“Às vezes nestes Natais modernos, com tão poucas lareiras e tão pouco mistério, dou por mim a desejar que algum dos meus netos sinta o esvoaçar da camisinha azul e ganhe para toda a vida a força poética da imaginação.” Rosa Lobato de Faria in “Os Linhos da Avó”
Com que saudades recordo o Natal da minha meninice. O encantamento e a magia andavam no ar. Não havia luzes pelas ruas. Não havia árvores de Natal. Festejava-se o nascimento do Menino Jesus e era Ele que descia pela chaminé e nos deixava, no sapatinho, os presentes tão desejados. Que noite comprida a de 24 de Dezembro! Com que ansiedade esperávamos pelo alvorecer do dia 25! Teria o Menino Jesus escutado os nossos pedidos?
E o cheirinho a filhós e rabanadas fritas pela noite dentro! Que delícia! E o cabrito, o peru… e até o bacalhau parecia muito mais apetitoso pelo Natal!
E era o irmos apanhar o musgo e a construção do presépio. Lindo e todos os anos diferente. Mas sempre, em primeiro plano, a gruta com o Menino Jesus. Afinal era o Seu nascimento que se festejava.
E era a visita ao Convento dos Franciscanos para podermos ver o maravilhoso presépio articulado. Bastava colocar uma moeda e tudo ganhava vida.
Depois importámos o Pai Natal! Simpático velhinho, mas sem a magia do nosso Menino Jesus. Bem que tentei, com os meus filhos, conjugar a magia dos dois: o Pai Natal passou a ser o ajudante do Menino Jesus e vinha deixar um saco com os presentes à porta de casa. Só o mais velho da família, então o meu pai, o podia ver e falar-lhe. O maravilhoso que via nos olhos dos meus filhos e sobrinhos era fantástico!
E começámos a construir também a árvore de Natal, para além do presépio.
Entretanto chegaram os netos. Mas estes Natais modernos pouco ou nada têm de magia e mistério. Pouco têm até de espírito natalício!
Mas mesmo assim continuo a tentar que o mistério não desapareça. Lá vou telefonando ao Pai Natal, que já tem telemóvel, claro… E é também pelo telefone que ele me avisa que vai chegar e que os meninos se têm que retirar da sala para que lá sejam colocados os presentes. E, se bem que não acreditem a 100% nas minhas estórias, o certo é que a incerteza e a ansiedade ainda os dominam. A eles e a mim.
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É Natal
E para aqueles que crêem,
E para os outros também,
Começa e febre das prendas
P’ra todos e p’ra ninguém.
Compram-se prendas pròs filhos
Pròs amigos e prà mãe.
Compram-se até presentinhos
Para os bichinhos também.
É Natal
E por aqueles que crêem,
E pelos outros também,
São espalhadas muitas luzes
Para que lembrem Belém.
Brilham luzes pelas ruas,
Brilham nas lojas, nos lares;
Há mil árvores de Natal,
Músicas se ouvem nos ares.
Mas no coração dos homens,
Apesar de ser Natal,
Dos que crêem e dos outros,
Em vez o bem reina o mal.
Era bom que todos eles,
Acreditem em Deus ou não,
Deixassem que tanta luz
Lhes entrasse no coração.
E se assim fosse, quem sabe?
Houvesse paz afinal.
E teríamos, então, na Terra
O verdadeiro Natal.
Zaida
Itália, 1949. A. Giannetti - Centro Bíblico dos Capuchinhos (Fátima)
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“Dia de Natal
Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
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Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade,
Glória a Deus nas Alturas.”
António Gedeão