia do Pão-por-Deus". Mandava a tradição também que grupos de crianças, munidas de sacas feitas de retalhos, se deslocassem de casa em casa a pedir o "bolinho". Com ditos bem engraçados para o pedir, para o agradecer. E outros bem mais "picantes" para quem não dava nada...
Mas a tradição já não é o que era! As crianças andam de saco de plástico, o "bolinho" de preferência deve ser substituído por dinheiro...E como a educação também já não é o que era até a tradicional frase "Oh tia, dá bolinho?" foi substituída só por "Dá bolinho?" (O "tia" fica no saco de plástico...)
E como a tradição já não é o que era, muitos se esquecem que hoje é dia de Todos os Santos e que só amanhã, dia 2 de Novembro, é que será dia de finados. Dia em que, por tradição, se recordam os entes queridos já falecidos.
E a tradição passou a ser o dia 1 de Novembro de "peregrinação" aos cemitérios.
Detesto os nossos cemitérios. São deprimentes! Já que o Homem insiste no culto aos mortos, porquê não transformar aqueles lugares em lindos jardins? Os mortos já nada sentem e os vivos sentir-se-iam muito melhor, física e espiritualmente, para recordar os seus queridos. Afinal a tradição já não é o que era. Ou será?
E porque é tradição, lá me calhou a mim ir ao cemitério, carregada de flores para oferecer a "ninguém" e das minhas recordações que nunca morrerão, seja a tradição o que fôr
Sonho
Sonhei que era uma borboleta
Uma suave e airosa borboleta
E que esvoaçava feliz
Por entre as flores do meu jardim.
E no meu voo
Deixei-me ir mais longe
Juntei o azul das minhas asas
Ao azul do céu sem fim.
Cruzei-me com as andorinhas
Passei as fofas nuvens de algodão
E quando reparei
Eu era eu e não a borboleta.
Então, num halo de luz
Avistei-vos.
Eras tu, Paizinho
Eras tu, querida Avó
Eras tu, Zézinho.
Juntei-me a vós
E juntos, rimos, dançámos
Abraçámo-nos.
Mas, de repente, foi o vazio
Achei-me sozinha…
Já nem borboleta era!
Acordara.
Afinal, tinha sido só um sonho!
E agora acordada, sonho.
Sonho que um dia, na realidade,
Serei borboleta de verdade
E voarei convosco
Para toda a Eternidade.

Zaida

(In "Pedaços de Mim" - Ed Folheto 2005 - col. 25 Poemas-XIII)

(Post produzido na íntegra por Zaida)

8 comentários:

Tozé Franco disse...

Mais uma belíssima prosa e um belo poema.
Também eu spu um acérrimo defensor das nossas tradições e os bolinhos e bolinhós foi mais uma que se perdeu para o dia das bruxas importados dos states. Até a escola promove esta festa por causa do inglês esquecendo a nossa tradição e um povo sem história é um povo sem futuro.

a d´almeida nunes disse...

Claro Tozé. Estas tretas da globalização a qualquer preço vai-nos ficar cara, não tenho dúvidas.

Terceirense disse...

Caro António...
Estava para escrever um artigo alusivo ao dia de Todos os Santos e deparei-me com o seu comentário. Depois vim aqui retribuir e agradecer e, ainda, dizer-lhe que emocionei-me tanto com os dois - comentário e artigo.
Por isso escuso de escrever seja o que for porque está aqui tudo e assim vou colocar um destaque chamando a atenção para o texto e o poema que são belíssimos.
Um abraço e ainda bem que o ajudei a matar saudades da Baía de Angra.

Anónimo disse...

Muitos parabéns por este post. Realmente é o que se passa, não podia ter feito melhor retrato!

Al Cardoso disse...

Concordo plenamente com a deprimencia dos nossos cemiterios.
Tambem gostava muito mais, de ve-los cheios de relva e flores.
Infelizmente nao vou poder fazer uma visita a um cemiterio, que recentemente recolheu um meu muito querido.
Daqui de tao longe mando-lhe um ramo de flores, numa oracao sentida.

Adriana Roos disse...

Aqui não temos esta tradição dos bolinhos, nem tao pouco foi feriado ontem 1/11, mas o é hoje, e como sempre, emenda-se a sexta e amanhã tambem folgaremos todos ou quase...

Não tenho mortos para visitar aqui, meus entes queridos estao em cidades distantes.

Gostava de ir aos cemitérios e ver fotos e datas quando era adolescente, mas agora ja não vou mais.
Temos aqui, até por falta de espaço cemitérios como jardins gramados e apenas uma placa com o nome do morto. São como campos abertos. Não sei se prefiro assim, parecem muito impessoais.

Anónimo disse...

Passei para apresentar as minhas
saudações Benfiquistas, gostei do
Tema. Uma vivência. Ontem. Dia 1/11
POSITIVO/NEGATIVO
Na minha Terra mantem-se a tradição.
È uma Praia, mas sabe defender-se de influências externas.
O que me surpreende pela positiva.
O negativismo, emerge dos meus conterrâneos, pais, avós, meus familiares alguns, outros amigos.
Olhava com simpatia, as crianças em grupos, saltitando contentes, imitando as minhas Gaivotas, em bailados esvoaçantes,no céu anil da minha Praia, mas...
Reparando melhor, noto, que estão vestidas do mesmo modo, as mesmas cores, o mesmo estilo.tudo igual.
Que raio de moda, é á Floribella,
disse-me uma sobrinha, neta de uma
Irmã, 9 anitos. Não a quis magoar, não lhe quis dizer, que para mim, não era á Floribella, mas sim á Mocidade Mediática, Florida. Todos Iguais, todos Banais.
Maldita sociedade de consumo.
poetaeusou(cota)

Chanesco disse...

Caro Antonio

A nossa tradição tende a cair no esquecimento substituida pelas americanices consumistas tipo Halloween, que parece já ter pegado de moda a cada dia 31 de outubro, logo aquele que é o dia mundial da poupança.

Um abraço aqui da raia.